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Museu atua na reconstrução da imagem positiva dos antepassados negros

10 de setembro de 2018

Museu Afro Brasil funciona desde 2004 em São Paulo. O acervo conta com mais de 7 mil peças que abrangem aspectos da arte, da religião afro-brasileira, do catolicismo popular, do trabalho, da escravidão, das festas populares, entre outros

Texto / Thalyta Martins
Imagem / Acervo Museu Afro Brasil

O Museu Afro Brasil foi fundado em 2004 a partir da coleção particular do Diretor Curador Emanoel Araujo, que apresentou uma proposta museológica à então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Aprovada, foram utilizados recursos advindos do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, e da Petrobrás para consolidação das obras no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, de 11 mil metros quadrados, dentro do Parque Ibirapuera.

Em 2009, o Museu passou a ser uma instituição pública do Governo do Estado de São Paulo, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, administrado pela Associação Museu Afro Brasil, uma Organização Social de Cultura, sem fins lucrativos, responsável pela manutenção, infraestrutura e acervo.

O objetivo, como explica Diretor Curador, Emanoel Araujo, em texto publicado no site da instituição, era criar um Museu que pudesse registrar, preservar e argumentar a partir do olhar e da experiência do negro a formação da identidade brasileira.

“O Museu Afro Brasil tem, pois, como missão precípua a desconstrução de estereótipos, de imagens deturpadas e de expressões ambíguas sobre personagens e fatos históricos relativos ao negro, que fazem pairar sobre eles obscuras lendas que um imaginário perverso ainda hoje inspira, e que agem silenciosamente sobre nossas cabeças, como uma guilhotina, prestes a entrar em ação a cada vez que se vislumbra alguma conquista que represente mudança ou o reconhecimento da verdadeira contribuição do negro à cultura brasileira.”, diz.

Ele acrescenta que o museu pretendia juntar História, Memória, Cultura e Contemporaneidade, em um só discurso, para narrar uma heróica saga africana, desde antes da escravidão até os nossos dias, incluindo todas as contribuições possíveis: os legados, participações, revoltas, gritos e sussurros que tiveram lugar no Brasil e no circuito das sociedades afro-atlânticas. 

“Um Museu que reflita uma herança na qual, como num espelho, o negro possa se reconhecer, reforçando a autoestima de uma população excluída e com a identidade estilhaçada, e que busca na reconstrução da autoimagem a força para vencer os obstáculos à sua inclusão numa sociedade cujos fundamentos seus ancestrais nos legaram.”, ressalta.

Além das exposições, o Museu Afro Brasil abriga também o Teatro Ruth de Souza, que recebeu esse nome em homenagem à atriz considerada sacerdotisa do teatro brasileiro. Nele, grupos de dança, artistas da música brasileira e internacional, artistas, intelectuais e políticos apresentam-se para um público de até 150 pessoas.

Outro espaço é a Biblioteca Carolina Maria de Jesus, que possui cerca de 10.000 itens, incluindo livros, revistas e outros tipos de periódicos; também teses, posters e material multimídia, com uma coleção especializada em escravidão, tráfico de escravos, abolição da escravatura, da América Latina, Caribe e Estados Unidos. Anualmente recebe cerca de 1.200 visitantes.

Tendo como missão promover reconhecimento, preservação e valorização do patrimônio cultural brasileiro, africano e afro-brasileiro, e a visão de ser instituição de referência em ações museais, unindo arte e contemporaneidade, mas também memória e história, ao longo dos anos, o Museu cumpre o papel ao revelar a produção de artistas brasileiros e internacionais, desde o século XV.

Acervo

De acordo com a assessoria de imprensa, o acervo do museu conta com mais de 7 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos, desenhos, aquarelas, mobiliário, obras têxteis, plumárias, cestarias, cerâmicas e peças etnológicas, que abrangem aspectos da arte, da religião afro-brasileira, do catolicismo popular, do trabalho, da escravidão, das festas populares, registrando assim, a trajetória histórica, artística e as importantes influências africanas e indígenas na construção da sociedade brasileira. Obras dos povos: Iorubá, Fon, Bini, Baule, Iaure, Senufo, Attie, Bamana, Dogon, Landuma, Bijagó, Chokwe, Baluba, Bakongo, Suku, Makonde, entre outros, podem ser vistas na instituição.

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(Imagem: Nelson Kon)

Exposições

A exposição de longa duração tem o objetivo de contar outra história brasileira. A mostra visa desconstruir o imaginário criado sobre a população negra baseado na inferioridade criada no decorrer da história e ressignificá-lo, ao transformar em trajetória de prestígio e baseada na igualdade e no pertencimento, reafirmando o respeito pelo povo negro.

