MC Soffia entrou para a cena do Rap em 2016, quando lançou seu hit “Menina Pretinha”, que viralizou no YouTube. No início de sua carreira, suas músicas já tinham uma abordagem de empoderamento, versavam sobre a importância da autoaceitação enquanto menina preta e questionavam a falta de representatividade nas bonecas.
Hoje a música de MC Soffia é ainda mais incisiva. O hit “Meu Lugar de Fala” discute a solidão da mulher negra, através de versos que colocam o dedo na ferida de homens e mulheres pretas, quando o assunto é relacionamento e racismo estrutural: “Eu faço questão de questionar no texto, quando os pretos vão amar as pretas?”, diz um trecho da música que já atingiu mais de 5 milhões de acessos no YouTube, e está disponível nas principais plataformas de streaming.
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Para entender as referências da cantora, suas inspirações e trajetória na cena do Rap. A Alma Preta Jornalismo conversou com a artista. Em entrevista exclusiva neste 6 de agosto, Dia do Rap Nacional, a MC falou sobre ser fã da cantora Elza Soares e fez menção a todas as rappers que admira e tem como inspiração.
APJ: o que você diria para a MC Soffia do início de sua carreira?
MC Soffia: Eu diria para ela continuar a acreditar nos sonhos dela. Que nem tudo vai ser tão fácil, mas o importante é acreditar que uma hora vai chegar lá. Tem várias barreiras. A gente deixa de ter algumas amizades. Precisa começar a pensar em novas músicas. E ir melhorando em questão de texto. Mas pode acreditar que uma hora o sonho vai dar certo, como sempre deu.
Quando pequena você falava bastante sobre as várias carreiras que pretendia seguir no futuro. Hoje mais madura e estando no auge de sua carreira, você pensa em outras possibilidades para um futuro próximo?
Agora, como já cresci e me estruturei melhor, não penso em ser tudo aquilo que pensava quando era criança. Eu quero continuar cantando, mas abranger outros espaços no meio artístico mesmo. Pretendo desfilar, ser atriz, modelo, que são coisas que como cantora consigo fazer. Entre os americanos isso é comum. Eles além de cantar têm marcas, participam de filmes e é isso o que eu pretendo fazer. Como já fiz, inclusive, participei de filme, desfilei, fiz minissérie. Então esses sonhos eu já estou em processo de realização.
O que o Rap trouxe pra sua vida e de sua família?
O Rap entrou na minha vida através dos meus familiares já tinham essa vivência, eles iam muito para eventos, já acompanhavam os cantores, então eu nasci nesse meio. Através do rap surgiram várias coisas boas, porque eu como porta-voz da música consigo abranger mais pessoas. Então como tem muitas pessoas que ainda não conhecem os elementos do Hip-hop, ou não tem tanta vivência de empoderamento abordado nas minhas músicas, eu consigo levar essa mensagem a mais lugares. Como nas escolas, levando para a juventude preta. E os temas que eu aprendo em casa com a família, consigo levar para a galera toda.
Quem são as principais inspirações da sua carreira?
Adoro a MC Soffia! Brincadeira. Elza Soares é a minha inspiração. Eu já a escutava desde pequena. Nós fomos em premiações juntas. Ela é uma das minhas maiores inspirações.
Eu queria também mandar um salve para as mulheres do Rap, vou falar o nome delas aqui. Que eu me inspiro bastante. Eu que sou uma menina do Rap entendo que a gente vive através de referências e inspirações. Então eu não cheguei aqui sozinha. Se não fossem elas que eu escutava desde pequenininha, e ainda ouço, mostro para a minha irmãzinha e para a galera de casa. Vou mandar um salve aí pra Tássia Reis, Flora Matos, Stephanie MC, Odisseia das Flores, Sharylaine, Rose MC, Amanda Negrasim, e para todas as minas do Rap. Vamos estar sempre aí nessa luta para que cada vez mais as mulheres tenham visibilidade no mundo da música.
Sobre a música “Meu lugar de fala”, nome que coincide com a música da Elza Soares, qual a principal reflexão sobre ela?
A mensagem que ela traz reflete sobre um tema que tem sido bastante abordado, que é sobre lugar de fala, inclusive que é algo que ainda estamos aprendendo, uma pauta muito boa. O que é lugar de fala? É o lugar em que nós mesmos somos protagonistas das nossas próprias histórias. Então, eu enquanto menina preta posso falar sobre as minhas dores, meus sentimentos, porque esse é o meu lugar. E essa música é muito sobre esse sentimento. Fala da minha verdade e de um olhar que eu tive por um período. Que ainda tenho, assim como a maioria das mulheres pretas. Usei do meu espaço, do meu lugar que é ser cantora e coloquei o que me causa incômodo nessa música.
Nesse embate entre homens e mulheres pretas, que você cita na música, MC Soffia já teve alguma vivência em que se sentiu preterida e se decepcionou?
Muitas vezes nas baladinhas que vamos na juventude. Eu e outras meninas pretas sentimos que somos sempre as últimas a serem escolhidas ou que ninguém olha para a gente. Para o menino preto acaba sendo mais fácil se relacionar. Agora para a menina preta é bem difícil. Os cantores pretos até cantam músicas para a gente. E aí falamos, ah esse é meu crush! E aí quando vai ver, não somos nós as escolhidas. Então vai muito das situações e isso é em um geral, homens pretos do esporte, da moda, de todas as áreas. É o que o racismo estrutural faz com a gente. Os meninos para serem aceitos eles precisam estar com as meninas brancas, é o que eles pensam. São coisas que para serem desconstruídas levarão muitos anos. É um debate e uma reflexão longa.
Qual a mensagem que gostaria de transmitir hoje para as crianças que desejam entrar na cena do Rap?
Para as crianças que estão começando no Rap é que elas estudem bastante. O Rap é um estudo, a gente precisa aprender sobre a nossa cultura, nossa história, nossos elementos. E para elas acreditarem que uma hora vai rolar. Se você tem o sonho de ser cantora, não adianta só treinar. Quer dançar? Treina! Precisa praticar mesmo. Que tudo conta como um treino.
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