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Documentário usa poesia para abordar consumo de drogas na periferia

24 de setembro de 2018

Performance artística e a realidade de um sarau na Cidade Tiradentes se misturam em curta-metragem que mostra relação entre juventude, cultura e drogas

Texto e imagem / Divulgação

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Em meio ao consumo crescente de lança-perfume e inalantes em geral entre o público jovem na cidade de São Paulo, o curta-metragem “LANÇA” se propõe a abordar o fenômeno a partir do olhar e vivência de jovens artistas do extremo leste da cidade de São Paulo. Lançado dia 25 de agosto em evento especial na Ação Educativa – associação civil sem fins lucrativos que atua nos campos da educação, da cultura e da juventude, na perspectiva dos direitos humanos – e com exibição agendada para o próximo dia 4 de outubro, no Centro Cultural Grajaú, o curta-metragem pretende ser um disparador da discussão urgente sobre os danos causados pelo consumo de drogas entre jovens de periferia.

Com direção da artista Aline Magnos, “LANÇA” é o registro audiovisual da performance Lança-Poesia, do poeta e cabeleireiro Antônio Carlos Guerra (Tom), na qual frascos usados de lança-perfume são ressignificados ao serem preenchidos com pequenos poemas escritos à mão e depois redistribuídos entre os frequentadores da praça onde foram coletados. É no local que acontece o Luau Raiz Quadrado, onde foram feitas as filmagens, encontro que Tom e o dançarino François Augusto dos Reis, responsável pela performance final do filme, ajudam a organizar aos domingos na Cidade Tiradentes.

“LANÇA” destaca um debate que recebe pouca atenção: o uso de lança-perfume e outros inalantes vem causando cada vez mais mortes em bairros periféricos da capital paulista nos últimos anos. Boa parte das vítimas são jovens; porém, não há produção de dados oficiais sobre esse tipo de uso tampouco a elaboração de políticas públicas específicas para lidar com o problema.

“O filme mostra o protagonismo dos jovens ao pensarem uma intervenção capaz de mobilizar outros jovens para que reflitam sobre o uso do lança-perfume, que tem sido um problema entre eles e, a partir disso, ressignificar a dor da perda de amigos por conta do abuso da substância e da invisibilidade desse consumo nas periferias”, afirma Maria Angélica Comis, coordenadora de Advocacy do Centro de Convivência É de Lei, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua desde 1998 na promoção da redução de danos sociais e à saúde associados ao uso de drogas.

 

O curta documental vai ao cerne da questão ao apresentar um ambiente onde quem toma frente das ações são os próprios jovens inseridos nesses contextos de uso, todos envolvidos com a potente produção cultural das periferias de São Paulo.

“Esse tipo de iniciativa produzida a partir da realidade e perspectiva dos jovens é muito interessante. Primeiro, porque a questão do consumo de lança-perfume já tem sido levantada por educadores e profissionais da saúde há pelo menos 5 anos e os governos têm sido incapazes de apresentar respostas efetivas. Em segundo lugar, o filme apresenta uma linguagem que comunica entre pares, ou seja, de jovem para jovem, o que aumenta o alcance e impacto de sua mensagem”, avalia Nathalia Oliveira, presidente do Conselho Municipal de Políticas de Drogas e Álcool de São Paulo (COMUDA).

Segundo os dados não-oficiais citados pelo filme, em 2015, 111 jovens morreram em função do consumo de lança-perfume na cidade de São Paulo, a grande maioria menor de 18 anos. Em matérias produzidas pela grande imprensa nos últimos 3 anos, os únicos dados obtidos foram levantados a partir de estimativas da sociedade civil, como a Associação Rolezinho – A Voz do Brasil, que aponta que de cada 100 casos de intoxicação por uso de lança-perfume, 4 acabam em morte. Outro dado não-oficial indica 2 a 3 casos fatais por semana, segundo matéria publicada pelo site G1 em 2015. Somente em 2018, segundo matéria da revista Veja, aponta que 20 pessoas morreram em decorrência do uso de lança-perfume.

A falta de dados oficiais, nesse sentido, denota a urgência e relevância da proposta apresentada por “LANÇA”, que ainda tem exibições previstas na Fundação Casa e no circuito Spcine.

Serviço:
Exibição do filme “LANÇA” e Roda de conversa
Centro Cultural Grajaú – Rua Professor Oscar Barreto Filho, 252
Quinta-feira, 4 de outubro, às 18h

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