O patrimônio atualmente está dividido em seis núcleos: África: Diversidade e Permanência, Trabalho e Escravidão, As Religiões Afro-Brasileiras, O Sagrado e o Profano, História e Memória e Artes Plásticas: a Mão Afro Brasileira. 

A mostra “Um Deoscóredes – 100 anos do Alapini Deoscóredes Maximiliano dos Santos” está em cartaz na programação do museu até 30 de setembro. Ela foi desenvolvida em homenagem ao centenário de nascimento de Mestre Didi (1917-2013), Alapini do Ilê Asipa e filho de Mãe Senhora (1890-1967), iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. O acervo é formado por esculturas do artista feitas com materiais como búzios, sementes, couro, nervuras e folhas de palmeira.

“Os Africanos – O olhar europeu da fotografia contemporânea”, expõe acervo formado pelas obras dos fotógrafos Hans Silvester (Alemanha), Isabel Muñoz (Espanha), Alfred Weidinger (Áustria) e Manuel Correia (Portugal), que registraram o cotidiano de povos e manifestações no continente africano. O público pode visitar até o 30 de setembro também.

A exposição “África Contemporânea” conta com pinturas, esculturas, instalações, desenhos e colagens de artistas de países como Moçambique, Benin, Senegal, Angola e Gana, tais como Dominique Zinkpè, Aston, Soly Cissé, Yonamine, Gérard Quenun, Owusu-Ankomah, Oswald, Celestino Mudaulane, Edwige Aplogan, Francisco Vidal e Cyprien Tokoudagba. As obras expostas foram mecanismos encontrados por eles para exposição de suas próprias feridas e acumulações. Ela estará no Museu até 30 de setembro.

“África e a Volta dos Espíritos”, que segue exposta até o dia 30 de setembro também, é uma mostra com acervo formado por esculturas, máscaras, asens e moedas produzidas em cobre, madeira, tecido, miçangas e fibra vegetal dos povos africanos Guro, Fon, Senufo, Iorubá, entre outras etnias.

Por fim, a exposição “Isso é coisa de Preto: 130 anos da Abolição da Escravidão” relembra os 130 anos da abolição da escravidão no Brasil, no qual o talento, a competência e a resistência da população negra nos séculos XIX e XX são retratados por meio de pinturas, fotografias, litografias, esculturas e desenhos. O público pode ver os trabalhos até 30 de setembro.

Visitas

No ano de 2017, 162.690 pessoas visitaram o Museu Afro Brasil. Desses, foram 25.482 alunos de escolas públicas e 19.486 alunos de escolas privadas, de acordo com a assessoria de imprensa da Instituição. 

Até o dia 31 de agosto deste ano, 97.704 visitaram o espaço. Desses, 12.208 foram visitas de alunos de escolas públicas e 12.164 alunos de escolas privadas.

As visitas ao museu pode ser feitas de terça-feira a sexta-feira, das 10hs às 17h30, mediante pagamento de R$ 6,00 a inteira, e R$ 3,00 a meia. Aos sábados, o Museu funciona das 10hs às 14hs e a entrada é gratuita.

Os seguintes grupos também têm gratuidade garantida na entrada: pessoas maiores de 60 anos, mediante a apresentação do documento de identidade; crianças até os 10 anos de idade, mediante a apresentação do documento de identidade; pessoas com deficiência e o respectivo acompanhante; professores da rede pública de ensino (municipal, estadual e federal), mediante a apresentação do documento de identidade e holerite; alunos de escolas públicas do ensino fundamental e médio, mediante a apresentação de documento comprobatório; associados do ICOM, mediante a apresentação da carteira da organização e do documento de identidade; guias de turismo, mediante apresentação de documento comprobatório; empregados das Organizações Sociais gestoras de museus e programas culturais do Estado de São Paulo, mediante a apresentação da carteira funcional; servidores públicos da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, mediante a apresentação da carteira funcional; policiais militares, civis, técnico-científicos e seus familiares, mediante a apresentação do último holerite, acompanhado de documento de identidade; e portadores do “Passaporte dos Museus” (válido para 1 visita) que utilizarem o mesmo até sua data de vencimento.

Quem quiser agendar visita guiada, deve enviar e-mail para o endereço [email protected]. A marcação deve ser feita com um mês de antecedência, a partir do 1º dia útil de cada mês.

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