O perfil das vítimas de violência na região da Amazônia Legal é o mesmo do restante do Brasil, jovens homens negros. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 84% das vítimas de homicídio na região eram negras, 91%, homens e 50% tinham entre 15 e 29 anos. Ao todo, no ano de 2020, foram registrados 8.729 casos nos estados amazônicos.
O estudo, que contou com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e do Grupo de Pesquisa Territórios Emergentes e Redes de Resistências na Amazônia (TERRA), da Universidade do Estado do Pará – UEPA, apontou três possíveis motivações para o acréscimo da mortalidade. Um é a dinâmica da interiorização da violência no país, outro é a pressão para o desmatamento na Amazônia, e a terceira, a presença de facções criminosas na região e o déficit de aparato policial.
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Os estados do Norte e Nordeste convivem com a disputa entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Mas não só, em alguns estados existem outras organizações, como no Amazonas, onde há as duas principais do país, a Família do Norte (FDN) e a Família Coari, grupos de piratas que interceptam a passagem da droga nos rios da região. Os nove estados amazônicos são Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso.
O levantamento também indica que houve maior índice de violência, para cada grupo de 100 mil habitantes, nas áreas desmatadas (34,6) e sob pressão do desmatamento (37,1). As áreas “não florestais”, espaços cobertos por cerrados e campos, tiveram números de 29,7 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, e as regiões florestais, onde há no máximo 5% da mata derrubada, têm o menor número, de 24,9 casos. A definição das áreas foi feita pelo Imazon, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia.
Os números de aumento da mortalidade são acompanhados pelos dados de crescimento no desmatamento. Relatório do MapBiomas apontou para o crescimento do desmatamento nos seis biomas do país e na Amazônia com índices de 9%. A organização ainda calcula que 99,4% das áreas desmatadas na floresta apresentam sinais de irregularidade.
O resultado, de acordo com as estatísticas, é o aumento dos indicadores de violência, quando comparados com o restante do Brasil. Enquanto no país os números são de 23,9 mortes violentas intencionais para cada 100 mil habitantes, na região amazônica o dado sobe para 29,6, e em alguns estados como o Amapá chega a 41,7.
“O avanço do desmatamento e a intensificação de conflitos fundiários resulta também no crescimento da violência letal. Considerando os dados recentes divulgados por organizações que atuam na agenda ambiental, o crescimento da violência no campo na região da Amazônia Legal se mostra coerente”, afirmam os especialistas na pesquisa.
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