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Artistas recifenses comemoram reconhecimento cultural do Bregafunk

Para além de uma data no calendário municipal, artistas querem mais incentivo e oportunidades; reconhecido como patrimônio cultural, movimento, que já sofreu forte discriminação policial, é um dos mais populares do Nordeste 

Texto: Victor Lacerda I Edição: Lenne Ferreira I Imagem: Reprodução/YouTube

Movimento brega é reconhecido como patrimônio imaterial do Recife

Movimento brega é reconhecido como patrimônio imaterial do Recife

5 de julho de 2021

Do estilo romântico, como nos sons embalados por Reginaldo Rossi, aos números expressivos do “passinho”, que ganhou as redes sociais mundo afora, o brega se adapta e segue como um dos principais símbolos da cultura popular de Pernambuco. Sempre na ponta da língua ou do pé dos pernambucanos, o movimento foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife na última semana e vem gerando expectativas positivas para representantes da classe artística. Para além de um dia no calendário municipal, artistas buscam mais oportunidades.

O Projeto de Lei, de número 01/2021, é de autoria do vereador Marco Aurélio Filho (PRTB) e foi aprovado pela Câmara Municipal do Recife no último dia 1º de junho. Um mês depois, foi sancionado pelo atual prefeito João Campos (PSB), que, em sua campanha eleitoral, recebeu apoio de famosos locais e se comprometeu a dar atenção especial à classe com promessas como a criação do Polo Brega e inserção de dançarinos jovens em atividades da estão.  Segundo nota da gestão municipal, o reconhecimento nasce da necessidade de valorizar a expressão, incentivando artistas, dançarinos, empresários e toda a cadeia produtiva que atua direta ou indiretamente no ciclo cultural e econômico do movimento. 

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Em ascensão na cena musical pernambucana, a cantora Rayssa Dias – um dos primeiros nomes do brega funk cantado por mulheres – afirma estar feliz com a ação, mas ressalta que houve demora para tal reconhecimento. “Por muito tempo, nós, que compomos o movimento, fomos marginalizados. Através de desdobramentos do brega passando por gerações, nós fomos os responsáveis pela nossa própria visibilidade e isso é muito importante. Esse reconhecimento marca o resultado de anos de luta que, agora, resultaram em um respeito local. Tendo o respaldo de onde nós viemos, a possibilidade de impulsionamento é muito maior”, declara em conversa com a Alma Preta Jornalismo

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Para o autor do PL, o reconhecimento ainda viabiliza novas narrativas de vida para jovens de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social. “O marco principal do Brega é a chance de capacitar e tirar jovens da situação de vulnerabilidade social. Como patrimônio imaterial vocês terão outras oportunidades”, explicou o parlamentar em coletiva.  O ato solene da sanção do PL reuniu, além do prefeito e do autor da proposta, o presidente da Câmara Municipal, Romerinho Jatobá, e representantes do movimento brega, como Estilo Bregoso, Diego Zica, Tiago Gravações, Palas, Elvis, Neiff, Valquíria Santos, Michelle Melo, Sheldon, Dany Myler, Vitória Kelly, Eliabe e Alexandre do Brega Bregoso. 

Apesar do reconhecimento, em comunidades de regiões periféricas, os jovens já enfretaram violentas abordagens policiais, como ocorrido com um adolescente da Zona Norte do Recife, que perdeu a visão em uma operação da PM durante um encontro de passinho, com ficou conhecido. “A gente parou de organizar encontros porque sempre eles chegavam acabando com tudo. A própria comunidade tem preconceito e chama a polícia pra nós”, comenta Pablo*, que prefere não ser identificado. De acordo com ele, o preconceito ainda é muito grande. “Para muita gente, nós somos marginais”, desabafa. Para produtores, artistas e diversos componentes da cadeia, o BregaFunk representa garantia de renda e receber o reconhecimento da gestão municipal pode ajudar a conquistar políticas públicas que beneficiem o movimento.  

“Agora, a sensação que tenho é como se uma mãe tivesse reconhecendo um filho e isso vai impactar em vários âmbitos e não só aqui na capital. Apoiar o brega é apoiar os trabalhadores da periferia e isso gera desenvolvimento na nossa relação com produção, na execução de eventos, de um maior número de artistas do movimento integrando festivais maiores. Antes, muitas pessoas ouviam o estilo, mas não encontravam os artistas que o representam nestes espaços. Daremos continuidade, com mais força, resistência, alegria e a possibilidade de transformar vidas através da música”, finaliza Rayssa Dias.

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Segundo Eliabe Carlos, natural do o Alto José Bonifácio, Zona Norte do Recife e idealizador da página ‘Brega Bregoso’, com mais de 1 mihão de seguidores nas redes sociais, a transformação do olhar sobre o movimento ainda é recente. “Há sete ou oito anos atrás, dizer que gostar de brega era motivo para ser associado à alguém que não entendia de cultura e as pessoas mandavam ‘escutar algo que prestasse’. Isso mudou muito em relação à esse olhar que as pessoas tinham. Sem contar com a repressão que muitos grupos sofriam e os eventos, como os encontros de passinho, que eram negligenciados por serem associados à crimes e ambientes de tráfico. Antes da lei, já sentia essa mudança”, pontua. 

Sobre os possíveis impactos gerados pelo título, o pedido é que o movimento esteja em constante fortalecimento, segundo Eliabe. “A gente espera ver o brega no carnaval e que o apoio com os profissionais seja contínuo. Aguardamos ações que só façam fortalecer o movimento, que agora tem uma voz e mais representatividade no cenário cultural local. A internet nós já conquistamos, a mídia também, agora estamos querendo reconhecimento político para termos alguém no poder por nós”, declara. 

Questionada pela Alma Preta Jornalismo sobre quais são as próximas ações efetivas que irão dialogar com as necessidades do movimento, a assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura do Recife, até o fechamento da publicação, não apresentou retorno.

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