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Barbeiragem: muito mais entre as mãos do condutor e a arte na cabeça

16 de março de 2017

O projeto que será ativado a partir do próximo final de semana no Festival no Rio de Janeiro, relata o cotidiano de Gessica Justino e sua relação com seus barbeiros na favela da Mangueira.

Texto / Vanessa Cancian
Foto / Thásya Barbosa

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Em um país de racismo e desigualdade, a luta das mulheres e homens negros por sobreviver é diária. Contar suas histórias, criar suas vidas e existir. Um drible aqui, uma barbeiragem acolá. Foi nesse contexto que a produtora e idealizadora Géssica Justino, na comunidade da Mangueira, no Rio de Janeiro, resolveu transformar em documentário a relação com seus barbeiros, profissão marginal e histórica dos homens negros dessa cidade, capaz de criar universo de valores que ultrapassam os fios e as navalhas.

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“O Barbeiragem nasce da necessidade de documentar a relação de amizade e companheirismo que eu criei com Mineiro e Papinho, meus dois barbeiros, da favela da Mangueira”, conta Justino. “ As barbearias das favelas são quintais,, são lares e quem chega pode se tratar de diversas formas, é como se fosse a família que eu escolhi viver”, completa. Segundo ela, além das milhares de histórias que se passam nesses locais, os barbeiros são verdadeiros artistas, que seguem resistindo numa sociedade que marginaliza e criminaliza os homens negros. “Eles fazem barbeiragens diárias para sobreviver”, pontua.

O documentário, tem roteiro e direção de Yasmin Thayná e contou com o apoio da Rider para sua realização. Clique no link abaixo e veja o teaser do que vem por aí!

“Mais do que falar dos barbeiros e da sua profissão, Barbeiragem é o conjunto que une uma experiência audiovisual e diversas ativações que falam da magia energética que pode existir em barbearias de favelas  e a relação deste universo com valores humanos que ultrapassam a relação comercial e estética”, destaca a criadora. Ela ressalta também que a barbearia se transforma no espaço de orientação, de conexão, de aprendizado, sonhos, de quebra de paradigmas e que o valor cultural e subjetivo que existe nestes espaços evidenciam as barbeiragens necessárias  para fazer a vida acontecer todos os dias. A idealizadora do projeto explica, sobretudo, que o foco central da história toda, é, mostrar, questionar e evidenciar o que esse homem negro fez e faz para se manter vivo dentro de espaços carregados de violência.

O projeto Barbeiragem será ativado no Festival #DapraFazer. A exibição acontece no Rio de Janeiro, nos dias 18 e 25 de março e nos dias 1 e 8 de abril, na programação do “Cinemão” dentro do festival. Além da exibição do vídeo que será numa sala de espera, os presentes terão a alegria de encontrar e conhecer pessoalmente os dois barbeiros personagens do documentário estarão trabalhando para o público que tiver interesse nos serviços, e o pagamento será nos moldes “pague o quanto quiser”.

Com a palavra, os donos da navalha.

“O carinho e o convívio com as pessoas é o combustível para o meu dia a dia. Barbeiro tem que ser amigo, médico, psicólogo, tem que ser tudo”, conta Raimundo Nolasco, conhecido como Mineiro. O barbeiro de 30 anos de profissão relata o orgulho de poder compartilhar com o povo sua profissão e as peripécias desse ofício. “Tenho muito orgulho de fazer o trabalho que eu faço e acredito que o Barbeiragem veio pra somar, estamos felizes de fazer parte disso, aqui pra muita gente é morro, é favela, mas pra mim é um lugar muito digno de se morar, temos contatos com as pessoas, conversamos sobre as nossas vidas, nossos sonhos, tenho plena certeza de os sonhos de cada um aqui serão realizados.

“Eu, particularmente, pelo pouco que vi das filmagens, tenho muito orgulho de ter participado. Nunca havia participado de um projeto desse. A repercussão está sendo muito bacana e estou alegre, as pessoas têm comentado muito comigo aqui no salão. Tenho certeza que esse projeto vai ajudar muitos outros barbeiros a serem reconhecidos no mundo, pessoas que fazem ao vivo e a cores. Há muitos profissionais nessa área que são maravilhosos, são artistas e ninguém conhece”, relata o profissional que está ansioso para ver a versão final do documentário.

18/03 – Centro RJ

25/03- Madureira
01/04- Duque de Caxias
08/04- Recreio dos Bandeirantes

Barbeiragem

No caminho entre a palavra e a navalha, o toque e o assobio da escova no couro.

Minha cabeça é o guia.

O corre das linhas e o corre do dia.

Com a mente e o pêlo em sintonia.

Muito mais entre as mãos do condutor e a arte na cabeça, relações são geradas.

De cabeça em cabeça nossa rede, nossa troca de idéias.

Barbeiragem do ontem e de agora.

Desce o pente, corre a trilha.

Barbeiragem mostra o cotidiano da relação construída entre Gessica, Papinho e

Mineiro em duas barbearias da favela da Mangueira, no Rio de Janeiro.

Os barbeiros, Mineiro e Papinho, entre gambiarras, sem caminhos de rato e muita fé, acreditam, sempre, que dá pra fazer, e são as figuras chave nessa trajetória de encontro e cuidado.

Quais as barbeiragens necessárias para estar e se manter vivo?

A barbearia da comunidade vai além do corte, é lugar de encontro, acolhimento e

trocas, verdadeiro consultório do corpo e abrigo da alma. Onde se transforma vaidade

em penteado, história em ensinamento, vivência em confiança, conversa em amizade.

O respeito no toque, o som da máquina, a navalha desenhando geometrias entre

risadas. A bênção de séculos da profissão honrada e ressignificada

pela correria cotidiana. Fazer a cabeça vira arte.

Papinho e Mineiro são barbeiros autodidatas e sabem melhor que ninguém, que a cabeça é o guia. E de cabeça eles entendem.

Espelho. Sorrisos. Um beijo. E vai.

Siga sua cabeça.

Faça seu rumo.

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