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‘Se Jesus nascesse hoje, seria novamente criminalizado e levado à morte’, diz teólogo

Teólogo e cientista da religiosidade explica a semelhança entre a violência estrutural do período do nascimento de Jesus e dos dias atuais

25 de dezembro de 2019

No dia 25 de dezembro, bilhões de pessoas em todo o mundo comemoram o feriado de Natal. A data representa o nascimento de Jesus Cristo. O momento é especial para os religiosos que acreditam na divindade e nas palavras de Jesus, nascido em Nazaré e crucificado pelo Império Romano.

Se o nascimento de Jesus fosse hoje, o contexto da sua morte não seria diferente. É o que destaca João Luiz Moura, o teólogo, coordenador de projetos no Instituto Vladimir Herzog, e organizador do livro “Jesus e os Direitos Humanos”. “Se Jesus nascesse hoje, aqui no Brasil ou em qualquer periferia do mundo, seria novamente criminalizado e levado à morte. O poder sempre se viu em risco pela potência que emerge das margens”, afirma.

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De acordo com João Luiz Moura, é importante considerar a perspectiva dos evangelhos sobre a natalidade de Jesus, que nasceu e viveu em meio a violência estrutural promovida pelo Império Romano. A situação era semelhante a do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e a das favelas de São Paulo, como a de Paraisópolis e Capão Redondo.

“Dessa maneira, basta saber o que e como são essas periferias e você saberá o contexto no qual nasceu Jesus. É imprescindível considerar isso porque não é de hoje que moradores das favelas são criminalizados pelo fato de residirem naquela localidade. Não é de hoje que negros e negras são criminalizados por serem quem são”, salienta.

Direitos humanos e cristianismo

Atualmente, no Brasil, lideranças governamentais à direita se posicionam contra políticas de direitos humanos ao mesmo tempo em que defendem valores ligados ao cristianismo. Para João Luiz Moura, essa criminalização se trata de uma linguagem jurídica para o racismo estrutural.

“Isso porque quando falamos de direitos sociais, na atual conjuntura, falamos prioritariamente de um conjunto de políticas públicas que atendem negros, favelados e periféricos. Ocorre que ‘direitos humanos são para humanos’ e se essa população ‘não é humana’, na lógica da hegemonia que ocupa o governo, não faz sentido colocar o ordenamento jurídico à disposição dos que não são humanos. Ou seja, não precisa criar leis ou políticas públicas que garantam dignidade para negros e periféricos’, analisa.

O teólogo e cientista da religiosidade acrescenta que a mensagem do Natal, o nascimento de Jesus, deveria ser suficiente para que os seguidores de Jesus rejeitem qualquer projeto que, para se instaurar na história, dependa do assassinato sistemático das populações mais vulneráveis.

“A mensagem de Jesus é: Vocês não precisam mais submeter a vida de vocês à opressão do poder violento do império. Nasceu o Salvador! Paz na terra aos homens e mulheres de bem!”.

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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