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‘A identidade negra aparece nos bailes black’, define organizador de festa preta

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26 de novembro de 2019

Importante na construção da identidade negra no país, os bailes blacks seguem atraindo jovens negros na zona leste de São Paulo

Texto / Lucas Veloso | Edição / Pedro Borges | Imagem / Acervo pessoal 

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 Era novembro de 2017 quando três amigos se juntaram para comemorar o aniversário de um deles ao som de hip-hop. Fizeram a festa e no fim, felizes com o resultados, decidiram criar um baile black. Assim começou a história da Team Black [em tradução livre, time preto], criada por Gabriel de Araújo, o Alfa, de 19 anos, e Renan Nascimento, mais conhecido como Chad, com 16 anos.

A primeira edição aconteceu em Cidade Tiradentes, zona leste, periferia de São Paulo e reuniu centenas de pessoas, sobretudo jovens.

Para Alfa, mostrar as potências das pessoas negras através da música é um dos maiores objetivos do evento, que acontece quinzenalmente. “Queremos exibir identidade aos jovens que não conhecem e espalhar a cultura negra em cada vertente musical, seja por meio da dança, do canto ou de um freestyle de roda”, comenta.

“Além de ajudar no empoderamento da população negra, cada festa que acontece é como se a população negra escutasse uma voz ao fundo gritar ‘Ei, vocês não estão sozinhos’. Acredito que as festas ajudam no empoderamento. As festas blacks são o gatilho mais forte de empoderamento que temos hoje”, define o organizador.

Ele defende a importância das festas negras para a autoestima dessa população. “É notório quando você está em uma festa voltada para o público negro. Os frequentadores se sentem livres para curtir o que gostam, dançar como forma de expressão, cantar, ter essa comodidade e liberdade pois sentem que ‘ali é o seu lugar’”.

Cada edição tem um tema. Uma das últimas foi inspirada na série “The Get Down”, disponível na Netflix, ambientada em 1977, retrata o nascimento do hip-hop e as vertentes culturais que ganharam relevância naquela época, como o freestyle de roda e os bailes blacks. “A gente recorre a temas que são legais e que ao mesmo tempo mostrem, aos jovens negros, como foi a nossa história e que referências podemos ter”, explica Alfa.

Hoje, em cada festa, participam cerca de 500 pessoas, sendo que a maior parcela do público é composta por jovens que moram nos bairros próximos da zona leste e que gostam de estilos como black music, rap, dancehall, hip-hop, ragga, trap e breakdance.

História

O que hoje é comum na zona leste de São Paulo já acontecia na cidade na década de 70, quando uma das ferramentas mais importantes para a autoestima da juventude afrodescendente era a cena de bailes black, como eram chamadas as festas espalhadas pelas periferias da capital paulista.

Segundo o pesquisador escritor, militante do movimento negro e um dos coordenadores do Quilombhoje – grupo paulistano de escritores -, Márcio Barbosa, no artigo Bailes Black, as festas sempre fizeram parte da vida da população negra.

Para ele, a musicalidade e o ritmo são intrínsecos à maioria das culturas tradicionais africanas e essa herança é expressa, de diversas formas, pelos afro-brasileiros. “Desde o pós-abolição, as diversas entidades que se formaram tiveram nos bailes uma expressão importante como atividade de lazer. Impedidos de entrar em festas de brancos, os afrodescendentes construíram seu próprio campo de entretenimento”, cita no texto.

Barbosa lembra que nas décadas de 70 e 80, o movimento soul usava um caráter mais educativo nas festas, inclusive, algumas lideranças do movimento negro iam nas festas fazer discursos, panfletar, chamar o contingente de jovens, em sua maioria negros, para uma ação política.

Da zona leste, Alfa acredita que a missão dos bailes continua a mesma, que é a de proporcionar espaço para que os negros possam exercer sua cultura e resistência. “
São negros unidos que trocam experiências sobre suas vivências e sobre seus obstáculos trilhados. São pessoas que às vezes só precisam de uma motivação para erguer a cabeça, arrumar seu blackpower e esbanjar o quanto ser negro é incrível”.

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