A dupla Craca e Dani Nega, que tem dois discos lançados, já ganhou dois prêmios graças a sons nos quais discursos atuais e ritmos inovadores são marcas registradas
Texto / Thalyta Martins
Imagem / Cacá Bernardes
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A dupla paulistana Craca e Dani Nega lançou o segundo álbum há uma semana, em 20 de abril. Intitulado “O Demanche”, o trabalho traz discursos sobre feminismo, religiões de matriz africana, genocídio negro e racismo. Dançante, o disco embala reflexões atuais e ainda necessárias.
Composto por nove faixas, o álbum conta com participações especiais, e tem levada envolvente e agradável graças à mistura ágil e certeira do hip hop com música eletrônica. Nos shows, a criatividade é reconhecida por meio das projeções em videomapping, em que são utilizadas superfícies para a transmissão de mensagens ao público.
Início
Dani Nega é atriz, MC, cantora e compositora e, segundo ela mesma, passou dos 30 anos. Felipe, conhecido como Craca, passou dos 40 anos e é músico, compositor, produtor, professor, artista audiovisual e DJ.
Os dois se conheceram quando foram convidados para participar de um projeto chamado Baião de Spokens, em 2015, que, segundo a página do Facebook, consiste em trabalho “litero-musical que mescla performances poéticas com experimentações sonoras, musicais e visuais, incorporando elementos de intervenção urbana”. Lá, a futura dupla foi apresentada pelo poeta Caco Pontes.
Entre improvisações, os dois tiveram uma boa sintonia e decidiram fazer mais trabalhos juntos – em resumo: os dois deram ‘match’ artístico. Daí nasceu o projeto Dispositivo Tralha. Esse nome, como explica Craca, vem de toda tralha necessária para fazer o show: aparelhos e pessoas que fazem a experiência acontecer.
As experimentações ao vivo em festas de coletivos, viradas culturais, entre outros eventos, resultaram no álbum “Craca, Dani Nega e o Dispositivo Tralha”, lançado em 2016 e elogiado por público e crítica. O disco de 11 faixas, que uniu grooves étnicos, hip hop e letras políticas à performances visuais com uso de tecnologias de sincronismo entre som e imagem, foi considerado “o melhor disco do ano” na categoria música eletrônica pela 28° edição do Prêmio da Música Brasileira de 2017. Há alguns dias, a dupla conquistou o Prêmio Profissionais da Música na categoria artistas eletrônicos.
“No meu entendimento, esse prêmio serve para revelar a relevância deste projeto. Eu considero que nossa música não é exatamente fácil de ouvir. É bastante fora do comum e fora da lógica de mercado. Assim, significa que o próprio mercado está se redesenhando e buscando novos nortes, o que é fundamental nos dias de hoje.”, disse a dupla.
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“O Desmanche” mescla músicas latino-americana, árabe, eletroacústica e eletrônica tradicional. Pontos de umbanda e de candomblé, beats, groove, rimas, berimbau e suingue estão presentes também. É um álbum forte em discursos políticos de Dani Nega e no ritmo de Craca.
As participações de Clarianas, Graça Cunha, Juçara Marçal, Luedji, Nanny Soul, Roberta Estrela D’Alva e Sandra-X dão temperos especiais ao trabalho de sonoridade peculiar.
Futuro
Segundo a dupla, os planos para o futuro estão concentrados na construção deste novo show. A intenção é que ele seja forte musical, visual e politicamente falando, além de ser uma plataforma de conexão com outros artistas e outros grupos de atuação cultural.
“O desejo é crescer musicalmente, saber levar esse crescimento para o palco e circular com esse trabalho”, afirmam.
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O show relativo ao lançamento do disco acontece em 5 de maio, no Sesc Pompeia. A banda conta com Priscila Briganti na bateria, Gisah Silva na percussão, Elô Paixão como backing vocal e Gil Mokoi Igarussu no trombone e flauta. Para abrilhantar ainda mais a noite, Ilu Obá de Mim, Roberta Estrela D’Alva, Clarianas e Luedji Luna participarão da celebração.