Hilda dos Reis Dias, mais conhecida como Mãe Hilda Jitolu, deixou um legado inestimável para a cultura afro-brasileira e a luta antirracista. Nesta segunda-feira (6), completa-se 102 anos do nascimento da fundadora do terreiro Ilê Axé Jitolu e matriarca do Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do Brasil.
Nascida em 6 de janeiro de 1923, em Salvador, Mãe Hilda assumiu um papel de destaque na religiosidade e na militância. Apesar de resistir inicialmente à vida religiosa, foi iniciada no candomblé aos 19 anos, tornando-se uma referência espiritual e comunitária.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
A partir da década de 1970, ela abraçou o projeto do Ilê Aiyê, liderado por seus filhos, para incentivar a valorização da cultura negra e enfrentar a repressão da ditadura militar.
Fé e educação como pilares de transformação
Sua liderança espiritual e comunitária foi fundamental para a criação do Ilê Aiyê, que surgiu como uma resposta à exclusão racial nos blocos carnavalescos da época.
O Ilê Aiyê não apenas abriu espaço para a participação negra no Carnaval de Salvador, o bloco afro, fundado em 1974, também revolucionou a festividade e se tornou um símbolo de resistência negra, desafiando preconceitos e promovendo a autoestima da população afrodescendente.
Além disso, sua atuação foi marcada pela educação e pelo combate ao racismo. Por meio do Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu, fundado em sua homenagem, seus ensinamentos continuam vivos, promovendo a valorização das raízes africanas e o empoderamento das mulheres negras.
Homenagens e legado
Em reconhecimento à sua contribuição, diversas homenagens foram realizadas nos últimos anos. Em 2018, o Itaú Cultural promoveu a Ocupação Ilê Aiyê, destacando a trajetória de Mãe Hilda e sua importância para a cultura brasileira.
Além disso, a biografia “Mãe da Liberdade: A Trajetória da Ialorixá Hilda Jitolu” foi lançada, resgatando seu papel político e espiritual na sociedade.
Sua neta Valéria Lima, autora do livro, destaca que Mãe Hilda praticava o feminismo negro antes mesmo do conceito se consolidar. Ela enxergava o antirracismo como uma missão e participou de momentos históricos, como a peregrinação à Serra da Barriga, em Alagoas, onde liderou rituais religiosos em homenagem a Zumbi dos Palmares.
Mãe Hilda faleceu em 2009, mas sua influência persiste. Sua casa, sua fé e suas palavras continuam a ecoar como pilares de resistência e inspiração para a comunidade negra no Brasil e no mundo.