Um acervo raro de 216 peças, incluindo instrumentos musicais, indumentárias, estatuetas, insígnias e outros objetos sacralizados, pode ser tombado como patrimônio cultural brasileiro neste ano pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Os itens, todos de valor histórico e cultural, foram roubados durante o maior ataque na história do Brasil a religiões de matriz africana. O episódio, que ficou conhecido como “Quebra de Xangô”, ocorreu em cerca de 150 terreiros em Maceió e cidades vizinhas, durante a madrugada do dia 2 de fevereiro de 1912.
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Naquele dia, de acordo com informações do governo do Estado de Alagoas, um grupo que se intitulava Liga dos Republicanos Combatentes promoveu terror com invasões, vandalismo, espancamentos, prisões e ameaças aos praticantes do candomblé, umbanda e outros cultos, além de roubarem objetos sagrados.
As ações resultaram na morte da yalorixá Tia Marcelina, uma das figuras mais importantes das religiões de matriz africana em Alagoas. Também causaram o fechamento de diversos terreiros e a dispersão de ialorixás e babalorixás para outros estados, além do fim das expressões públicas das religiões.
Aqueles que permaneceram no estado continuaram a prática dos cultos em segredo, sob uma intensa repressão. Em 2012, o governo de Alagoas emitiu um pedido oficial de desculpas pelo episódio.
Após sobreviver aos ataques, o conjunto de objetos ficou exposto no Museu da Sociedade Perseverança até 1950. Por esse motivo, a coleção de objetos ganhou o nome de Perseverança.
Depois disso, os itens foram transferidos para o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), onde permanecem até hoje. O primeiro inventário das peças foi feito apenas em 1985.
A partir do momento em que a coleção Perseverança for tombada pelo Iphan como patrimônio cultural brasileiro, o órgão será responsável pela preservação, conservação e estudo da historiografia desses bens. Outras medidas também devem ser tomadas para difundir o episódio de invisibilidade.