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Rede de apoio incentiva que mais mulheres negras entrem na pós-graduação da USP

Criado por acadêmicas negras, o grupo 'Pretinhes na USP' começou nas redes sociais e busca ajudar candidatas em todas as etapas do processo seletivo de mestrado e doutorado

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Arquivo pessoal 

grupo de mulheres da USP apoiam mestrado de alunas negras

20 de agosto de 2021

Para diminuir os entraves no acesso aos programas de mestrado e doutorado da USP (Universidade de São Paulo), acadêmicas criaram o grupo ‘Pretinhes na USP’ para encorajar que mais mulheres negras continuem a formação acadêmica em universidades públicas.

O grupo surgiu em 20 fevereiro deste ano quando a pesquisadora Elania Francisca, 37 anos, que já tinha terminado um mestrado em Educação Sexual pela UNESP (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara, em 2018, fez a proposta em uma postagem no Facebook. Os compartilhamentos e mensagens que pediam mais detalhes sobre a ideia começaram no mesmo dia.

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“A gente percebe que na academia a visão é branca, a rotina é embranquecida, as referências são brancas. A vivência da academia não considera que a maioria do estudantes negros são periféricos e tem questões ligadas ao acesso à internet, frequência das aulas etc. Não adianta a gente entrar na pós-graduação, sendo que ela baseia a sua rotina na vida de um estudante branco de classe média alta. É uma questão que a gente quer debater com a USP”, pontua Elania Francisca, que nasceu em Montanha (ES) e trabalhou como psicóloga e educadora em sexualidade durante o mestrado.

A troca de ideias, experiências, dicas e sugestões dentro do grupo seriam importantes para fortalecer a autoestima e encorajar a continuidade dos estudos e produção acadêmica. “As pessoas que chegaram no grupo têm um potencial incrível e trabalhos extremamente valorosos”, defende Elânia, que entrou no doutorado da USP em agosto do ano passado, pelo programa Diversitas, que tem 80% das vagas reservadas para estudantes negras e indígenas.

Formada em serviço social, Romária Sampaio tinha o sonho de fazer um mestrado desde 2014. “Sempre me senti muito insegura. Nunca achei que conseguiria dar conta de fazer um projeto. Cheguei a achar que este espaço [de mestrado] não era para mim, mas quando a Elânia montou o grupo e a gente pode trocar a nossa insegurança com pessoas pretas de outros territórios, isso ganhou uma força muito bonita”, compartilha Romária.

A estudante Fernanda Gomes tentou entrar no mestrado por três vezes na PUC (Pontifícia Universidade Católica) e uma vez na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Eu não sabia quais eram os caminhos para chegar ao mestrado, como fazer uma cronologia de estudos e estava sozinha neste processo”, lembra Fernanda Gomes, que se formou em serviço social em 2019.

Fernanda conta ainda que esse período de tentativas solitárias foi marcado por muitas frustrações e queda da autoestima. Desde 2016, ela pesquisa direitos de legitimidades de mulheres negras lésbicas do estado de São Paulo.

“Entrar no grupo foi ótimo. A gente começou a fazer o passo-a-passo do processo, desde o formulário de inscrição, separar a documentação e fazer o projeto. Não era só a orientação da Elania Francisca, mas todas nós nos apoiamos, trocando ideias e apontamentos”, explica Fernanda.

Desde a implementação das cotas, o número de estudantes negros e indígenas na graduação quadruplicou na USP. Dados sobre o perfil de calouros mostram que, no ano passado, o número de ingressantes negros ou indígenas chegou a 25,2% do total, contra uma participação que variou entre 5% e 6% em 2010, segundo informações divulgadas pela Pró-Reitoria. Nos programas de mestrado e doutorado, entretanto, a diversidade ainda é pouca. “Mesmo entre os professores é pequena. No meu mestrado tinham três alunos negros e nenhum professor negro”, lembra Elania.

Formada em educação física e pós-graduada em nutrição esportiva, Jerusa Machado está fazendo mestrado na USP. “Foi um acolhimento muito fortalecedor. Foi importante entender os nossos medos e os monstros que a gente cria por achar que não estamos preparadas para este espaço. Nós, mulheres negras, trazemos debates muito importantes para a sociedade como um todo”, afirma a educadora.

Leia mais: Número de vagas reservadas para quilombolas em universidades é de 0,5%, diz estudo

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