Algumas marchinhas, criadas em outro período da história brasileira, carregam consigo manifestações racistas, machistas e LGBTfóbicas. O Alma Preta preparou uma lista com três músicas racistas e populares no carnaval
Texto / Alma Preta
Imagem / Divulgação/PJF
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Festa, fantasias, música, alegria e muita curtição. É assim para muita gente o período de carnaval, um dos feriados mais longos e celebrados durante o ano.
A celebração e a possibilidade de extravasar pelas ruas das cidades e as avenidas do samba, porém, não justificam práticas racistas, machistas ou LGBTfóbicas.
O Alma Preta, então, decidiu criar uma lista de marchinhas de carnaval de cunho racista. Assim, todos podem evitar a repetição dessas canções e colaborar para que todos, negros, brancos, indígenas, amarelos, celebrem a festa livres de qualquer opressão ou violência.
O Teu cabelo não nega – Lamartine Babo
(Trecho)
O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, eu quero o teu amor
A hipersexualização da mulher negra, representada pelo imaginário da “mulata”, é uma das manifestações racistas que mais atingem esse segmento da população. Vistas como objetos, as mulheres negras são cobiçadas apenas para o sexo, algo que ganha contornos ainda mais fortes em períodos do ano como o carnaval.
Não à toa, é nesse período do ano em que elas são representadas em rede nacional de televisão pela figura da Globeleza, a mulher negra, seminu e sambando para o público.
Mulata Bossa Nova – João Roberto Kelly
(Trecho)
Mulata Bossa Nova
Caiu no Hully Gully
E só da ela
Ê ê ê ê ê ê ê ê
Na Passarela
A boneca está
Cheia de fiu fiu
Esnobando as louras
E as morenas do Brasil
Assim como a primeira marchinha descrita, essa também reforça o lugar da mulher negra enquanto objeto sexual. Seria então no carnaval que ela, hipersexualizada, seria desejada ao invés das “loiras” e “morenas”.
Aqui também vale ressaltar a etimologia do termo “mulata”, resultado da palavra mula, que significa um animal “híbrido e estéril, proveniente do cruzamento de burro e égua ou de cavalo e burra”.
Nega Maluca – Linda Batista
(Trecho)
Tava jogando sinuca
Uma nega maluca me apareceu
Vinha com um filho no colo
E dizia pro povo que o filho era meu
Não senhor, toma que o filho é seu
Não senhor, pegue o que Deus lhe deu
(…)
Tudo acontece comigo
Eu que nem sou do amor
Até parece castigo
Ou então influencia da cor!
O nome da obra por si só já merece uma série de ressalvas. Quem seria a Nega Maluca? A resposta está atrelada ao estereótipo do negro, em especial da mulher negra, de desequilibrado.
Mais do que isso, a marchinha reforça o imaginário de que negras e negros são seres voltados única e exclusivamente para o sexo e fazem filhos sem compromisso algum.