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Documentário de Emicida mostra a participação essencial da população negra na cultura brasileira

7 de dezembro de 2020

“Eu não posso deixar que a mediocridade sequestre a minha grandeza”, é a principal mensagem do documentário, segundo o músico; “AmarElo – É tudo pra ontem” estreia na Netflix em 8 de dezembro

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: Jeferson Delgado/Divulgação

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O álbum AmarElo foi lançado em novembro de 2019 com canções que carregam mais do que mensagens e participações dignas do topo das paradas, como Zeca Pagodinho, Pabllo Vittar, Majur, Fernanda Montenegro e Larissa Luz. AmarElo Prisma, o projeto multiplataforma que virou podcast e tomou as redes sociais de Emicida e trouxe o convite para o respeito à pluralidade do Brasil e, com mensagens baseadas em paz, clareza, coragem e compaixão, abriu os caminhos para AmarElo – É tudo pra ontem, o documentário.

Essa introdução se faz necessário quando compreende-se uma das principais mensagens trazidas pelo novo documentário original da Netflix, dirigido por Fred Ouro Preto e produzido Evandro Fióti e concepção do rapper Emicida, o tempo e os caminhos que foram traçados pelo povo preto e seus ancestrais para que novas rotas e descobertas fossem traçadas hoje. Com o ditado iorubá “Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”, desde o início, o documentário é dividido em três atos.

Plantar

“Eu não sinto que eu vim, eu sinto que eu voltei. E que de alguma forma meus sonhos e minhas lutas começaram muito tempo antes da minha chegada”. É desta maneira que Emicida explica o ditado iorubá e introduz a história do povo preto na cultura brasileira no filme que mescla o show de lançamento do álbum no Theatro Municipal em 2019, trechos da criação de todo o projeto, e a viagem no tempo onde o público pode conhecer grandes nomes da história negra brasileira.

Os livros de história da população negra, como já cantou o rapper, foram discos e é através da arte feita pelo conjunto Oito Batutas que a história no documentário começa a ser contada. A união de AmarElo, o samba e o Modernismo, em especial a semana da Arte Moderna de 1922, em São Paulo, também faz parte do que estrutura essa história.

Passando por Ismael Silva, Mestre Marçal, Ivone Lara, Nelson Cavaquinho e Jair Rodrigues, a obra ensina sobre a formação da cultura brasileira a partir de uma perspectiva pouco comum dentro do ensino convencional.

É neste ato que a explicação sobre a ordem de AmarElo, o álbum de 2019, também começa a tomar forma. As vozes de acalanto no início de “Principia”, faixa que abre a obra, explica Emicida, remete à um sonho de quando o povo sentia afeto e fé e que reforça uma outra mensagem importante do documentário: o encontro.

Um dos encontros mais emocionantes ao longo de AmarElo, é tudo pra ontem, é o que acontece entre Emicida e Wilson das Neves, que se faz presente em toda a obra. Ele sempre dizia: “Fiquem juntos, assim vocês continuam fortes”, conta Emicida.

As referências vindas de das Neves vêm desde a compra de discos até o que o público ouve em “Quem tem um amigo tem tudo”, faixa com participação especial de Zeca Pagodinho.

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AmarElo – É tudo pra ontem” estreia na Netflix em 8 de dezembro. Foto: Jeferson Delgado/Divulgação

Regar

As imagens da estreia do álbum AmarElo no Theatro Municipal emocionam e são deslumbrantes, mais ainda pela forma que a importância da presença de pessoas pretas nesse espaço é contada no filme. Para Emicida, tem a ver com “marcar esse tempo e ter nesse marco um lugar físico”. O Municipal foi construído por pessoas negras e também é a elas que se deve boa parte da identidade cultural brasileira, como o modernista Mário de Andrade.

A resistência a manutenção da história da população negra brasileiro e o papel inegável disso para o que hoje é chamado de cultura é fruto da luta de diversos agentes que se organizaram. A exemplo do MNU (Movimento Negro Unificado), que na década de 1970 protestou na escada no Theatro, sem jamais imaginar o que aconteceria em 2019. Em determinado momento do filme, Emicida cita uma viagem que fez para o continente africano e afirma: “Essa aqui é pra devolver a alma de cada um dos meus irmãos que sentiram que um dia não tiveram uma”.

Colher

No solo plantado por Tebas, arquiteto responsável por diversos pontos históricos de São Paulo, como a praça da Sé, e homenageado no samba-enredo da escola Paulistanos da Glória em 1974 referindo a ele como “lenda, passado e presente”, AmarElo – É tudo pra ontem mostra os frutos colhidos com o avanço do povo preto que construiu a história nos últimos 100 no país.

A obra, que estreia na terça-feira (8) na Netflix, relembra também Abdias do Nascimento e mostra, no ato da colheita, a arte como uma ferramenta política potente e que o samba, quando se trata da cultura e também da resistência do povo, está na raiz. Os aprendizados deixados por AmarElo – É tudo pra ontem são maiores do qualquer resenha pode trazer, mas se existe uma dica a ser dada é: papel e caneta na mão e lenços de papel.

Apesar de todas as pautas políticas, sociais e culturais que permeiam e fazem parte do documentário, a principal mensagem que fica é a importância das relações. “Durante a elaboração do AmarElo, a gente ficava fazendo a seguinte pergunta: ‘Qual é a coisa mais importante de todas?’ Realmente é uma pergunta muito difícil. E a gente chegou à conclusão de que a coisa mais importante de todas é a relação. É o encontro. A vida só faz sentido quando a gente se encontra e é por isso que a gente coloca toda essa história de pé, falando sobre encontro”, conclui Emicida.

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