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Dia do tatuador: mitos e cuidados da tatuagem em pele negra

Profissionais falam sobre a necessidade de compreender a diversidade e especificidade da pele negra antes e após fazer uma tatuagem

Imagem enquadra três especialistas em tatuagem em pele negra, sendo uma mulher negra e dois homens negros

Foto: Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

20 de julho de 2022

“Tatuagem branca ressalta melhor em pele negra”, “Tatuagem colorida não fica legal em pele retinta”, “Pele negra é mais comum para surgir quelóide” são alguns dos relatos que se costuma dizer em relação à tatuagem em pele negra, principalmente em peles retintas.

Hoje, no Dia do Tatuador, a Alma Preta Jornalismo busca desmitificar comentários sobre tatuagem em pele negra e conversou com especialistas para falar sobre representatividade e a falta do olhar dos profissionais para compreender a diversidade da pele negra e as suas especificidades. Confira:

KaLibre (DF)

Quando iniciou sua carreira, há nove anos atrás, Karoline Portela, mais conhecida como KaLibre, não enxergava pessoas como ela sendo representadas nos espaços nem nos traços das tatuagens. Um exemplo prático é que basta fazer uma busca pelos sites de pesquisa que é possível enxergar o padrão e o perfil das pessoas que aparecem em fotos de tatuagem.

Natural de Brasília, no Distrito Federal, a profissional viu na falta de representatividade uma oportunidade para resgatar a autoestima de pessoas negras e preservar a tatuagem como uma prática ancestral.

KaLibre, tatuadora especialista em tatuagem em pele negraKalibre Tatto | Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Considerada a primeira mulher negra especialista em tatuagem em pele negra no Brasil, KaLibre conta que parte dos mitos sobre a pele negra parte da colonização e da falta de informação sobre a aplicação e cuidados que é preciso ter ao fazer um trabalho em uma pele negra.

“A quelóide, muitas vezes é desenvolvida por causa da má aplicação de quem fez a tatuagem. A pessoa, pelo fato de não entender a pele negra, acaba ultrapassando os limites e ao contrário do que muitos pensam, a pele negra não é difícil de aplicar tatuagem”, explica a profissional.

Para além dos cuidados com a pele negra, KaLibre também busca descolonizar o padrão eurocêntrico dos traços das tatuagens, trazendo desenhos que ressaltam a representação da cultura africana e de povos originários.

Com mais de 13 mil seguidores, KaLibre compartilha imagens de tatuagem em diversos tons de pele negra. “Muitas pessoas retintas têm me procurado, têm se sentido cada vez mais representadas pelo meu trabalho”, diz a tatuadora.

{gallery}Ka Libre Tatto{/gallery}

“[A tatuagem] é algo que pode ser lido como luxo, mas é completamente ancestral. Hoje é luxo porque a galera lá atrás, além de ter mudado o nome, a premissa, os equipamentos, tinha uma significância tão especial quanto hoje, principalmente para elevação da autoestima”, comenta KaLibre.

Urbano Tattoo (BA)

Especialista em realismo preto e branco e lettering, William Silva, conhecido como Urbano Tattoo, conta que o resultado da tatuagem em pele preta vai depender de uma série de fatores, como por exemplo o estudo da pigmentação da tinta, do local do corpo onde o desenho será feito e do sombreamento.

“Às vezes, a galera tem a dúvida de que tatuagem em pele preta tem que usar tinta branca. Mas esses tons mais claros têm uma dificuldade maior de sobressair até mesmo em uma pessoa com a pele mais clara, porque são tons mais difíceis de serem pigmentados”, explica o tatuador.

Urbano Tattoo, tatuador especialista em tatuagem em pele negraUrbano Tattoo | Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Por causa das barreiras que são impostas às pessoas negras dentro do mercado da tatuagem, Urbano diz que muitos clientes contam que já procuraram tatuadores que disseram que não fazem trabalho em pele negra por ser mais “difícil”.

Além disso, o tatuador diz que os clientes também apontam que a maioria do perfil dos profissionais só traz fotos de tatuagens em pele branca, o que faz com que muitos não se vejam representados e desistam de fazer uma tatuagem.

“Por a gente ser preto, a gente entende esse cuidado e essa necessidade de ter um entendimento maior para poder levar essa informação ao nosso cliente e saber como atendê-los. Porque realmente têm muitos tatuadores que não têm essa preocupação e preferem até não fazer, muitas vezes por falta de informação”, ressalta.

Para além da estética, o tatuador soteropolitano enxerga a tatuagem como uma forma de autoafirmação e auxílio na autoestima de pessoas negras.

“Já vi altos relatos de pessoas que tatuei que disseram que a tatuagem ajudou muito na autoestima. Porque a gente passa a nossa vida inteira sendo alvo de chacota, de ouvir que a gente é feio e quando a gente tem o corpo riscado, a gente se sente melhor e isso também trabalha com a nossa autoestima”, relata.

 



 

Pablo Xamã (MG)

“Tatuando Gente preta em Gente preta” é a frase que apresenta o trabalho do tatuador mineiro Pablo Xamã. Assim como a maioria dos tatuadores negros, ele não tinha referência quando começou a carreira, em 2013.

Foi na prática que Xamã descobriu que as críticas que ouvia sobre tatuagem em pele negra eram, na verdade, uma falta de especialização dos profissionais em compreender as especificidades dessa pele.

“O que acontece é que a maioria das pessoas não têm entendimento do que é tatuar uma pele preta. Eles tentam alcançar o nível de contraste de um desenho que foi feito em um papel branco, em uma pele preta. Isso acaba machucando a pele e tornando o processo de cicatrização mais demorado. Isso não é culpa da pele, é do tatuador”, conta o profissional mineiro.

Pablo Xamã, tatuador especialista em tatuagem em pele negraPablo Xamã | Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Especialista em tatuagem com representações da cultura negra, Pablo Xamã também ressalta a necessidade de trazer mais representatividade para a área para que mais pessoas pretas possam se enxergar e ocupar esses espaços.

“A tatuagem sempre foi uma contracultura, sempre foi algo marginalizado e de umas décadas para cá ela foi tomada pelos brancos. Eles colocam um verniz cultural para poder se apropriar. As pessoas negras não têm acesso a esse meio porque ele é ocupado por pessoas brancas privilegiadas”, completa o tatuador.

{gallery}Pablo Xama Tatto{/gallery}

À Alma Preta Jornalismo, os profissionais deram dicas para pessoas negras que buscam fazer uma tatuagem:

  • Busque por profissionais negros e analise se eles realizam tatuagens em pessoas negras;
  • Ao entrar em contato com o profissional, peça para conferir fotos das tatuagens cicatrizadas, já que elas podem alterar de cor conforme o processo de cicatrização;
  • Peça indicação de pomadas cicatrizantes que vai se adequar melhor ao seu tipo de pele;
  • Converse com o/a profissional sobre o desenho e o local do corpo onde a tatuagem será feita;
  • Mantenha a pele hidratada antes e após o procedimento e utilize um protetor com fator solar adequado à sua pele.

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