Marginalizado por anos, o ritmo carrega na história grandes nomes da música brasileira e se ressignifica como guia das próprias narrativas do povo preto
Texto: Victor Lacerda | Edição: Fávia Ribeiro | Imagem: Carlos Piccino/Arquivo O Cruzeiro
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Como uma das heranças dos negros escravizados trazidos para o Brasil, os batuques africanos fizeram parte da construção do que, hoje, é chamado “samba”. Marco de resistência negra, faz parte de uma simbologia cultural que narra histórias marginalizadas e que é celebrado no canlendário nacional todo dia 02 de dezembro.
O gênero musical, perseguido nos anos de 1920 e que poderia ser motivo de voz de prisão para quem quisesse cantar ou tocar à época, representa a movimentação cultural originada ainda nos quilombos e as articulações musicais dentro dos terreiros, morros e cortiços de antigamente, que foi consolidado na festa popular nacional, o carnaval.
Lido como referência musical até os dias atuais, quem sai desse berço de periferia é o cantor Pixinguinha, um homem negro. No currículo, guardou na bagagem as ocupações de maestro, flautista, saxofonista, compositor e arranjador brasileiro. Outros nomes também entraram para o time e estrelaram nacional e internacionalmente o cenário musical do país, como Cartola, mais um homem negro que, como marco, foi um dos fundadores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira.
Com o tempo, a pluralidade de perfis cantando o samba passou a dar novo sentido à história do gênero, iniciado com um elenco predominantemente masculino e abriu espaço para vozes femininas, as quais ressignificam as melodias e foram sinônimo de sucesso da música popular nacional. Nomes como Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus – conhecida como “Rainha Ginga” por ser reconhecida como ponte das tradições afrobrasileiras, seus costumes e a cultura africana – protagonizaram a cena de mulheres nas rodas e abriram espaço para nomes como Alcione, Leci Brandão e Mariene de Castro.
Em Pernambuco, a sambista profissional desde 2015, Gabi do Carmo, reconhece que a, história do gênero na sua vida, também dialoga com traços da ancestralidade. “Antes mesmo de sonhar em cantar samba, só comecei a ingressar na noite e nas rodas por causa da minha mãe. Foi através dela e das minhas vivências que comecei a cantar minhas próprias narrativas. Com o tempo, aprendi que cantar samba é conduzir o que se é dito e entender o que carrega nossa história”, afirma Gabi.
A cantora ainda ressalta a seriedade que as letras de samba tradicionais carregam e como elas devem ser lidas nas ruas quando estão sendo tocadas. “Acredito que, na verdade, muitas pessoas que curtem o ritmo não enxergam como marco de luta. Vejo que existem pessoas que estão ali, me ouvindo, que só focam no batuque e em curtir. Para mim, não deve-se esquecer que nosso repertório é preto, é de terreiro e, o meu, também é de mulher. Com esse reconhecimento, para mim, o samba pode perdurar por muitos anos”, finaliza.
História
O nome “samba” é, provavelmente, originário do nome angolano semba, que seria um ritmo religioso, cujo nome significa umbigada. O Dia Nacional do Samba surgiu para homenagear o cantor Ary Barroso, por iniciativa de um vereador baiano, Luis Monteiro da Costa, para marcar a data em que o artista viajou à Bahia, pela primeira vez. A celebração foi se espalhando por outros estados e virou uma comemoração nacional.