Entrevista: Pedro Borges / Entrevistado: Guilherme Anacleto
Guilherme Anacleto, jovem negro, idealizou o vídeo “Freedom”, uma releitura da música lançada por Beyoncé, em parceria de Kendrick Lamar. O vídeo foi publicado no dia 24 de Novembro, quinta-feira, durante a semana da Consciência Negra.
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A letra da música fala sobre liberdade e o conceito do vídeo gira em torno disso também, da liberdade que nós, negros, precisamos e lutamos para atingir todos os dias. A ideia é expor as violências diárias sofridas por negras e negros.
Como foi o processo de filmagem e edição?
As gravações aconteceram num sábado e foi tudo feito num clima bastante aconchegante. As emoções vieram à tona já que, cada vez que chegava uma pessoa pra gravar, as histórias e os relatos de racismos vinham.
Teve muita emoção e a energia estava incrível. Me senti fortalecido e parte de algo maior enquanto eu via a dor e o pesar nos olhos de cada um antes e durante a gravação. Abracei um por um dos meus convidados após a gravação de cada um deles e esse abraço representou mais do que um agradecimento, representou uma mão estendida e uma troca pra que ambos pudessem se sentir entendidos e acolhidos na luta contra o racismo.
Qual a importância de negras e negros denunciarem as violências que sofrem durante a vida?
Eu sinto que muitas pessoas não têm conhecimento da gravidade que algumas palavras e expressões têm para o povo negro. Muitos se surpreendem, por exemplo, quando descobrem que “denegrir” é um termo pejorativo e não deve ser usado. Minha motivação veio da intenção de que esse vídeo acendesse uma luz no coração e na mente das pessoas no intuito de fazê-las aceitar que o racismo ainda existe sim e que, só assim, aceitando sua existência, poderemos combatê-lo.
Qual a importância de uma maior e melhor representatividade preta no audiovisual?
O negro tem menos espaço, em diversas funções. Então a ideia é trazer pra dentro de todo e qualquer lugar de mídia, uma maior representatividade do negro, pois o exemplo deve ser instalado pra que venham mais e mais pessoas.
Quando eu era pequeno eu não via muitos negros com papéis de importância social na TV, por exemplo, e como eu queria ser “famoso” desde pequeno, não me via com muitas chances, mas hoje, os tempos estão mudando e há muito mais negros em diversas situações na TV. Eles servem como incentivo para que o espaço seja dividido mais democraticamente.
Hoje temos personagens de escravos interpretados por negros mas também temos top models, donos de empresas, pessoas de visibilidade e em ascensão social, o que reflete diretamente no olhar crítico da sociedade em geral.
Quais os objetivos que você pretende atingir com o vídeo?
Cada vez que uma pessoa vir esse vídeo e se sentir desconfortável por usar qualquer uma daquelas expressões, meu trabalho terá surtido efeito. Cada vez que uma pessoa for educada com o conteúdo do vídeo, o racismo terá perdido um pouco mais a sua força. Cada vez que alguém conseguir compreender minimamente como é sofrer racismo, mesmo que não sinta na pele, haverá um racista em potencial a menos no mundo.
O mundo muda com a nossa palavra, mas muda muito mais com a nossa atitude e essa desconstrução do ser humano precisa ser um trabalho diário. Além disso, também pretendo que o meu canal consiga crescer. Não pretendo parar com esse tipo de publicação, pelo contrário, quero atingir as pessoas através da minha arte.