Homens brancos são a maioria entre os presidentes das escolas de samba do Grupo Especial de 2023, de São Paulo e do Rio de Janeiro, conforme levantamento realizado pela Alma Preta Jornalismo. Ao todo, foram encontrados 23 presidentes brancos e 7 negros, além de 26 homens e 4 mulheres, entre as 26 escolas de samba que disputam no grupo especial em São Paulo e no Rio. Assim, aproximadamente 23% dos presidentes das escolas do Grupo Especial são negros e cerca de 13% são mulheres.
Em uma das escolas de samba de São Paulo, constam cinco pessoas como presidentes. Todos os nomes foram retirados do site da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo e da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa).
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Em São Paulo, 14 escolas fazem parte do grupo analisado, que desfilará no Sambódromo do Anhembi nos dias 17 e 18 de fevereiro. Ao todo, segundo método de heteroidentificação, foram encontrados três presidentes negros e 15 brancos, além de 16 homens e duas mulheres.
Listagem de escolas de samba segundo ordem de apresentação nos desfiles | Crédito: Alma Preta Jornalismo
Já no Rio de Janeiro, 12 escolas fazem parte do grupo especial com desfiles que acontecerão nos dias 19 e 20 de fevereiro. Ao todo, foram encontrados quatro presidentes negros e oito brancos, além de 10 homens e duas mulheres.
Listagem de escolas de samba segundo ordem de apresentação nos desfiles | Crédito: Alma Preta Jornalismo
O músico e professor do Departamento de História da PUC-SP Amailton Magno Azevedo explica que a hegemonia das pessoas brancas nas estruturas de poder nas escolas de samba espelha a hierarquia racial brasileira.
“Trata-se de uma questão que se arrasta no tempo e afeta não só São Paulo como também o Rio de Janeiro. Com emergência dos movimentos negros e sua critica ao racismo ‘made in Brazil’, a brancura no poder nas escolas de samba passou a ser questionada. Afinal, se o negro e a negra são os pensadores centrais da estética carnavalesca brasileira, por que não estão em posição de comando? Não se pode reservar apenas o papel de executor das ideias, mas também o de pensar os rumos políticos e administrativos da maior festa brasileira”, ressalta Magno, também escritor do livro “Sambas e quintais e arranha-céus: as micro-Áfricas em São Paulo” (2016).
Para a jornalista e pesquisadora de cultura afro-brasileira Claudia Alexandre, nas escolas de samba onde as lideranças são negras, há a preservação não apenas de uma trajetória negra, mas também de um projeto histórico pensado por homens e mulheres que, até hoje, mantém uma rede de sociabilidade que não abre mão dos elementos fundamentais e ancestrais: a Velha Guarda; rainha de Bateria negra e da comunidade; ala de compositores própria; entre outras.
“[Com a prevalência de presidentes brancos] acho que há um grande impacto no que vamos continuar contando sobre a importância da escola de samba como resultado de luta e resistência do povo negro pelas suas práticas festivas e religiosas. Tem presidente branco que não tem e não terá a escola de samba como um espaço político de tradições negras, onde a pauta racial deveria ser importante. A história negra em pouco tempo pode perder importância”, comenta Claudia, também autora do livro “Orixás no Terreiro Sagrado do Samba (Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai)”.
Sandro Avelar, presidente da escola de samba Império Serrano, também acrescenta que a prevalência de presidentes brancos à frente das escolas de samba é uma realidade antiga do Carnaval, mas que vem mudando aos poucos.
“Hoje temos um número maior de presidentes e de carnavalescos negros no Grupo Especial e no Acesso também. E é ainda mais importante quando estas pessoas vêm da própria comunidade da escola, pois mostra que o trabalho de base está sendo feito. As escolas estão olhando mais pra dentro e fomentando novos talentos dentro da sua própria casa. Isso mostra o potencial que o Carnaval tem de mudar a realidade de uma comunidade”, explica.
A pesquisadora de cultura afro-brasileira Claudia Alexandre finaliza destacando que o processo de espetacularização dos desfiles também mudou a estética e os valores da escola de samba, tirando os marcos das expressões afro-brasileiras. Esses marcos foram sendo substituídos pelo luxo visual e gigantismo para atender as exigências da indústria de massa e de consumo, que encarece a festa, afasta as comunidades e marginaliza o elemento negro.
“Uma dinâmica de apropriação, que está resultando no desaparecimento das tradições e lideranças negras”, completa.
Quem é Guanayra Firmino?
Crédito: Léo Queiroz/Divulgação Mangueira
Guanayra é a primeira mulher que foi eleita presidente na Mangueira e é a única mulher negra no cargo de presidente entre as escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Nascida no Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro, Guanayra Firmino está em seu primeiro ano de gestão como presidente da Estação Primeira de Mangueira, mas a relação com a escola é tradição familiar.
Seu bisavô, Júlio Dias Moreira, foi o segundo presidente da agremiação (1935 a 1937). Ela é filha da baluarte e presidente da Velha Guarda da Mangueira, Emergenilda Dias Moreira, a Dona Gilda, e de Roberto Firmino, presidente de 1992 a 19995, segundo informações publicadas pelo O Dia. Em 1992, ela foi responsável por criar a Ala da Comunidade, aproximando mais a comunidade da agremiação.
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