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Paulinho da Viola: “A música brasileira resistiu por conta dos negros”

23 de agosto de 2019

Aos 76 anos, o compositor fala sobre o samba no Brasil

Texto / Lucas Veloso | Edição e imagem / Pedro Borges

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“Não sou eu quem me navega / Quem me navega é o mar / Não sou eu quem me navega / Quem me navega é o mar / É ele quem me carrega/ Como nem fosse levar / É ele quem me carrega / Como nem fosse levar”.

Os versos acima foram escritos por Paulo César Batista de Faria, mais conhecido como Paulinho da Viola. A música “Timoneiro” é a mais executada dele no Spotify. Foram mais de seis milhões de reproduções.

Cantor, compositor e violonista brasileiro, Paulinho nasceu em Botafogo, bairro tradicional da zona sul do Rio de Janeiro, em novembro de 1942. Hoje ele tem 76 anos.

Vestido com paletó vermelho, os cabelos brancos e sorrisos entre as frases, o músico falou ao Alma Preta sobre a história da população negra no Brasil e o samba.

“O samba é importante em todos os aspectos para o nosso povo, para o negro. Isso no Brasil e no mundo. Quando fui ao japão em 1986, fui recebido por um escola de samba e no ano passado eu tive a honra de uma escola me fazer uma homenagem”, relembra.

O fato citado pelo músico é o carnaval de Asakusa, evento anual que acontece há mais de três décadas em Tóquio, no Japão. Fora do Brasil, é o maior desfile de escolas de samba. Chega a reunir 500 mil espectadores e 5 mil foliões. No ano passado, uma das escolas, a Barbaros compôs o enredo baseado na trajetória dele e acabou campeã.

Paulinho acredita na influência direta da população negra para o sucesso do samba. “O estilo, que a gente conhece, saiu do recôncavo baiano e foi para o Río de Janeiro, influenciou e foi influenciado por outras correntes da música”, explica. “O estilo conseguiu se impor e revelou um universo que só o povo negro do Brasil podia revelar”, completa a análise.

Para ele, o ritmo e a melodias foram elementos importantes para levar o samba ao patamar de reconhecimento na identidade brasileira. “O povo negro, que resistiu e sofreu tanto, pôde deixar ao mundo a força da cultura”, define.

“Quando se pensou que a música americana ia dominar o mercado. Por exemplo, a música francesa e italiana sofreram com a globalização, mas a música brasileira, onde o negro teve influência, resistiu”, pontuou o sambista.

A história musical de Paulinho começa com seu pai – Benedicto Cesar Ramos de Faria – violonista integrante desde a primeira formação do grupo de choro “Época de Ouro”, considerada a principal banda de choro brasileira. O jovem Paulinho não perdia as oportunidades de acompanhar o pai e desse modo presenciou importantes reuniões musicais, algumas em sua própria casa. Nesses encontros, viu tocar músicos como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Tia Amélia e Canhoto da Paraíba.

Museu Afro Brasil em São Paulo

Crente na importância de registrar a história racial do país, e sendo amigo de Emanoel Araujo, artista plástico baiano e atual diretor do Museu Afro Brasil, Paulinho elogia a iniciativa do espaço em manter e valorizar a produção e história dos afrodescentes no país.

“O Museu é um dos mais importantes do país. No momento que vivemos esse descaso e ataque com a Cultura, uma instituição como essa, desenvolvida por Emanoel é da maior importância à história do nosso povo, de modo geral”, elogia. “O negro saiu da África e foi pra várias regiões. Então, a preservação, o desenvolvimento e a manutenção de um trabalho como esse deve ser valorizado’, emenda.

Inaugurado em 2004, a partir da coleção particular de Emanoel Araujo, o Museu Afro contempla a produção das pessoas negras, desde o século XVIII até os dias de hoje. Desde 2009, o Museu Afro Brasil, é uma instituição pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

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