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Sacerdotes denunciam intolerância religiosa de policiais nas buscas por Lázaro

O pai de santo André Vicente de Souza registrou um boletim de ocorrência após ação violenta da polícia; Comissão dos Direitos Humanos pede apuração sobre o caso

Texto: Redação | Imagem: Reprodução/CB

A imagem mostra o sacerdote de candomblé André, em frente ao terreiro dirigido por ele

A imagem mostra o sacerdote de candomblé André, em frente ao terreiro dirigido por ele

22 de junho de 2021

Líderes de religiões de matriz africana denunciam atos de intolerância religiosa por parte de policiais militares em seus terreiros. As ações, registradas em Águas Lindas de Goiás, Girassol e Edilândia, todas no estado de Goiás, são motivadas pela procura do fugitivo Lázaro Barbosa, de 32 anos, apontado como principal suspeito do assassinato da família Marques Vidal, em 9 de junho.

Na última sexta-feira (18), o sacerdote de candomblé André Vicente de Souza, 81 anos, registrou um boletim de ocorrência após seu terreiro ser invadido duas vezes em uma semana. Em um vídeo que circula no Twitter, o pai de santo afirma que a ação policial foi violenta e que o caseiro que reside no local foi agredido pelos policiais. O religioso ressalta que o terreiro não tem nenhuma ligação com o foragido.

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Itens relacionados à religiões de matriz africana e divulgados como pertencentes ao foragido Lázaro Barbosa | Créditos: Divulgação/Polícia Civil-GOItens relacionados à religiões de matriz africana e divulgados como pertencentes ao foragido Lázaro Barbosa | Foto: Divulgação/Polícia Civil-GO

A intolerância religiosa, de acordo com Pai André, provém das imagens de símbolos religiosos divulgadas pela polícia e repercutidas pela imprensa como se fossem da casa de Lázaro. No entanto, o sacerdote afirma que essas imagens são, na verdade, do Ilê comandado por ele. Além de agressões físicas e verbais, os policiais são acusados de quebrar objetos considerados sagrados. 

“Eles já chegaram com agressão e palavras. Eu disse ‘eu já tenho idade para ser avô de vocês’. E eles gritando ‘cala a boca’, dizendo que ‘vai apanhar’ e que quem ‘fala demais’. Não sei bem a expressão”, relata o pai de santo, em entrevista ao Correio Braziliense. O caseiro Vicente de Souza, de 80 anos, foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo e delito.

Leia também: ‘Obra cataloga termos utilizados em cultos de religiões afro-brasileiras’

Intolerância religiosa e repercussão

De acordo com o líder do candomblé de Angola Tata Ngunzetala, desde o início da caçada ao fugitivo Lázaro, diversos terreiros da região adjacente a qual ele está escondido foram invadidos pela polícia, motivados por intolerância religiosa. Tata informa ainda que mais de 10 casas foram abordadas ostensivamente, inclusive com arrombamentos e tentativas de invasão.

A sacerdotisa Isabel Cristina Moreira lidera a casa Ilê Asé Olona, no distrito de Girassol, Cocalzinho (GO), há pouco mais de um ano. Ela destaca que, ao contrário do que se imaginaria, os praticantes de religiões de matriz africana da região atualmente convivem com dois medos diante desta situação: de Lázaro poder invadir a casa de axé e da intolerância religiosa praticada pela polícia.

Segundo relatos de Isabel, o Ilê Asé Olona foi invadido pelos policiais quatro vezes desde que Lázaro está foragido. Mesmo após as invasões, a mãe de santo preferiu não abrir um boletim de ocorrência para denunciar os policiais.

Em seu perfil no Twitter, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Fábio Félix (PSOL), se posicionou sobre o caso. “É inaceitável que tentem vincular o comportamento criminoso de Lázaro às religiões de matriz Africana. Temos denunciado essa intolerância religiosa e vamos pedir a apuração dessas condutas!”, disse.

Para repercutir as informações sobre a invasão policial nos terreiros e intolerância religiosa relatada pelos sacerdotes de candomblé, a Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO). O órgão não deu nenhum retorno até o momento desta publicação. Caso respondam, o texto será atualizado.

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