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103 anos de história do Maracatu Cambinda Brasileira

Em Pernambuco, pela primeira vez em mais de um século de história, Maracatu de baque solto mais antigo do Brasil não desfilou; cancelamento do Carnaval gerou impactos para mestres de grupos tradicionais que perpetuam a cultura popular no interior do estado 

Texto: Victor Lacerda | Edição: Lenne Ferreira | Imagens: SECULT-PE

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19 de fevereiro de 2021

Pela primeira vez em 103 anos de história, caboclos de lança, rei e rainha do Maracatu Cambinda Brasileira não saíram em desfile pelas ruas de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. O grupo, fundado em 5 de janeiro de 1918, comemoraria os seus 103 anos de resistência cultural ligada ao sincretismo religioso, à música popular e à reverência ao trabalho árduo nos canaviais. Desta vez, a comemoração não contou com cortejo nem a performance colorida que encantam admiradores da cultura popular nordestina. O cenário deste ano fez com que a luta cultural se alinhasse ao resguardo pela saúde de todos os integrantes e frequentadores do Engenho Cumbe, onde acontece o tradicional encontro anualmente.

Ostentando o título de maracatu mais antigo em atividade ininterrupta do Brasil, o Cambinda Brasileira teve de vivenciar seu primeiro ano sem atividades, devido a pandemia pela COVID-19. Fora a atuação durante os festejos ligados ao Carnaval, o grupo ainda realizava atividades em comunidades de Nazaré, promovendo oficinas de artesanato, de construção das indumentárias para os desfiles e atividades de conscientização da importância da preservação da cultura popular nas escolas municipais. Todas estas ações tiveram de ser interrompidas desde o aumento de casos de infecções no município.

A atual presidente do Cambinda Brasileira, a secretária de Cultura e Turismo de Nazaré da Mata, Edlamar Lopes, revela um perfil representativo do grupo para a cultura popular local ligada à tradição da passagem de ensinamentos entre as gerações e certa preocupação com esta interrupção. “Por ser referência não só no Estado, o Cambinda pode ser considerado um maracatu-escola. Aqui em Nazaré, já tivemos 23 maracatus em atividade, hoje temos apenas 16. Entre estes, vários foram os mestres que, nos últimos anos realizando atividades em outros grupos, já passaram por aqui e até conseguiram fundar os seus próprios maracatus. Hoje, não sabemos ainda se em 2022 poderemos continuar”, revela. 

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Antes do decreto oficial do cancelamento do carnaval de 2021, divulgado pelo Governo de Pernambuco, grupos como o Cambinda já estavam em processo de organização e produção para as saídas durante os dias de festejo. “No início, ficamos na expectativa se nós iríamos sair ou não. Durante o ano da pandemia, fizemos todo o trabalho de produção da maneira que conseguimos fazer, sendo em casa, com algumas pessoas escaladas, que já faziam parte do grupo e confeccionavam as peças. Nos precavemos, para caso fôssemos sair. Com o decreto, guardamos tudo e o grupo teve que entender e continuar com os cuidados para não adoercermos”, conta a presidente. 

Para Edlamar, a pandemia vai interferir não só na dinâmica do grupo, mas na ordem financeira do município, pautado, em grandes números, pelo turismo. Para quem dependia dos empregos temporários gerados durante o período do carnaval, este ano, não conseguiu exercer atividades que gerassem retorno financeiro. Recebendo cachê por apresentação e por articulação com os pólos de cultura dentro e fora de Nazaré da Mata, o Cambinda Brasileira e outros grupos de Maracatu não puderam contar com esta necessária fonte de renda. 

A trajetória do Cambinda foi reconhecida como ponto de cultura em 2008 pelo Governo do Estado e considerado Patrimônio Vivo, em 2019. Como uma forma de fôlego para os grupos de Maracatu e de Cultura Popular, os mesmos órgãos de cultura, através da Lei Aldir Blanc, em edital publicado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), disponibilizou um auxílio emergencial para a classe durante este período de adversidades na saúde mundial. 

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Mesmo com a ajuda, a expectativa para voltar às atividades como as tradicionais sambadas, a comemoração pelo aniversário de 103 anos, os dois ensaios oficiais antes dos festejos de momo, a competição dos grupos, intitulada “passarela”, e o movimentado domingo de Páscoa só aumenta. O cenário abre espaço para outros sentimentos de quem faz um Carnaval recheado de cor e história regional. “Para gente, fica aquele vazio, a saudade de lembrar como era se houvesse o carnaval. Eu vejo essa situação como uma forma de exercitar a espera. Ano que vem a gente vai tentar ver a possibilidade de ir para rua já com as indumentárias confeccionadas e com mais tempo para produzirmos o que tiver de produzir durante este ano”, finaliza Edlamar. 

Reconhecimento

Como forma de atender ao pedido do fundador da agremiação, João Estevão, que solicitou aos filhos a responsabilidade de não deixar o grupo encerrar sua contribuição à cultura estadual, em 2018, ano do seu centenário, o Maracatu foi tema do livro “Não Deixem o Brinquedo Morrer”, obra de arte-reportagem que aborda as mudanças enfrentadas pelo grupo ao longo das décadas para se manter em atividade. Com fotografia de Heudes Régis e texto da jornalista Adriana Guarda, a obra ainda reúne histórias de integrantes importantes para a história do mais antigo maracatu em atividade no território nacional.

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