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Turismo: público negro procura lazer e resgate da ancestralidade em viagens

Agências de turismo focadas no público negro veem potência nesse mercado ; há o desejo de fortalecer o empreendedorismo negro no ramo

30 de dezembro de 2019

Dezembro e Janeiro são considerados os meses de “alta temporada” por parte das empresas de turismo. Período de verão, com sol forte e calor, esse é o momento em que as pessoas costumam viajar para relaxar e aproveitar o período de recesso. O público negro não é diferente. Grupo que representa 54% da população brasileira, segundo o IBGE, tem especificidades no mercado de turismo e empresas dispostas a apresentar um produto direcionado a esse público.

A Diáspora Black é uma dessas empresas. A agência tem uma rede em todo mundo de viajantes e anfitriões com o intuito em conectar pessoas interessadas em viajar e outras em receber e também gerar receita.

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A criação da Diáspora Black aconteceu depois do fundador, Carlos Humberto Silva, ser vítima de racismo ao receber pessoas na sua casa por meio de uma plataforma de viagem. A empresa, focada no público negro, tem o desejo de promover viagens para esse segmento sem experienciar situações de discriminação racial.

“A ideia da Diáspora.Black sempre foi fazer as pessoas se sentirem ‘em casa’ onde quer que estejam. Reconhecemos a importância da nossa história e tratamos através do turismo de assuntos pesados como o racismo, de forma lúdica, leve e que aproxima mais as pessoas e aliados”, é o que explica Cintia Ramos, sócia e CMO (Chief Marketing Officer) da Diáspora Black.

Segundo dados do Ministério do Turismo, o consumo das classes C, D e E no setor do turismo cresceu 105% entre os anos de 2013 e 2018. Dados do IBGE mostram que três em cada quatro das pessoas mais pobres do país eram pessoas negras em 2015.

Para o fim do ano, a agência de viagem fez uma lista com diferentes destinos possíveis para o público, branco ou negro, neste fim de ano. Lugares nas diferentes regiões do país, com valores acessíveis.

“São todos destinos procurados por nossos clientes, que ainda tem disponibilidade e preços diversos. Podem esperar por anfitriões responsáveis com carinho e cuidado com cada detalhe para a viagem ser incrível”, conta Cintia Ramos.

Ela também explica existir uma especificidade na busca do público negro, que almeja se conectar com o passado e conhecer locais importantes para a história da comunidade negra.

“Nossos clientes procuram sempre uma união de lazer, respeito e novidade. Sendo que novidade pode ser conhecer um mesmo lugar porém com essa conexão ancestral e respeito a nossa história”, explica Cintia Ramos.

O mercado do turismo também segue em expansão. A expectativa do Ministério do Turismo é de que novos 40 milhões de consumidores devem usufruir dos serviços de turismo no país até 2022.

Essa possibilidade de crescimento de mercado inspirou o nascimento da Bráfika, agência de turismo online. O objetivo da agência é o de vender pacotes de viagem para mulheres e homens negros para locais onde exista uma conexão com o passado da comunidade negra no país e fora dele.

A fundadora da marca, Beatriz Souza, acredita que existe uma mudança na dinâmica da comunidade negra que possibilita a expansão do mercado do turismo para esse segmento. Para ela, parte desse grupo social não pensa mais apenas em sobreviver, mas também viver.

“Quando se tem essa sensação de que se parou de lutar para sobreviver e de que parou essa luta pela sobrevivência, você quer viajar para o lugar mais próximo, mais fácil e que caiba no seu bolso”.

Ela acredita ainda ser incipiente a busca por locais com valores importantes para a comunidade negra e acredita que a maior parte desse público busca o mesmo que os demais grupos raciais: o lazer.

“Na minha concepção o que mais motiva o povo preto a viajar é o lazer, puro e gratuitamente. Essa questão de resgatar a sua ancestralidade enquanto viagem, público, é recente e ainda é incompreendida”.

Apesar de ainda incipiente, ela acredita na busca pela ancestralidade por parte dos clientes e no potencial de mercado da comunidade negra.

“Mas uma vez que essa pessoa se dispõe a passar por esse processo, é algo muito enriquecedor e dá impressão de que a pessoa não é mais possível sem minimamente conhecer os locais de referência negra da cidade por onde vai, uma vez que essa pessoa é uma pessoa negra consciente” conta Beatriz Souza.

O potencial de consumo da comunidade negra no país é imenso. O expressivo contingente populacional transformaria a comunidade negra no país no 11° país mais populoso do mundo, com 114,8 milhões de pessoas, e 17º país em consumo. Os dados são do Instituto Locomotiva.

Beatriz Souza conta que uma das metas da Bráfika é tentar trabalhar ao máximo com empreendedores negros, em toda a cadeia produtiva do negócio. Ela visa fortalecer esse segmento social a partir da construção de uma cadeia produtiva feita por pessoas negras.

“Eu procuro trabalhar ao máximo com empreendedores negros, mas ainda é bastante difícil conseguir fechar o ciclo todo de atendimento só na mão de empresas pretas e empreendedores negros. Eles ainda não conseguem condicionar um pagamento que seja parcelado e isso dificulta o nosso trabalho com esses empreendedores de pousadas e hostels”.

  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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