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Trabalhadores dos estádios de futebol falam sobre as mudanças da rotina na pandemia

Muito além dos jogadores: setor emprega cerca de 156 mil pessoas no Brasil, como roupeiros, faxineiros, copeiros e profissionais da jardinagem

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nataly Simões | Imagem: Acervo Pessoal

Imagem mostra o roupeiro do FC Rondonopólis, Dermeval Souza, de costas no campo de futebol. Ele é um homem negro.

5 de maio de 2021

“Assim que eu chego é medida a minha temperatura. É pedido que a gente trabalhe o tempo todo de máscara e use constantemente álcool gel, que o próprio clube dá para nós. Todas as roupas são separadas com mais organização no vestiário para evitar qualquer tipo de contaminação. Me sinto seguro, pois muita coisa de higiene, que a gente deveria fazer antes da pandemia, fazemos agora”. A fala é do roupeiro Marcelo Dias Dionísio, do FC Cascavel,  clube de Santa Catarina, que atualmente disputa na primeira divisão do Campeonato Paranense de Futebol, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro – Série D.

A rotina de Marcelo com os protocolos de prevenção à Covid-19 é a mesma de outros trabalhadores dos estádios e dos centros de treinamento, que muitas vezes não são lembrados, mas fazem o futebol brasileiro acontecer assim como os jogadores.  Após a retomada dos jogos, em fevereiro, os clubes adotaram novas medidas de segurança para esses profissionais.

Com partidas feitas sem a presença da torcida, máscaras, álcool gel e manuais de segurança e saúde foram elaborados para garantir a integridade dos trabalhadores que estão nos bastidores dos jogos, como roupeiros, faxineiros, copeiros, entre outros. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) regulamenta os conceitos estabelecidos pelo Guia Médico de Sugestões Protetivas Para o Retorno às Atividades do Futebol Brasileiro. O objetivo do documento é esclarecer sobre os protocolos que devem ser aplicados nas competições organizadas pela CBF e, especificamente, os detalhes da operação das partidas. O início e reinício dos campeonatos seguem as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde do Brasil e das secretarias estaduais e municipais de Saúde.

As diretrizes exigem que todas as partidas sejam realizadas com acesso restrito ao campo de jogo e vestiários, limitado aos trabalhadores essenciais à administração do estádio no dia da partida, atletas das equipes e respectivas comissões técnicas, além da arbitragem, delegados da partida e controle de dopagem.

Marcelo explica que a dinâmica de trabalho mudou, principalmente no trato com os companheiros de função, que se cuidam para não contaminar uns aos outros.  Segundo o roupeiro, frequentemente o FC Cascavel submete esses trabalhadores aos testes de Covid-19. “Fazemos exame, no mínimo, três vezes por semana. Se o jogo acontece na sexta-feira, por exemplo, na quarta somos examinados e o valor desse teste não sai do nosso bolso”, conta.

‘O calor do campo é terrível com a máscara, mas a gente tira de letra’

Na região Centro-Oeste do Brasil, os protocolos também são seguidos à risca, conforme relata o funcionário da rouparia do clube União Esporte Clube (União Rondonópolis), Dermeval de Souza. O time do Mato Grosso, que disputa também a série D do Brasileirão, teve que se adaptar à pandemia.

Conhecido entre os colegas como Bola,  Dermeval conta que os testes, as máscaras e o álcool são disponibilizados abundantemente por todo o ambiente de trabalho. Ele explica que o uso da máscara é a pior parte por conta do calor excessivo, mas que entende que é necessário para o ofício ser executado com segurança.

“Aquele calor do campo é terrível com a máscara, mas a gente tira de letra. É ruim o exame, mas o clube paga, então a gente se sente mais seguro. Quem não chorar fazendo o teste do cotonete eu digo que é bravo mesmo”, brinca o roupeiro.

O profissional explica que apesar da necessidade dos protocolos de prevenção ao coronavírus,  o amor pela profissão é muito grande. Ele tem esperança de que a pandemia acabe em breve para tudo voltar ao normal. “É um trabalho dedicado. Tenho orgulho e gosto. É a profissão da gente. Trabalhamos com muito amor e carinho, pois é o nosso ganha pão, apesar dessa pandemia que logo vai passar”, descreve Dermeval.

Diminuição na renda e desemprego

A pandemia também paralisou o futebol brasileiro e obrigou os clubes a diminuírem os gastos. Apesar da modalidade esportiva dar a impressão de que apenas jogadores, técnicos e altos salários são valorizados, na verdade se trata de um segmento que emprega 156 mil trabalhadores no Brasil, segundo a CBF.

O roupeiro Demerval diz que no União Rondonópolis houve algumas demissões e diminuição no salário para que o clube pudesse manter os empregos dos funcionários. Em Santa Catarina não foi diferente, segundo o também roupeiro Marcelo.

“Não tem nem como questionar a redução do salário. A gente entende que sem a bilheteria não tem outra opção. É triste. Não tem como o patrão resolver se os patrocinadores diminuíram também a contribuição com os clubes. Isso se a gente não levar em consideração os vendedores ambulantes, que dependiam diretamente da bilheteria. Na minha opinião, a pandemia afetou os pequenos e os grandes”, avalia o trabalhador do FC Cascavel.

Leia também: Trabalhadores negros (as) ocupam o topo das estatísticas de desemprego no país

A pesquisa da Confederação Brasileira mostra ainda que os funcionários de clubes de futebol representam 33% dos 156 mil empregos gerados pela modalidade no Brasil. A maior parcela da força de trabalho, 55% do total, atua em estádios em dias de jogos, principalmente na venda de alimentos e bebidas.

Proteção à Covid-19 nos clubes paulistas

Procurado pela Alma Preta Jornalismo, O Sport Club Corinthians Paulista afirma que as recomendações de saúde da CBF e da Federação Paulista de Futebol (FPF) são levadas ao pé da letra, tanto no estádio (Neo Química Arena) quanto no centro de treinamento Doutor Joaquim Grava. De acordo com a gerência de comunicação, para garantir a segurança dos trabalhadores foi instituído um sistema de transporte, no intuito de evitar que essas pessoas estejam vulneráveis ao coronavírus no transporte público como ônibus e metrô – constantemente locais de aglomeração em São Paulo.

O clube  também informou que fornece testes de Covid-19 diariamente para todos os colaboradores, máscaras adequadas e álcool. Para aqueles que possuem alguma comorbidade, a opção foi o home office, a fim de evitar a contaminação e também a demissão desses profissionais.

A Sociedade Esportiva Palmeiras, por sua vez, elaborou um Manual de Prevenção à Covid-19, especialmente feito para orientar os funcionários e explicar cada detalhe dos protocolos exigidos pela CBF e pela FPF. No documento, o clube salienta a importância de evitar aglomerações, o uso correto da máscara de proteção, a maneira adequada de higienizar as mãos e as fases da quarentena. Todos esses itens são cedidos gratuitamente aos colaboradores.

A assessoria de comunicação da Federação Paulista de Futebol explicou que caso os clubes descumpram as exigências de saúde e exponham seus colaboradores ao risco de contrair o coronavírus, “os casos serão levados ao Tribunal de Justiça Desportiva para julgamento”.

Para repercutir as informações sobre a segurança dos colaboradores dos estádios, também foram procurados o Santos Futebol Clube e o São Paulo Futebol Clube. Até a publicação desta reportagem não houve resposta. Caso os dois clubes se posicionem, o texto será atualizado.

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