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Mulheres negras apostam em brechós para garantir renda e fomentar o consumo consciente

Empreendedoras mostram que a moda também pode ser acessível e ocupada por mulheres pretas; Conheça nomes do Nordeste que fomentam um consumo mais consciente 

Texto: Dindara Ribeiro | Edição: Lenne Ferreira | Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

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27 de outubro de 2021

Os brechós ressignificaram o consumo de roupas no mundo e viraram aliados tanto para consumidores, que economizam, quanto para as empreendedoras do nicho, que garantem autonomia financeira. Além das vantagens econômicas, os empreendimentos também fomentam o consumo sustentável dentro do campo da moda. Mesmo em meio a um cenário de crise econômica, o comércio de itens usados segue em alta. Pesquisa realizada pelo movimento Fashion Revolution mostrou que, em 2030, no Brasil, a cada 4 peças de roupas consumidas, uma será de brechó. Para empreendedoras negras nordestinas, os desafios são muitos, mas eles são driblados com a ajuda da internet e da criatividade. 

Compreendendo a realidade econômica e em busca de independência financeira, empreendedoras pretas têm apostado nos brechós online com a proposta de reciclar peças que seriam descartadas do guarda-roupa. Para além de promover acessibilidade e conscientização, elas se firmam como mulheres criativas dentro da moda, um lugar que historicamente excluiu esses mesmos corpos.  Mesmo em condições adversas, elas buscaram maneiras criativas de ampliar vendas e  se firmarem economicamente contribuindo para propagar um consumo mais consciente e fortalecer a economia de áreas periféricas, onde estão localizados muitos empreendimentos. 

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Para tanto, elas se movimentam para romper com estruturas tradicionais da moda, que muitas vezes explora e se utiliza de trabalho anàlogo à escravidão para lucrar em cima dos seus corpos. Nas mãos das mulheres pretas, a ideia é construir um legado de representatividade e de possibilidades para quem busca na moda um modo de sobrevivência. Para ampliar o alcance do tranalho dessas empreendedoras pretas, a Alma Preta Jornalismo reuniu o perfil de empreendedoras que mostram que a moda também pode ser acessada e construída por e para mulheres pretas. Confira:

Taís Teixeira – Pretas Brechó (@pretas_brecho)

TAIS TEIXEIRA BRECHO

Há 4 anos atrás, Taís Teixeira, de 23 anos, criou um perfil para repassar roupas que ela tinha no armário e já não usava. Precisando de uma grana extra, a jovem moradora do bairro de Pernambués, periferia de Salvador, investiu no seu negócio e hoje tira o seu sustento do “Pretas Brechó” (@pretas_brecho), brechó virtual que acumula 11 mil seguidores no Instagram. Com peças que variam do vintage (peças com mais de 20 anos de existência) aos clássicos modernos, o “Pretas Brechó” é um sucesso e comercializa roupas compradas em garimpos de bazares de rua e instituições beneficentes. As vendas são feitas pelo perfil do “Pretas Brechó” no Instagram.

Para Tais, a presença de mulheres pretas na moda é uma forma de estar na linha de frente na produção da moda popular e construir caminhos para nunca desistir dos seus sonhos.

“Acredito que a liderança de mulheres pretas na moda é muito importante, não só pela representatividade, mas também pelo fato de que sempre fomos nós quem sempre fez a moda popular acontecer. E apesar de sempre termos sido apagadas na história da moda, sempre estivermos lá, seja na parte criativa de criação, até a parte prática de costura, venda e etc.O brechó representa na minha vida um sonho que todos os dias luto pra não morrer, representa a sustentabilidade que acredito e pratico todos os dias e também a acessibilidade à moda que nunca pensei que poderia ter”.

Tamires Souza – Fluorescent Brechó (@fluorescent.brecho)

TAMIRES SOUZA

Assim como Taís, Tamires Souza, de 20 anos, não via no brechó a possibilidade de se manter financeiramente. Estudante no curso de técnica em Enfermagem, em 2018, ela não conseguia oportunidades de estágio e o pai estava desempregado quando resolveu abrir o “Fluorescent Brechó” (@fluorescent.brecho) junto com algumas amigas. Com o passar do tempo, acabou gerindo o brechó sozinha devido às suas necessidades financeiras, já que tinha que pagar as passagens de ônibus para ir para o curso, os materiais que precisava, e ainda dar um auxílio dentro de casa.

“Com o tempo e estudo sobre moda e empreendedorismo o brechó expandiu e se tornou um trabalho fixo, eu capto peças vintages (que foram produzidas há mais de 20 anos) e atuais e as vendas são feitas on-line pelo Instagram”, diz a empreendedora.

