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Filme de Jeferson De mostra embate contra o racismo em meio à jornada espiritual

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22 de dezembro de 2020

“M-8: Quando a Morte Socorre a Vida”  foi um dos pré-selecionados para o Oscar 2021 e faz reflexão sobre o corpo negro na sociedade brasileira

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Divulgação

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O cineasta Jeferson De é um homem negro que ocupa um lugar causador de desconforto e estranhamento, principalmente para a branquitude, acostumada construir todas as narrativas – o audiovisual. Jeferson De rompe com tudo isso no filme “M-8: Quando a Morte Socorre a Vida”, ao falar de religiosidade de matriz africana e da violência contra corpos negros no Brasil. 

“No filme eu retorno ao meu processo de formação de estudante de cinema, com Sembene, Spike Lee e Zózimo Bulbul, mas tenho assistido tantos filmes inspiradores e mantido contato com artistas tão provocadores que cito alguns como: Moonlight (2016), de Barry Jenkins; as obras de Steve McQueen e Antoine Fuqua. Me sinto dialogando com cada um e seus filmes tão diversos”, diz o cineasta, em entrevista à agência Alma Preta.

A expressão do olhar da mãe Cida (Mariana Nunes) quando o filho Maurício (Juan Paiva) diz que não quer ir ao terreiro é uma expressão reveladora acerca da carga de ancestralidade e fé presente no filme. A atriz Mariana Nunes dá magnitude para a personagem que é mãe solo e enfrentou dificuldades para conseguir dar um futuro melhor para o filho. Ela é o Brasil real que pouquíssimas vezes se vê no cinema.

Após passar como cotista no vestibular de Medicina em uma universidade pública, onde os alunos são brancos, ricos e da zona sul do Rio de Janeiro, Maurício, único negro da turma, se envolve numa jornada para descobrir mais sobre os corpos de indigentes usados nas aulas de anatomia e que, após o semestre de estudos, serão jogados na vala comum da prefeitura. Todos os corpos são negros, assim como os funcionários da universidade, exceto o professor. Na trama, Maurício quer enterrar dignamente o corpo M-8, mas encontra uma barreira no protocolo da instituição.

“M-8  é o melhor filme de Jeferson De, na obra vemos a intersecção entre a busca estética e a denúncia social na medida”, avalia o ator e ativista Sidney Santiago Kuanza, co-fundador da companhia de teatro Os Crespos.

O cineasta

Aos 52 anos de idade, Jeferson De é natural de Taubaté, cidade do interior de São Paulo. O primeiro longa-metragem de sua carreira foi Bróder, de 2011, rodado no bairro do Capão Redondo, no extremo sul da capital paulista, e que ganhou o prêmio de melhor filme pela APCA (Associação Paulista de críticos de arte), além de outras 11 indicações no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

“Ele é um dos diretores mais provocadores da nossa geração. Ele cumpriu um papel fundamental na virada dos anos 90 para os anos 2000 quando propõe o Dogma Feijoada, sobre a urgência para que o cinema negro fosse mais preto tanto no protagonismo como na equipe”, comenta a roteirista Vivi Pistache, pesquisadora e crítica de cinema.

Em 1997, Jeferson De, ainda estudante de cinema, liderou uma mostra de cinema negro no 11º Festival Internacional de Curtas de São Paulo, chamada Dogma Feijoada, a partir do manifesto Gênese do Cinema Negro Brasileiro, escrito por De e com alguns pontos principais, entre eles os seguintes: O filme teria de ser dirigido por realizador negro brasileiro,  o protagonista deveria ser negro, a temática teria de estar relacionada com a cultura negra brasileira, personagens estereotipados negros (ou não) estariam proibidos, o roteiro deveria privilegiar o negro comum brasileiro, e super-heróis ou bandidos deveriam ser evitados.

A mostra, na época, teve seis curtas, entre eles o “Gênesis 22” , escrito e dirigido por Jeferson De. O longa M-8 estava na lista dos pré-indicados para o  prêmio de filme estrangeiro do Oscar 2021, mas o escolhido foi a documentário sobre o diretor Hector Babenco.

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