O ator João Acaiabe morreu vítima de complicações causadas pela Covid-19 nesta quarta-feira (31) em São Paulo. Ele tinha 76 anos e testou positivo para o coronavírus 15 dias antes.
Segundo informações do G1, Acaiabe estava internado no Hospital Santa Maggiori, na Mooca; Ele foi entubado e faleceu após sofrer duas paradas cardíacas. O ator contou em uma entrevista, no ano passado, que foi diagnosticado com insuficiência renal e aguardava um transplante de rim.
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Pouco antes de a capital paulista começar a vacinar contra a Covid-19 os idosos da faixa etária de Acaiabe, ele comemorou nas redes sociais. Mas testou positivo no mesmo dia que a imunização começou a ocorrer na cidade. Familiares informaram que o sepultamento será feito na cidade de Espírito Santo do Pinhal, no interior paulista, onde o ator nasceu.
Trajetória
Em 50 anos de carreira como ator, Acaiabe fez da profissão um campo de luta antirracista e de debates das questões raciais inspirando centenas de outros jovens negros a trilharem o mesmo caminho.
Único aluno negro no curso universitário da EAD (Escola de Artes Dramáticas) da USP (Universidade de São Paulo), na década de 1960, o jovem trazia nas veias o amor e o dom para o teatro.
O ator foi um dos primeiros a erguer a voz contra a recorrência de personagens ligados ao crime, a serviços domésticos ou ao período de escravidão para atores e atrizes negros e negras.
Na televisão, estrelou em várias novelas como o remake de “Chiquititas”, interpretando o Chefe Chico, entre 2013 e 2015. No “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, deu vida ao carismático Tio Barnabé, entre 2001 e 2006.
No cinema, Acaiabe participou de pelo menos 23 filmes como “Eles Não Usam Black-tie”, de 1981. No teatro, o ator também teve uma longa trajetória de transgressão e vanguarda. Esteve presente em peças polêmicas como “Missa Leiga”, “Jesus Homem”, “Pedro Pedreiro” e “Barrela”, durante o período da ditadura militar.
Já aos 76 anos, o veterano e premiado ator continuava a se reinventar a cada dia buscando caminhos para levar cultura e conhecimento para as pessoas. Foram vigorosas e cativantes suas apresentações contando histórias e lendas africanas e brasileiras, a exemplo dos griôs da África (sábios que preservam a cultura e a tradição de um povo pela oralidade).