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Descaso e falta de políticas preventivas levaram Saúde de Manaus ao colapso

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18 de janeiro de 2021

A situação de Manaus é o retrato de um país em que o governo federal escolheu debochar de uma doença que já tirou o ar do pulmão de mais de 6 mil pessoas na capital da Amazonas 

Texto / Flávia Ribeiro | Edição / Lenne Ferreira | Imagem / Raphael Alves / TJAM

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O colapso no sistema de saúde do estado do Amazonas em decorrência da pandemia de Covid-19 deixou o país estarrecido com relatos sobre a falta de oxigênio hospitalar. O boletim epidemiológico estadual reegistra 6,1 mil mortos e mais de 230 mil pessoas infectadas. Cerca de 235 pacientes de Manaus, capital do estado, devem ser enviados para tratamento fora do estado. E, até agora, 77 pessoas já saíram do Amazonas para locais como Teresina (PI), São Luís (MA), Brasília, João Pessoa (PB), Natal (RN) e Rio Branco (AC).

Estar em Manaus é viver a apreensão de contrair o coronavírus ou ter um dos familiares infectados ao mesmo tempo em que a população anda na rua sem tomar medidas básicas de proteção. “Eu estive na UBS (Unidade Básica de Saúde) algumas vezes e sempre estava muito cheia. Tiveram que fechar os portões em alguns momentos porque não havia mais como receber pessoas. A médica que atendeu minha mãe, na primeira vez em que ela procurou assistência, foi infectada e não pode atendê-la quando retornamos” afirma Anna Suav, jornalista e rapper, que mora em Belém, mas passou 15 dias em Manaus, onde nasceu e onde está a família.

Para quem saiu de uma cidade com várias restrições, ela vê a diferença no clima entre as capitais Belém e Manaus. “Eu saí de lá quando o governo tinha decretado toque de recolher. Há campanhas para as pessoas ficarem em casa, para terem mais atenção no trânsito e evitarem acidentes, pois os profissionais de saúde precisam se concentrar no tratamento da Covid. Enquanto isso, lá, o clima é completamente diferente, as pessoas estão fazendo festa, estão se aglomerando. É impressionante o quanto o ser humano não consegue aprender com o outro”, analisa a jornalista informando que a mãe, que é trabalhadora da área da saúde, testou positivo para Covid e está se recuperando. Um irmão dela e a esposa dele acordaram com sintomas nesta segunda-feira.

O resultado positivo também é uma realidade para Michelle Andrews, produtora cultural e que também faz parte do Coletivo Difusão. Ela fala que apesar de não haver um estudo com detalhamento racial, são as pessoas da periferia, as negras e indígenas, as mais afetadas pela coronavírus em Manaus. “Para combater a Covid é preciso travar uma guerra para combater a desigualdade social” afirma. Ela cita que há outros fatores que agravaram a situação dos amazonenses, como as Fake News.

“O estado não teve no início uma proposta de distanciamento que pensasse em todos os recortes. Houve até quem dissesse que a Covid havia acabado. O governo deixou tudo muito flexível, as igrejas evangélicas não fecharam, por exemplo. Seguiu um negacionismo. As pessoas estavam muito na rua, acreditavam que era só uma gripezinha” pontua a produtora cultural, que também frisa a importância da incidência do poder público nesse momento.

“Não tem como a sociedade civil organizada garantir oxigênio para todo mundo. É muito caro. E ainda tem a especulação. O preço foi aumentando, aumentando… É a lei da oferta e da demanda, independente de quem esteja morrendo. É cruel viver no capitalismo”.

Uma das iniciativas que visa arrecadar dinheiro para a compra de equipamento de proteção individual e para encher cilindros de oxigênio é da Coletiva Feminista Banzeiro. “Se fosse em São Paulo, o mundo estaria em pânico. Mas é no Amazonas, e está autorizado a morrer como peixe fora d’água asfixiado! Vidas amazônidas importam. As pessoas temem virar Manaus, mas não há luto por quem morre aqui” desabafa Aline Ribeiro, historiadora, e integrante da Coletiva, que boa parte das integrantes já teve ou tem familiares com Covid-19.Sobre a especulação em torno do cilindro de oxigênio, ela afirma que antes da crise, o cilindro custava, na fábrica, cerca de R$300. No revendedor, R $600.

“Na crise, está entre mil e dois mil reais para encher. É óbvio que nem todo mundo pode pagar. Pessoas negras, pobres, assim como indígenas são os mais atingidos e com autorização do estado. Porque os hospitais particulares estão encerrando os atendimentos por volta de 18h. Então, as pessoas com convênio que precisam de atendimento nesse horário, vão para os hospitais públicos sobrecarregando o SUS. O colapso é geral. Não há lugar que possamos ter assistência médica agora. Se eu cair e quebrar o meu braço, vou ter que ficar com o braço quebrado em casa. Se eu conseguir uma vaga,ainda vou correr o risco de pegar Covid lá e morrer daqui a cinco dias sem respirar” , prevê a historiadora.

Para conhecer e contribuir com a campanha da Coletiva Banzeira Feminista clique aqui.

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