Mais um caso envolvendo declarações de intolerância religiosa em uma sessão na Câmara de Vereadores de Feira de Santana, na Bahia, ganhou repercussão. Dessa vez, o vereador Edvaldo Lima (MDB) disse que a prefeitura da cidade está “infestada de macumbeiros” e que ele tem sido alvo de “bozó” (como é popularmente conhecido o ritual de oferenda depositado em encruzilhadas). As declarações foram feitas enquanto Edvaldo Lima criticava o lockdown adotado pelo prefeito Colbert Martins (MDB) na pandemia e o reflexo da medida nos trabalhadores. Em seguida, o vereador, que é evangélico, afirmou que o problema da gestão do prefeito é a “falta de Deus”.
“É um governo fracassado […] Quem não adora Deus, adora outro tipo de Deus”, disse Edvaldo, que simula uma aspas com o dedo e completa dizendo: “O PJ da Prefeitura está infestado de macumbeiros”.
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Durante a sessão, Edvaldo Lima também afirmou que colocaram um “bozó” próximo da casa dele e contra parlamentares da Casa Legislativa. “Sei que levaram meu nome para Cachoeira, para boca do ‘cururu’. Leva, porque aqui tem um homem de Deus. E outra coisa, tem levado o nome de vários vereadores aqui para outra cidade para fazer o bozó contra os vereadores desta casa. A cidade está no escuro”.
“No segundo turno, nós evangélicos fomos solicitar todos os líderes evangélicos dessa cidade para ajudar esse homem [Colbert]. Sabe o que ele fez? Pegou os macumbeiros e colocou dentro da prefeitura. Tirou a luz e botou as trevas. Vai pagar o preço porque virou as costas para o Deus de Israel”, dispara Edvaldo Lima.
Edvaldo Lima, que foi pastor da igreja evangélica da Assembleia de Deus em Feira de Santana, completou dizendo que vai levar um grupo de orações para dentro da Prefeitura da cidade”. E continuou: “Eu vou me colocar à disposição do prefeito para orar por ele e vou levar as irmãs do ciclo de oração para fazer oração dentro daquele gabinete, centro da macumba, que está dentro da prefeitura de Feira de Santana”.
Em manifestação, o vereador Jhonatas Monteiro (PSOL), conhecido como “Rasta”, defendeu o respeito às diversas religiões e criticou o uso do espaço público Legislativo para proferir ofensas e discriminações. Na semana passada, uma situação semelhante também aconteceu durante uma sessão quando o também vereador de Feira de Santana, Paulão do Caldeirão, bradou insultos a outros tipos de religiões e disparou: “Não estou aqui para servir casa de macumba”. O parlamentar é cristão e afirmou que as religiões não cristãs têm procedência “maligna” e são “imundice”.
“Macumba não é sinônimo de coisa ruim como as pessoas utilizam num senso comum que reproduz violência. É importante ter isso em vista e não subir aqui na Tribuna e achar que a liberdade de expressão é licença para ofender e desrespeitar qualquer que seja o grupo religioso. Até porque, quem paga o salário aqui, não é um único grupo religioso, é o cidadão e a cidadã que tem – na nossa sociedade – diversas crenças e mesmo descrenças e todo mundo tem que ser respeitado”.
O vereador Silvio Dias (PT) também saiu em defesa das religiões atingidas pelas falas do vereador Elinaldo e afirmou que é “inadmissível” as falas de intolerância e discriminatórias dentro da Casa Legislativa.
“Não há como ouvir e ficar calado quando se mistura a religião com a política. Não há como aceitar e utilizar para promover o ódio, a intolerância e a discriminação […] Sou católico, frequentei por muito tempo a igreja evangélica, tenho maior respeito pelos evangélicos. Agora, jamais vou aceitar que, nessa Casa, se discrimine qualquer tipo de religião: seja de matriz africana, seja islamita, budista, seja qual for, não vou aceitar”.
“É inadmissível misturar as coisas para utilizar-se da política para destilar o ódio […] Com tantos problemas que há na cidade, não há porquê fazer discriminação religiosa aqui nessa Casa quando poderíamos estar avançando em assuntos de interesse de todos, inclusive de católico, evangélico, candoblecista, do umbandista, porque essa é a função dessa Casa”, completou o vereador.
A Rede de Mulheres de Axé, que abriu um pedido de resposta contra o vereador Paulão do Caldeirão, disse à Alma Preta que já está em articulação para tomar providências contra as falas de Edvaldo. “Já estamos fazendo articulações políticas por fora, convocando alguns deputados que são favoráveis à causa para estar botando moções de repúdio”.