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‘Tratou nosso sagrado como lixo’:  paciente sofre racismo religioso durante internação em hospital no Rio

A vítima foi uma jovem, que estava internada e teve seus fios de conta jogados fora pela equipe do hospital; um boletim de ocorrência foi registrado no Decradi
Imagem da mão de Tainá Louriçal no hospital com os fios de conta.

Imagem da mão de Tainá Louriçal no hospital com os fios de conta.

— Reprodução/Rede Social

25 de abril de 2025

A jovem Tainá Louriçal denunciou que foi vítima de racismo religioso no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, quando teve seus fios de conta jogados no lixo enquanto estava internada na unidade. O caso foi registrado nesta quinta-feira (24) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

A vítima relatou que o caso ocorreu no dia 18 de abril, quando a equipe do hospital jogou fora seus adereços sagrados no momento em que ela foi tomar banho. O item religioso é usado como forma de proteção espiritual para pessoas de religiões de matriz africana.  

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Em publicação nas redes sociais, a jovem contou que pediu ajuda e ao questionar sobre o fio a uma enfermeira, ela chegou a dizer que “Só Jesus Salva, só Jesus liberta”. “Só o deus dela vai me salvar da doença?” detalhou a paciente. 

Tainá também afirmou que no mesmo quarto em que ficou, outra paciente estava com uma Bíblia, que não foi retirada. Pra ela, o tratamento diferente reforça o crime de racismo religioso.

Imagem da mão de Tainá Louriçal no hospital com os fios de conta.
Tainá louriçal é paciente oncológica e estava internada no Gaffrée e Guinle. (Foto: Acervo pessoal)

A vereadora Benny Briolly (PSOL-RJ), a deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ), a Yalorixá Márcia Marçal e outras lideranças religiosas acompanharam a denúncia e cobraram providências das autoridades.

Em vídeo divulgado nas redes, a Yalorixá Márcia Marçal se manifestou cobrando punição aos envolvidos pelo desrespeito às vestes e itens das pessoas pertencentes ao Candomblé e a Umbanda.

“Até quando a gente vai passar por isso, o que está faltando para as autoridades tomarem uma atitude?” afirmou. “Tratou as nossas coisas, nossos pertences, nosso sagrado como lixo. Pegou o fio de conta dela e jogou no lixo como se fosse um papel velho”, destacou. 

A cantora Teresa Cristina também se pronunciou sobre o caso. “Vivemos em um país chamado laico, e como uma filha de santo, tratando de um câncer, vai tomar banho no hospital e tem os fios de conta dela jogados no lixo? Será que se estivesse com uma Bíblia, um crucifixo ou uma mensagem de um santo de devoção, aconteceria o mesmo?”, disse em post no Instagram.

O que diz o hospital 

Em nota, o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle afirmou que os fatos estão sendo investigados com “seriedade e rigor que o caso exige”. A direção informou que a paciente, já com alta médica, foi acompanhada nesta sexta-feira (25) à ouvidoria para realização da denúncia e que “foi anexada e encaminhada à corregedoria geral da Ebserh, em Brasília”. 

Segundo a direção, após esse processo serão tomadas as “medidas cabíveis conforme o resultado da apuração”. 

A gestão do hospital também declarou que repudia veementemente qualquer forma de desrespeito à liberdade religiosa e “reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente acolhedor, inclusivo e respeitoso para todos os pacientes, acompanhantes e profissionais”.

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