PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Jovem negra vence concurso nacional de fotografias etnográficas

Nascida e criada na periferia de Santo Amaro, no Recife, Uenni, aos 26 anos, se tornou a primeira mulher negra a conquistar o primeiro lugar no Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas, promovido pelo Iphan, que busca valorizar e promover as culturas populares brasileiras
A fotógrafa premiada Uenni.

A fotógrafa premiada Uenni.

— Ernesto de Carvalho

18 de janeiro de 2025

A fotógrafa Wenny Mirielle Batista Misael, conhecida artisticamente como Uenni, conquistou o primeiro lugar na 2ª edição do Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas, na categoria Série Fotográfica, com a obra “Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada de Pernambuco”.

Autodidata desde os 15 anos e parte ativa da comunidade religiosa retratada, Uenni apresenta em seu trabalho uma visão íntima e respeitosa de um dos rituais mais emblemáticos do terreiro Ilé Asé Orìsanlá Tàlàbí, popularmente conhecido como Terreiro Axé Talabi, localizado no bairro de Paratibe.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

O projeto, composto por registros realizados ao longo de dois anos consecutivos, retrata com sensibilidade a profundidade do Canjerê de Preto Velho, um ritual que celebra a sabedoria ancestral e a força dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada.

As imagens capturam momentos carregados de simbolismo: pés descalços tocando o chão de barro, velas iluminando o altar e a ialorixá Mãe Lú entoando cânticos que ecoam tradições ancestrais. Na descrição da série, Uenni define o Canjerê como um “encontro com o sagrado enraizado nas terras pernambucanas”.

O reconhecimento de Uenni no prêmio é ainda mais significativo, considerando a dimensão nacional do concurso, promovido pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Ministério da Cultura do Governo Federal.

O prêmio, dividido em duas categorias — Fotografia Individual e Série Fotográfica —, atraiu mais de 400 inscrições apenas na categoria em que Uenni concorreu, premiando os três primeiros colocados em cada categoria com valores de R$ 15 mil, R$ 12 mil e R$ 8 mil, respectivamente, além de seis menções honrosas.

“Eu nunca imaginei que fosse sequer receber uma menção honrosa, considerando a dimensão nacional do prêmio. Não tenho diploma que comprove que sou fotógrafa, nem os melhores equipamentos do mundo. Muito menos a possibilidade de viver fotografando o que gosto, que é terreiro. Mas tenho a fé, a espiritualidade e o desejo de continuar me movimentando sem passar a perna em ninguém.”, revela Uenni, que começou a ganhar dinheiro com a fotografia a partir dos 19 anos.

Patrimônio Vivo de Pernambuco

O terreiro Ilé Asé Orìsanlá Tàlàbí tem um histórico de reconhecimento cultural, sendo declarado Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco em 2023 e Patrimônio Histórico e Cultural de Origem Africana e Afro-Indígena Brasileira do Município de Paulista em 2021.

Uma das fotografias que compõem a série “Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada de Pernambuco”. (Foto: Uenni)

A relação de Uenni com o terreiro é profunda e direta, conferindo à sua obra um olhar autêntico e visceral. “Sou imensamente grata ao Terreiro Axé Talabi por tudo, especialmente pela autorização para o uso das imagens. Mesmo sendo fotógrafa, isso não me concede o direito de divulgar esses registros sem a devida autorização. Não posso, e nem quero, reproduzir as mesmas práticas colonizadoras da branquitude”, declara.

Os Pretos Velhos, centrais na Jurema, são invocados no Canjerê através de orações, cânticos e pontos riscados, compondo uma verdadeira sinfonia de fé e resistência. O trabalho de Mãe Lú, como guardiã dos saberes e das práticas, também é evidenciado pela lente de Uenni, que celebra a força e o protagonismo das mulheres nas lideranças religiosas.

“Ser reconhecida por este prêmio, um dos mais importantes no campo dos registros etnográficos no Brasil, é uma honra. O Canjerê dos Pretos Velhos é um símbolo da espiritualidade, resistência e memória que marcam a Jurema Sagrada em Pernambuco”, completa ela.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

  • A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

Leia mais

PUBLICIDADE

Destaques

Cotidiano