Olimpíadas 2024

Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

A Dominação: batalha de rap feita por elas e pra elas

24 de maio de 2018

A Batalha da Dominação é um espaço que enaltece o rap como cultura e dá voz às mulheres da cena. Os encontros acontecem toda segunda-feira no Largo São Bento em São Paulo

Texto / Beatriz Mazzei
Imagem / Ana Amorim 

Na noite amena de 23 de abril de 2018, segunda-feira, mulheres vão chegando e se reunindo no centro da cidade de São Paulo, ao lado do metrô São Bento. As razões que as trazem até aquele espaço são diversas, mas uma delas se faz comum à todas: viver o rap.

O relógio bate oito da noite quando Gabi Nyarai (23), uma das fundadoras e organizadoras da Batalha da Dominação, anunciam o mic aberto. Ao passo que as mulheres recitam suas poesias livremente, mais pessoas vão chegando e se aglomerando.

Segundo Gabriela De Brito, mais conhecida como Gabi Nyarai, a Dominação nasceu de uma reflexão e de um incômodo a partir do momento em que ela e suas amigas Mc’s perceberam que as batalhas de rap eram frequentadas por muitas mulheres, mas só os homens rimavam. “Nós erámos cinco Mcs que andavam juntas, faziam um som juntas às vezes, encostava nas batalhas, mas percebia que as mulheres nunca rimavam. Então a gente pensou: bora criar uma batalha só pras minas!”.

No começo, os encontros aconteciam mensalmente, nos últimos sábados do mês. Agora, dois anos após a fundação, a Dominação ocorre semanalmente, todas as segundas e conta com uma equipe diferente da original. Ao lado da Gabi que se manteve desde o início, estão: Ari El, Jade Quebra, Ingrid Martins e Magda. Além das batalhas, a Dominação é um espaço para pocket shows de diversas artistas do rap.

corpo1

Bia Ferreira na Batalha da Dominação (Imagem: Ana Amorim)

Nos encontros, após o mic aberto, iniciam-se as batalhas das Mc’s que se alistaram. Mesmo durante o confronto de freestyle, o clima de harmonia se mantém, inclusive entre as competidoras, que se incentivam durante e após as rima. Dentre os temas escolhidos pela plateia naquela noite, foi citada a autoestima e o privilégio branco. É assim que as mulheres pretas conseguem usar o espaço para falar de suas mazelas. “O rap é uma cultura preta, ele surgiu na periferia e é sobre nós, sobre nossas vivencias, sobre a nossa cor. A gente é vítima do Estado e o rap é o nosso porta-voz, ele é uma ferramenta pro preto ser ouvido”, conta Gabi Nyarai.

Por conta desse clima de respeito e solidariedade, muitas mulheres aproveitam o espaço para tirar a poesia da gaveta pela primeira vez. “Tanto no ganhar ou no perder é um rolê que vale a pena pela troca de ideia, de energia. A gente fica encantada de perceber que as minas quando tão juntas, elas querem se acrescentar, se potencializar, e não diminuir uma a outra. Essa é a parte mais especial do rolê todo”, comenta Gabi.

corpo2

Gabi Nyarai mediando a batalha (Imagem: Ana Amorim)

Rimar pela primeira vez no Mic aberto da Batalha da Dominação foi o caso da Ana Beatriz (24), conhecida como Anarka “A Dominação é um espaço que eu tenho muito amor e apreço”, conta a Mc da Zona Norte de São Paulo.

Anarka começou no mundo do rap sem pretensão, escrevia sobre o que sentia na internet até que um amigo lhe disse que suas letras tinham ritmo e formavam músicas. Hoje Anarka é integrante do Projeto Preto, um grupo de rap formado por ela, DenVin, D’Ogum, T.R. e Vibox, que tem como perspectiva central a autoestima e a autoafirmação da identidade preta através da música.

Com inspirações que vão do funk brasileiro, passando pelo rock, jazz e rap, Anarka cita mulheres no momento de ilustrar suas referências e conta que o machismo dentro do rap é uma realidade. “Opressão se combate com revide, e esse revide tá acontecendo. Hoje na cena a gente vê mais minas, mais homossexuais, mais pessoas trans, o que ontem a gente nem cogitava”, conta a Mc.

Ainda sobre o machismo do rap, Jamillê Ferreira (22), Mc de Guarulhos, que também já recitou seus versos na Batalha da Dominação, acrescenta “o rap é machista porque o mundo é machista”, contando que o movimento passa por influências da sociedade.

Inspirada por grandes mulheres negras como Elza Soares, Karol Conká e Maya Angelo, Jamillê começou a se interessar por música quando era criança “Meu interesse pela música e pela poesia vem desde que me entendo por gente. Cresci vendo meus pais que eram cristãos fazendo arte em casa e na igreja”, conta.

Além da Dominação, a Mc já batalhou em diversas batalhas de Guarulhos, como a da Matriz, localizada no centro, e a dos Pimentas, na área periférica. Hoje, além de frequentar as batalhas, faz diversas apresentações em Guarulhos e São Paulo, integrando a cena cultural da cidade.

Leia Mais

Quer receber nossa newsletter?

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano