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“É um ato histórico”, define dramaturgo sobre antologia negra no teatro

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19 de junho de 2019

A coletânea considerou os autores vivos com obras já encenadas no país

 Texto / Lucas Veloso I Imagem / Divulgação I Edição / Pedro Borges

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Nascido e criado em Guaianases, periferia na zona leste de São Paulo, Jhonny Salaberg, 23 anos, é um dos autores presentes na recém-lançada antologia “Dramaturgia Negra”, um conjunto formado por diversos textos escritos por dramaturgos negros com obras já encenadas no país.

Salaberg escreveu “Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã”, a peça trata sobre as mortes da população jovem, negra e periférica. A história é contada através de um menino, que vai à padaria, leva um “enquadro” e acaba atingido por 111 tiros vindos de um policial. O número de balas faz referência a dois crimes: a Chacina de Costa Barros, no Rio de Janeiro e ao massacre do Carandiru.

“Me sinto honrado em estar ao lado de artistas tão potentes e talentosos do país inteiro. Isso enche o coração de sonhos”, comemora, ao lembrar do convite para compor a antologia.

A iniciativa da coletânea partiu da Fundação Nacional de Artes – Funarte, o órgão do Governo Federal com missão de promover e incentivar o desenvolvimento e a difusão das artes no Brasil.

Organizada por Eugênio Lima e Julio Ludemir, o livro mostra o que há de mais recente sendo produzido pelos dramaturgos brasileiros nos palcos. De todos os textos existe apenas uma exceção: a peça Récita, da poeta e dramaturga carioca Leda Maria Martins, a única não encenada.

A seleção dos autores considerou o mínimo de 50% de mulheres, a mistura de gerações, como Leda Maria Martins, a mais velha, até Jhonny, um dos mais jovens entre os escolhidos. Para incluir a questão de gênero Luh Maza, uma mulher trans, foi a escolha. Além disso, a geografia também foi considerada, com dramaturgos de todas as regiões do país.

“Essa obra pode ter mais edições, pois é uma demanda reprimida”, destaca Julio Ludemir, um dos curadores. “Existe um público que historicamente não foi contemplado pelas Artes, apesar de sermos o maior país negro fora da África”, argumenta.

Ainda segundo Salaberg, a importância dos textos reunidos está no fato de materializar o conhecimento ancestral, que ao longo do tempo foi esquecido na História.

“Cada vez que uma pessoa negra magnetiza seu conhecimento e registra sua existência nas páginas do tempo, um novo passo é dado”, pontua. “E são de passos firmes que a reparação racial é feita. E por isso, lançar uma antologia com 16 dramaturgias negras do país todo é um ato histórico, daqui até a eternidade”, completa.

A obra é dedicada a Abdias Nascimento, fundador do TEN (Teatro Experimental do Negro), em 1944, e curador do “Dramas para Negros e Prólogo para Brancos”, de 1961, conjunto de textos que versam sobre a presença dos negros no teatro, mas com uma observação: nem todos os autores eram negros.

SERVIÇO
Dramaturgia Negra
Vários autores. Organização: Eugênio Lima e Julio Ludemir.
Ed. Funarte. R$ 30. 480 páginas.
Encomendas para todo o Brasil pelo e-mail: [email protected]
Mais informações: [email protected]

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