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Vilma Reis: ‘O que impede a democracia é a ação danosa do racismo’

26 de junho de 2020

Para a socióloga e defensora dos direitos humanos, o momento pelo qual o país e o mundo atravessa requer cobrança de ações efetivas dos gestores públicos

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Acervo Alma Preta

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“Como podemos, em pleno século XXI, vivermos ainda uma situação brutal de apagamento e de violência que retira a participação de um grupo, deixando de fora os direitos de 56% da população brasileira? O que impede a democracia é a ação danosa do racismo”. A afirmação é da socióloga Vilma Reis, defensora dos direitos humanos e integrante do coletivo Luiza Mahin, uma das mais de 150 organizações que compõem a Coalizão Negra por Direitos.

Neste mês de junho, a Coalizão lançou o manifesto: “Enquanto houver racismo não haverá democracia”, que denuncia e exige a erradicação do racismo como prática genocida contra a população negra. Na época em que as pautas de combate ao racismo ganham as manchetes mundiais, o manifesto é um documento que ajuda a pautar essas situações no país.

“Um dos objetivos do manifesto é dar visibilidade às violações de direitos humanos que sistematicamente ocorrem no Brasil e que são totalmente invisibilizadas em regiões, como Norte e Nordeste. A conjuntura mundial nos favorece. Os gestores públicos vão continuar sem fazer nada? Nunca fizeram nada, por exemplo, para que tivéssemos uma rede básica de saúde e isso é mais evidente neste momento de pandemia”, explica Vilma.

A socióloga destaca a importância de iniciativas e da união de organizações do movimento negro. “O papel da coalizão é de incidência política. Mexer com as estruturas municipais e dos estados. Da direita à esquerda temos uma estrutura política colonial. Este é o momento da pressão porque estão passando por um constrangimento mundial. Não é possível num país em que morrem 63 mil jovens por ano, 75 mil fiquem desaparecidos e isso nunca tenha sido tratado no Senado”, considera.

“Nós enfrentamos 355 anos de escravização e temos 132 anos de uma abolição inconclusa. Não há política para acolher a população negra. O estado existe para garantir direitos de uma parcela da população, a branca. A primeira política do Brasil para amparar pessoas negras foi a criação da Fundação Palmares”, pontua Vilma.

Outro momento histórico destacado pela socióloga e defensora dos direitos humanos para que as pautas antirracistas no Brasil ganhassem força foi a Terceira Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) contra o racismo e o ódio aos estrangeiros. “Na Conferência de Durban, pela primeira vez foi combatida internacionalmente a ideia de que vivíamos uma democracia racial. O mundo ouviu dos negros que o Brasil é um país racista”, comenta.

Segundo Vilma, a atuação das mulheres no movimento negro é ainda mais evidente neste momento da história. “Temos os movimentos de mulheres negras se organizando e se articulando para o enfrentamento. É quem dá o tom da luta. Na coalizão, por exemplo, 80% das organizações são lideradas por mulheres negras. Queremos mostrar que a erradicação do racismo é uma tarefa de toda a sociedade brasileira” ressalta.

Acesse o manifesto da Coalizão Negra por Direitos aqui.

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