Lançado de forma independente, o livro de colorir “Musiqueiras” é inteiramente ilustrado por mulheres negras, sempre com instrumentos musicais em mãos. A obra é um projeto da psicóloga e percussionista Jéssica Tomaz, de 30 anos, junto com o músico e ilustrador João Vaz, de 35. A autora do livro conta que a ideia surgiu de seu trabalho como assistente social atendendo vítimas de situações de violência, a maioria crianças.
“Surgiu da vontade de criação de materiais para que as crianças tivessem atividades para realizar durante o período da pandemia”, conta. Jéssica buscava ilustrações online para levar até as crianças, mas sentia falta de ilustrações de pessoas pretas, principalmente mulheres.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Foto: Divulgação
“Ele me disse pra trazer o que eu tinha de ideia e ele desenharia”, conta a percussionista sobre o início da concretização do livro, ilustrado por seu companheiro, João. “Pensei em personagens diversas, que pautassem também a questão de gênero de uma forma mais lúdica e natural. A gente sutilmente discute questões de gênero e etnico-raciais”, pontua a psicóloga.
A autora construiu personagens inspiradas em suas tias e avós e reitera que o livro retrata a história dela e de muitas outras pessoas que fizeram parte de sua trajetória. Jéssica explica que a família e a rede de cuidado formadas para a criação de pessoas pretas fazem parte da essência de todas as personagens. “Sempre tem pessoas da família que fazem parte da criação de crianças pretas, em especial na periferia e que colaboram com o nosso desenvolvimento”, detalha.
Foto: Divulgação
Elza Soares, Clementina de Jesus e Ivone Lara seriam as escolhas de Jéssica caso pudesse ilustrar artistas pretas que também colaboraram e inspiraram seu trabalho. “Não são pessoas que a gente poderia encontrar em qualquer outro tempo ou lugar. São exemplos de força, superação, resistência e enfrentamento”, conta.
Desafios do mercado editorial
“Produzir um livro de forma independente é uma questão complicada. Foi um pouco difícil entender o processo das coisas, acreditar que eu poderia produzir um livro ou algo do tipo”, desabafa a autora sobre os receios antes do lançamento do livro, que começou a ser comercializado em outubro de 2020.
O público alvo, as crianças, receberam a obra de braços abertos e as queixas a respeito das ilustrações, segundo a autora, foram muito pontuais. “Os meninos perguntavam porque só tinha menina para pintar”, relembra.
O fortalecimento da autoestima foi um processo inesperado, mas que também fez parte do lançamento do “Musiqueiras”. “É difícil de acreditar que você consegue, sabe? Sentia que falta repertório da minha parte”, relata a autora, acrescentando a importância do suporte que recebeu do companheiro João, ilustrador e também autor do livro de colorir.
Foto: Acervo Pessoal/Jéssica Tomaz
Mesmo com as dificuldades, a produção do “Musiqueiras” não deve parar tão cedo. “Ideia a gente tem de monte, todo dia”, brinca a autora. Para os próximos volumes, a ideia é trazer mais personagens e novos instrumentos, que fazem parte da cultura afro-brasileira. “A gente quer ampliar os espaços de discussão e os temas que a gente aborda”, conclui.