Com a pandemia, viu as suas vendas reduzirem ao mesmo tempo em que os preços dos materiais aumentavam. Para ela, o momento tem sido de desafio. “Temos que nos desdobrar em estratégias, promoções, tráfego para aumento do nosso engajamento online e consequentemente atrair mais pessoas e vendas, enquanto as grandes empresas ainda faturam o dobro que a gente faturaria sem pandemia”.

Sendo uma mulher preta representante da moda, Taís diz que, apesar das dificuldades, enxerga o movimento como “revolucionário” para a construção de um legado para as próximas gerações.

“O brechó representa na minha vida o meu lado criativo e minha independência, é nele que consigo expressar minhas ideias, conscientizar quem me acompanha para uma moda mais consciente/ambientária e foi com ele que estou conseguindo minha independência e estabilidade financeira e mesmo com os desafios, evoluindo cada vez mais”.

Maria Gabrielly Dantas – Cabroch4s (@cabroch4s)

Cabrochas

“Moda preta e sustentável”. É assim que o brechó Cabroch4s se identifica nas redes sociais. Capitaneado pela designer de moda e afroempreendedora Maria Gabrielly Dantas, de 24 anos, o empreendimento valoriza o reaproveitamento de peças usadas como base na disseminação de um consumo consciente. Ela é formada pela UniFBV e mora na Ilha de Itamaracá (Praia do Sossego), mais precisamente na Casa de Sal, 1ª casa de garrafa de vidro de Pernambuco com a mãe, Edna Dantas, que deu o ponta pé inicial para o empreendimento. O local também abriga a loja física onde Gabrielly faz suas experimentações inspiradas pela paisagem natural do litoral norte do estado e fundamentada na identidade negra e nordestina. Em novembro próximo, ela comemora dois anos do empreendimento em Pernambuco com uma bazar “Tudo por 10 conto”, que acontece em Santo Amaro, região central do Recife (Rua Bispo Cardoso Ayres, 481). 

“Sobreviver de um empreendimento sustentável no Nordeste é muito desafiador, mas ao mesmo tempo é poder criar uma nova história. É poder se afimar a partir de um consumo mais consciente e responsável e também desmitificar o que historicamente foi construído sobre os brechós como: “brechó é roupa de gente morta”, “é roupa velha” e “roupa de gente que passa necessidade”, exeplifica a designer de moda. Para ela, essa descontrução ajuda a criar uma nova consciência sobre consumo acessível, principalmente para as pesoas pretas, que muitas vezes sustentam o fest fashion e não recebem o mérito. Ela também destaca que os brechós criar uma nova linguagem que vai de encontro com a lógica das tendências impostas pela grande indústria.  

Além das vendas das peças, Gabrielly também investe seu talento na concepção de figurinos como stylist de clipes de artistas locais a exemplo das cantoras Uana, Bell Puã e Bione.  O brechó Cabroch4s integra o movimento Fashion Revolution e subverte a lógica do consumo conectada com a ancestralidade de mulheres que contribuiram para avanços no campo da moda. “A empreendedora que sobrevive de brechós ela movimenta uma economias secular e local. A grande maioria dos bazares onde se garimpam peças ficam em áreas periferícas, onde se movimenta grupos de mulheres pretas, o que ajuda na sustentabilidade das comunidades”.  

Lorena Caetano – Baobá Brechó (@baobabrecho_)

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Proprietária da Baobá Brechó (@baobabrecho_há 5 anos, Lorena Caetano, de 25 anos, é apaixonada por moda e decidiu criar o seu negócio durante um projeto na faculdade de Design, em 2016. Inspirada pela sustentabilidade e consumo consciente, ela enxergou no seu projeto uma possibilidade de tornar o seu negócio real. Como resultado, ela atua a frente do brechó desde 2019.

O Baobá Brechó comercializa peças também com o conceito de ‘upcycling’, voltado para a reutilização criativa de roupas que são transformadas em novas possibilidades. “Não quero ser só uma loja que vende roupas usadas. Eu tento imprimir a minha personalidade nas roupas que eu garimpo e nos upcyclings que eu faço”.

Como empreendedora preta, ela diz que, apesar dos desafios, se sente feliz com a representatividade que leva para as clientes.

“Quando eu posto minhas fotos e vejo que as pessoas se identificam, é muito gratificante de poder mostrar que as pessoas pretas podem, sim, ser as suas próprias referências de estilo, de tipo de cabelo, de penteado, de jeito de se comportar. Acho muito importante ter uma mulher preta a frente de negócios”

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  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

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