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‘Existir também é resistir’: lançamento de Rael exalta o conceito de blackjoy

No recém-lançado “Na Pista Sem Lei”, o artista se baseia conceito que defende a alegria como forma de honrar e celebrar a negritude
Para o artista Rael, o cantor Jorge Ben Jor é um exemplo brasileiro do movimento ‘blackjoy’, que exalta a felicidade negra.

Foto: João Victor/Acervo Lab

22 de novembro de 2024

Blackjoy é um termo contemporâneo, criado como uma forma de resistência e expressão da identidade negra. Originado nos Estados Unidos e utilizado em outros países afrodiaspóricos, o movimento reforça a felicidade como uma ferramenta revolucionária capaz de celebrar a coletividade e honrar a comunhão entre pessoas negras.

A “Alegria Negra”, uma das traduções literais para a palavra, é também uma resposta à exposição frequente a traumas, estereótipos e desigualdades que atravessam a vida das pessoas negras. Essa é a essência que guia o novo lançamento do rapper Rael, “Na Pista Sem Lei”, lançado na edição especial da Discopédia na capital paulista, neste mês de novembro.

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A festa é conhecida na cidade de São Paulo pela exaltação da música negra na discotecagem “100% vinil”. Na edição especial para a primeira exibição do clipe, na qual a Alma Preta esteve presente, o local se transformou na representação ideal do conceito apresentado pelo artista na música.

O tributo à coletividade e a negritude pôde ser visivelmente identificado no público, que lotou a pista de dança ao som de clássicos da cultura preta. No palco, os discursos do artista, junto ao empresário Evandro Fióti e a cineasta Aisha Mbkilia, que também trabalharam no projeto, reforçou o caráter coletivo que a obra traz.

Em entrevista, Rael conta sobre seu entendimento acerca do termo estadunidense, sua nova produção e o futuro álbum, previsto para ser lançado em 2025. O compositor explica que a nova música já nasceu destinada ao blackjoy desde a construção das batidas. Apesar de ser recente, ele acredita já haver representantes brasileiros desse manifesto, como Jorge Ben. 

“O blackjoy é uma ferramenta também, sabe? Nós vamos conseguir ter um futuro onde nos vemos de outra maneira, quando tivermos dispostos a usar todas as ferramentas ao nosso dispor. Inclusive a nossa alegria”, explica o rapper.

Rael ressalta que a ideia da felicidade como resposta à opressão racial não é algo que pretende suprimir as demais formas de se lidar com o racismo. Apenas representa outra perspectiva e, ao mesmo tempo, festeja a vida das pessoas negras. 

“A gente já vibrou muito na onda da raiva e da dor para lidar com os sistemas de opressão. Essas também são ferramentas válidas, mas a alegria também é uma. O sorriso também pode ser eficaz quando estamos diante do inimigo, nossa alegria incomoda. Estar vivo é um ato de resistência. Estar em existência também é um ato de resistência”, completa.

Quando ainda era pré-adolescente, Israel Feliciano, nome de batismo do artista, teve a consciência racial despertada pelo hip-hop, gênero que o acompanha desde muito novo. Com uma trajetória de décadas na música, hoje Rael replica o feito com os meninos, meninas e adolescentes que consomem sua arte.

“Acaba sendo uma coisa meio griô, assim, que vai passando de um para o outro. É algo que o Racionais fez comigo e eu consigo fazer outros jovens. É uma dívida de gratidão que eu tenho com o hip-hop, com essa ideia de abrir as mentes e mostrar o real fato que a sociedade esconde diariamente fingindo não ser racista. Ter ao nosso lado um movimento que traz essa narrativa, que empodera as pessoas é algo maravilhosa. Me sinto honrado em estar incluso nisso”, declara.

O novo lançamento de Rael é uma colaboração com o conterrâneo Rincon Sapiência e o mineiro FBC, ambos representantes de destaque do rap nacional. Com estilos musicais e líricos distintos, a obra demonstra uma pluralidade artística do rap e também nas temáticas pautadas pelo gênero.

“É muito gostoso você ousar e se permitir a fazer coisas que saiam um pouco do padrão estabelecido dentro da própria cena, seja como foi com o trap ou o ‘rap gângster’ [subgêneros musicais]. Poder ousar, trazer a nossa essência e o que estamos vivendo naquele momento”, saúda o compositor.

Resumidamente, a primeira música desta nova fase é um manifesto ao direito à vida. Não sendo somente sobre utilizar a felicidade como resposta ao sistema racista, mas também sobre poder apenas desfrutar positivamente a experiência de ser e existir enquanto pessoa negra.

“A Aisha sintetizou toda essa ideia no clipe. Aquele dia de festa, naquele pique. Se arrumar, a pretaiada toda elegante e sorrindo, dançando. Esse contexto de alegria. As pessoas estão acostumadas com a gente pra baixo, as perguntas pesadas são para nós, as questões políticas sempre são para nós. Às vezes a gente só que trazer um trabalho artístico, cheio de ritmo e beleza”, conclui.

  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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