Enfrentando o momento mais crítico da pandemia por Covid-19, Pernambuco deu início à quarentena rígida nesta quinta-feira (18), porém o fluxo do uso de transporte público segue expressivo, com superlotações nos principais terminais do Recife e Região Metropolitana. A situação foi alvo de críticas ao longo de todo o dia, com destaque para o trecho de uma entrevista concedida pelo Secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, à imprensa local. No vídeo, que viralizou nas redes sociais, ele sugere: “A gente pede à população que tente encontrar a solução saindo da hora de pico”, afirmou o gestor.
A declaração foi dada 24h após, pelo segundo dia consecutivo, o Estado atingir a maior média móvel de casos desde o início da pandemia, em março de 2020. Algumas unidades de saúde chegaram a ser fechadas por falta de vagas. O último boletim epidemiológico mostrou que Pernambuco registrou mais 2.245 novos casos e 39 mortes por Covid-19.
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Nas redes sociais, usuários demonstraram indignação com a declaração do secretário Pedro Eurico, que parece desconsiderar a necessidade da população sair de suas casas para garantir o salário mensal. “Vou avisar ao meu chefe que só vou trabalhar das dez da manhã até quatro horas da tarde para evitar os ônibus lotados”, ironizou um internauta. Em janeiro deste ano, em outra declaração à mídia local, o secretário afirmou que o transporte público não era um vetor determinante para a contaminação.
Para quem convive com as dificuldades de locomoção, como a empregada doméstica Vanessa Reis, o cenário de transportes lotados segue o mesmo, independente das medidas restritivas divulgadas na última segunda-feira (15). “Eu moro ao lado da estação de Tejipió e posso dizer que no dia a dia, aqui, nunca chegou um metrô atrás do outro. A gente já lida com a demora todo dia. Agora, o descaso se soma com o risco à saúde, né? Eu vou para Coqueiral, terminal de Joana Bezerra, Xambá, quando preciso, e vejo isso. O que todos nós queremos, usuários de transporte público, é realmente vermos um fluxo maior. De aumento, por enquanto, só a passagem”, pontua.
Apesar do crescimento do desemprego e, consequentemente, do comprometimento da renda da população, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) acaba de anunciar reajuste das passagens. A partir do próximo dia 20 de março, a tarifa dos metrôs que cortam o Grande Recife passará de R$4 para R$4,25, um aumento de 6,3%. Destaque para o comparativo com 2019, quando o valor ainda era de R$2,10. Na prática, os reajustes não refletem na qualidade do serviço prestado e, para quem usa o metrô diariamente, a realidade é de muito empurra-empurra para garantir uma vaga. Também não há distribuição de álcool em gel nas estações, por exemplo, como forma de garantir mais proteção, segundo os usuários.
Apesar dos inúmeros vídeos e fotos que circularam na internet denunciando aglomerações em vários pontos de embarque, surpreendentemente, o portal do Grande Recife destaca uma matéria com o título “Primeiro dia de quarentena rígida tem movimentação tranquila nos terminais da RMR”. No texto, o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Marcelo Bruto, comentou: “A operação foi reforçada em mais de 200 ônibus, no início deste ano, elevando para 80% a frota em circulação. Além disso, 138 linhas de maior demanda já circulam com 100% dos veículos. Esse esforço será mantido durante a quarentena, para oferecer o melhor serviço possível ao trabalhador que vai continuar precisando circular durante esse período”.
Procurada pela redação da Alma Preta Jornalismo, sobre quais medidas estão sendo tomadas para a redução das aglomerações nos terminais, até o fechamento da matéria, o Consórcio Grande Recife, empresa responsável pelo gerenciamento de transportes da região, não apresentou posicionamento.