Sob reestruturação da nova diretoria, a mais tradicional escola de samba da cidade de São Paulo promete desfile forte na tentativa de subir para o Grupo Especial
Texto e imagem: Pedro Borges
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A história do samba na cidade de São Paulo se mistura com a do bairro da Barra Funda e com a da escola de samba Camisa Verde e Branco. Em 1914, foi criado o Cordão da Barra Funda, grupo liderado por Dionísio Barbosa e que desfilava pelas ruas do bairro com uma batida típica dos tambores do interior paulista. A data concede ao Camisa, como é conhecida a agremiação, o título de grupo de samba mais antigo do município.
De lá para cá, São Paulo viu amadurecer uma instituição responsável por alguns dos sambas enredos mais bonitos da cidade, o Camisa Verde e Branco. Detentora de nove títulos do carnaval paulistano, a escola sofreu uma forte crise na passagem do século XX para o XXI. Desde 2013, a agremiação desfila no Grupo de Acesso.
A nova diretoria, liderada por Érica Ferro, contudo, tem apresentado mais organização para a escola, quitado dívidas, reaproximado toda a comunidade e projetado desfiles cada vez mais competitivos para o trevo da Barra Funda, como é carinhosamente chamada.
“O objetivo da diretoria de Érica Ferro, que começou em 2019, é sanar os erros cometidos por diretorias antigas.. É trabalhar com transparência no componente, falando das dificuldades da escola, dos processos do carnaval e quais são as nossas escolhas. A gente tem apostado em uma diretoria mais participativa”, conta Dora Lia Gomes, diretora de comunicação da escola.
Há também a meta de trazer um público mais jovem para dentro da escola. “A gente quer ser reconhecido pela história, mas não só. Queremos uma escola pronta para receber pessoas jovens. O carnaval não é só o desfile da escola, é também cultura. É ser uma escola transparente, que cria a possibilidade para outras pessoas que queiram se aproximar do mundo do samba, mas que também respeite a tradição que o Camisa tem”, explica.
Desfile de 2020
Para o desfile de 23 de fevereiro, um dos objetivos da escola é corrigir erros do ano passado para disputar o primeiro e o segundo lugar, posições que garantem o retorno ao Grupo Especial. Dora Lia Gomes destaca dois quesitos fundamentais para isso: evolução e alegoria.
“Para o carnaval de 2020 o que a gente espera de diferente é principalmente a evolução da escola, porque o quesito evolução tem sido o calcanhar de aquiles há alguns anos. A gente também virá com melhores acabamentos na alegoria”, afirma.
O carnaval de 2020 é uma homenagem ao músico Carlinhos Brown. O samba enredo, com um ritmo envolvente, tem movimentado a comunidade e apontado o Camisa Verde e Branco como um dos postulantes ao retorno do Grupo Especial em 2021.
“Carlinhos Brown é um músico querido por todo o Brasil, muito conhecido pela sua história e pelas suas composições. Ele esteve presente no dia do lançamento do enredo na quadra da escola e a comunidade fez uma recepção muito calorosa. Ele também foi muito simpático e amoroso com a nossa comunidade. Tanto a organização do Camisa, os dirigentes, a comunidade, quanto ele, estamos todos muito felizes com essa escolha”, pondera.
A letra do samba conta a trajetória de Carlinhos Brown e destaca marcos da cultura baiana, como o Timbalada, o Pelourinho e também as religiões de matriz africana. Sobre a relação com os orixás, a diretora de comunicação recorda que faz parte da história do Camisa Verde e Branco.
“Os orixás regentes do Camisa são Ogun, que era o orixá do antigo Comandante Tobias, e regido também por Emolu, o orixá do Seu Inocêncio. A religião e o candomblé estão na raiz da escola desde a sua criação. Além disso, o Camisa é uma escola criada por pessoas negras, frequentada por muitas pessoas, então falar sobre candomblé, sobre os orixás, sobre religiões de matriz africana já faz parte da história da escola e de seus componentes”, acrescenta.
Quem tem a oportunidade de visitar a quadra e de conferir um dos ensaios técnicos nota uma escola com forte harmonia, bateria técnica e com ritmo encaixado. A força do desfile está centrada na presença de alguns destaques, como o vencedor carnavalesco Cebola, o intérprete oficial, Tiganá, e o diretor de bateria, Marcão.
O barracão do Camisa Verde e Branco também indica uma escola que buscará pontos máximos nos quesitos de fantasia e alegoria. Carros e roupas estão praticamente prontos e geram expectativa em toda a comunidade.
O Camisa Verde e Branco também organizou, de maneira recente, uma roda de conversa na escola para debater o lançamento do livro “Casa Verde, uma pequena África paulistana”. É a retomada de uma ideia de que a escola é um espaço onde deve-se discutir os problemas cotidianos.
Independente do resultado, o trabalho apresentado pela nova diretoria se mostra promissor e fortaleceu o orgulho da comunidade em destacar o amor pelo pavilhão.