Silvana Bahia é um dos nomes referência em tecnologia e inovação. Na semana do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, contamos a história dela, que vem agindo para incluir mais mulheres negras no mercado de tecnologia
Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Imagine Desenhe
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Estar atenta e em movimento talvez sejam alguma das características mais presentes em Silvana Bahia, ou Sil, como é conhecida. Por estar atenta e em movimento, além de outros fatores, ela percebe que vem furando estatísticas. Graduada em Comunicação Social, ela é filha e neta de empregadas domésticas. Há uns anos seu nome vem se firmando como referência em tecnologia e inovação, mas ela não quer andar só e também tem trabalhado para que mais mulheres negras estejam ao seu lado.
Mesmo sempre consciente de que era negra, por muito tempo tentaram relativizar isso dizendo que ela era “morena cor de jambo”, por exemplo. O debate sobre o racismo sempre esteve presente na sua vida e se firmou e ganhou novos contornos por volta de 2011, quando começou a trabalhar no Observatório de Favelas, uma organização social do Rio de Janeiro, na favela da Maré. O impacto visual fez uma grande mudança. “Foi a primeira vez que entrei em uma comunicação e todos os jornalistas eram negros. De lá para cá, fiz vários trabalhos importantes na minha carreira em relação à negritude. Depois disso, nunca mais deixei de ser ativista sobre as desigualdades raciais no Brasil”, relata.
Já os debates sobre tecnologia começaram por volta de 2012, com a curiosidade de entender como a internet funcionava e naquele momento o acesso se expandiu por meio dos smartphones. Em 2014, ela participou de uma oficina, chamada de Rodada Hacker, com metodologia pensada para ensinar mulheres a programar. Na mesma época, ela estava pensando em fazer o site do Kbela, um filme realizado por Yasmim Thayná, e ela foi uma das pessoas responsáveis pela comunicação. “Depois da oficina, eu comecei a ficar mais interessada porque até então eu achava que não tinha condições de entender sobre tecnologia. Ali foi uma semente que se plantou na minha vida. Foi uma experiência tão enriquecedora que comecei a pesquisar mais”, explica;
Passado mais um tempo, Sil começou a trabalhar no Olabi, onde hoje é codiretora executiva e onde também o impacto visual trouxe mudanças. “Circulando por eventos de inovação tecnologia e sempre percebendo que não havia mulheres, principalmente mulheres negras, pessoas negras no geral. Comecei a pensar no que eu poderia fazer para trazer as mulheres que se parecem comigo para essa discussão”, afirma.
A partir disso, surgiu a PretaLab, em março de 2017, que ela define como um projeto causa. “Eu tinha esse nome, mas não sabia o que ia ser. É sobre a importância, a pertinência, a urgência de incluir mulheres negras no mundo da tecnologia e inovação. Hoje, somos uma rede com cerca de 900 mulheres do Brasil inteiro”, revela.
O PretaLab vem realizando várias ações, como o mapeamento, dentro de uma plataforma que exibe perfis de mulheres negras da tecnologia. “Acabamos de terminar o primeiro ciclo formativo para mulheres negras tecnologistas independentes. Fazemos pesquisa, curadoria, temos um podcast, que é o Pretapod, onde entrevistamos as nossas referências”, enumera a comunicadora.
Tecnologia ancestral
Neste ano, o trabalho à frente da tecnologia começou a ganhar novas referências. A mãe de Sil é paraense e foi morar no Rio de Janeiro quando tinha 13 anos de idade para ser empregada na casa da prima. Ficou mais de 40 anos longe de Belém. “Fomos à Belém, em uma viagem ancestral antes da pandemia. Passamos dez dias de fevereiro, incluindo o carnaval, e foi uma viagem muito emocionante. Eu pude me reconhecer também, acho que faltava isso na minha construção de identidade, que está sempre em movimento”, lembra.
“Chegar à Belém foi entender que falar de Brasil é falar de Belém. Na minha opinião, o Brasil começa ali. Olho aqueles rostos, aqueles sotaques, eu fico achando que é um Brasil antes da colonização. E ainda conheci família, primos. Vi onde minha mãe foi criada, refiz os caminhos. Isso foi muito importante para mim”, acrescenta Sil.
A viagem consolidou a sua identidade de mulher negra afroamazônida e também influencia no seu trabalho que é carregado de referências ancestrais. “Eu tenho uma visão sobre o que é tecnologia que vai muito além do que é digital. Na verdade, tecnologia para mim também está no banho de ervas. É saber qual você pode misturar ou não. Pensar tecnologia dessa forma nos aproxima desse universo porque tecnologia é um substantivo feminino que fala sobre um conhecimento aplicado sobre determinada coisa. Uma técnica. Existem muitas tecnologias ancestrais, que a gente pode até não chamar de tecnologia, mas que são pautadas pela nossa ancestralidade e aplicam conhecimentos”.
Esre conteúdo faz parte do especial do Alma Preta da semana do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, no qual contamos histórias de pessoas negras que se destacam em suas áreas de atuação.