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Escola de Samba já havia denunciado o descaso com o Museu Nacional

10 de setembro de 2018

Em fevereiro de 2018 a Imperatriz Leopoldinense cantou o bicentenário e fez um alerta pela preservação do Museu Nacional

 

Texto/Aline Bernardes

Imagem/Acervo

“Relembrou aqueles dias que não voltarão jamais”, poderia ser uma previsão, mas era só um trecho de um samba-enredo. Os autores dessa música Jorge Arthur, Maninho do Ponto, Julinho Maestro, Marcio Pessi e Piu das Casinhas não imaginavam que depois de alguns meses veriam nas telas das televisões o Museu Nacional em chamas.

As comemorações oficiais do bicentenário da instituição iniciaram no Carnaval carioca em fevereiro de 2018.  O Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense atravessou a Marquês de Sapucaí com o enredo “Uma noite Real no Museu Nacional”

.200 anos em 75 minutos

Ao longo de 2017 o carnavalesco Cahê Rodrigues, 42 anos, conviveu com os funcionários e pesquisadores para construir o cenário da instituição de forma lúdica. Inicialmente, o seu desafio foi dar vida às diferentes coleções do Museu Nacional/UFRJ nas suas áreas do conhecimento: antropologia; botânica; zoologia; geologia e paleontologia.

“Eu pensava nessa homenagem há três anos e desenvolver essa história na avenida foi difícil porque ali dentro havia várias possibilidades de contos”, disse. Ao longo dos anos a história da instituição científica costumava ser apresentada separadamente da atuação dos históricos moradores do Paço de São Cristóvão e suas contribuições às ciências no Brasil no século XIX.

A pesquisadora do Museu Nacional Regina Maria Macedo Costa Dantas, 56 anos, ressaltou ao Alma Preta a atuação do carnavalesco Cahê Rodrigues. Para ela foi criada uma nova hierarquização das duas histórias: à criação do Museu Real; desenvolvimento de políticas de ampliação das coleções e demais ações em prol das áreas do conhecimento do Museu Nacional desenvolvidas ao longo de seus 200 anos de existência.

“As coleções de aves, com ovos de aves raras, de insetos eram riquíssimas. Coisas lindíssimas e delicadas, como a coleção de borboletas. Peças que eram muito bem cuidadas pelos pesquisadores e funcionários que tratavam aquele espaço como se fosse a sua própria casa”, relatou.

Apesar da preocupação de quem trabalhava por lá, Cahê conta sobre a falta de manutenção do prédio e os 200 anos de história perdidos. “Milhares de peças que jamais poderão ser vistas pelo grande público. Uma tragédia anunciada porque o Museu vinha pedindo socorro há muito tempo, a infraestrutura do prédio estava abalada. Como brasileiro e artista eu fico indignado com o descaso dos governantes. Uma tristeza em pensar que milhares de pessoas não poderão ter o contato com a riqueza do acervo que lá estava”, lamentou.

O samba na academia

Como é de conhecimento, no Museu Nacional além dos acervos também funcionava uma Universidade. A antropóloga Renata Meneses, 53 anos, fazia parte de um grupo de pesquisa que atuava lá chamado LUDEM (Laboratório de Antropologia do Lúdico e do Sagrado).

Esse grupo surgiu em primeiro lugar para pesquisar sobre as devoções existentes no Brasil, a relação dos santos com as religiões de matrizes africanas ou não. “O Museu Nacional é um espaço de muita autonomia intelectual”, conta.

O Carnaval surgiu como tema nesse grupo de maneira inesperada porque a escola do grupo de acesso Renascer de Jacarepaguá levaria um enredo que versava sobre Cosme e Damião em 2016. Então os alunos de pós em antropologia acompanharam essa escola para um trabalho de campo em pensar na simbologia do evento.

Para ela estudar o carnaval é perceber outras noções de sagrado, e é importante para entender outras lógicas que perpassam a nossa que mais judaico-cristã e ocidental.  “Como a potência e forma de resistência negra das escolas de samba é respeitar essa realidade, aprender outras maneiras de estar no mundo”, enfatiza.

“Os enredos falam sobre o momento histórico, mas não são só sinopse. Ao mesmo tempo que são história,são coreográfica, canto, dança, alegoria, fantasia e a gente descobre que na verdade precisamos entender a complexidade de todos esses elementos juntos, a polifonia do Carnaval”, finaliza a antropóloga.

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