Na sociedade brasileira quais são os medos das mulheres? Esses medos são condicionados por diferentes razões vinculadas às questões de classe, gênero e raça? São essas perguntas que serão discutidas em ‘Falas Femininas, Histórias Impossíveis‘, nova minissérie da Rede Globo.
A autoria da obra é de três mulheres negras: Grace Passô, Renata Martins e Jaqueline Souza. Com 5 episódios, ‘Falas Femininas, Histórias Impossíveis’ pretende abordar, através de diferentes perspectivas raciais e de gênero, utilizando metáforas cotidianas, algumas efemérides do ano: Dia dos Povos Indígenas, Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, Dia Nacional das Pessoas Idosas e Dia da Consciência Negra.
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A intenção é que a minissérie consiga dialogar com o grande público sobre temas atuais e importantes para a sociedade, desmascarando desigualdades presentes no cotidiano através de traumas, preconceitos e violências que são normalizadas no Brasil. O roteiro procura explorar circunstâncias de ‘horror’ social causado por relações de poder profundamente desiguais com toques de fantasia e suspense.
Na última sexta (3), a Alma Preta Jornalismo acompanhou o lançamento de ‘Falas Femininas, Histórias Impossíveis’, que teve a exibição do primeiro episódio, intitulado ‘Mancha’, e um bate papo com as autoras, diretoras e atrizes no Rio de Janeiro.
O episódio retrata a relação entre Mayara, empregada doméstica interpretada pela atriz Luellem de Castro, e sua patroa, Laura, interpretada por Isabel Teixeira, muda após Mayara decidir investir nos estudos depois de passar no vestibular. Mayara acredita que Laura é uma patroa diferente, até o momento em que a empregadora pede que ela desista de sua carreira e continue trabalhando em sua casa.
Apesar de ser um tema bastante presente na produção audiovisual brasileira, para Everlane Moraes, diretora do episódio e estreante na Rede Globo, a importância de contar essa história está na frontalidade com que as autoras e a direção decidiram desenvolver as temáticas raciais e de classe.
Ela pontua que, mesmo com muitas histórias existentes sobre a relação empregadas domésticas e seus patrões, “geralmente carregadas de estereótipos e finais trágicos, o episódio ‘Mancha’ promove outros incômodos e possibilidades tanto para as personagens quanto para o público” em suas palavras.
Em entrevista à Alma Preta, a roteirista Grace Passô diz que a intenção desse episódio é que o grande público possa reconhecer sua realidade nessa história e os absurdos do nosso cotidiano:
“O episódio ‘Mancha’ parte de uma situação DNA da nossa realidade brasileira. […] O que eu espero, sobretudo, é que as pessoas possam reconhecer os seus próprios cotidianos nessa ficção e também reconhecer que a realidade brasileira tem gêneros e, muitas vezes, mistura terror com fantasia. Espero que o grande público possa reconhecer os absurdos presentes na nossa realidade cotidiana”, explica Passô.
O episódio é em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, uma data ainda muito vinculada ao feminismo branco na busca por reconhecimento e garantia de direitos. Para a diretora artística Luísa Lima, quando questionada sobre isso, diz que a série deve instigar no público o reconhecimento das diferentes experiências de ser mulher no Brasil diante de questões de raça e classe.
“Essa série traz a importância de enxergarmos a condição das mulheres de diferentes pontos de vista, porque ser mulher significa muita coisa. O que é ser uma mulher branca de classe média alta e o que significa ser uma mulher preta, pobre, empregada doméstica?”, conta a diretora.
“Acho que é muito importante para as mulheres brancas que estão mais acostumadas a se reconhecerem nesse Dia Internacional da Mulher perceberem que elas precisam sair desse lugar egóico das próprias vidas, olharem para outras mulheres em diferentes condições e saberem também como contribuir para a transformação dessa desigualdade perpetuada umas com as outras” completa.
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