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Rua no Pelourinho pode receber o nome de Alaíde do Feijão

Audiência pública irá discutir a alteração do nome em homenagem à dona de um dos restaurantes mais conhecidos de Salvador, que morreu no início do ano em decorrência da Covid-19

Foto: Mila Cordeiro/A Tarde

Foto: Foto: Mila Cordeiro/A Tarde

29 de novembro de 2022

O nome da Rua das Laranjeiras, localizada no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, pode estar com os dias contados. Isso porque um projeto de lei, já sancionado, prevê a alteração do nome da rua para Alaíde do Feijão, cozinheira baiana, militante do movimento negro e proprietária de um dos restaurantes mais conhecidos da capital baiana. Alaíde faleceu no início deste ano vítima da Covid-19 aos 73 anos.

No entanto, o que parece ser uma simples troca de nome tem gerado polêmicas por grupos contrários à alteração. Segundo o Ministério Público da Bahia (MP-BA), por meio do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Nudephac), uma audiência pública será realizada nesta quarta-feira (30) para discutir a mudança.

A audiência contará com a participação de autoridades do poder Legislativo de Salvador, da prefeitura, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na Bahia (Iphan) e entidades da sociedade civil.

A rua das Laranjeiras leva essa denominação desde 1760 e está localizada em área tombada pelo Iphan. O projeto de lei nº 40/22, de autoria do vereador Luiz Carlos Suíca (PT), foi aprovado em maio deste ano e teve como objetivo homenagear Alaíde Conceição, mais conhecida como Alaíde do Feijão, empresária e uma das importantes referências do movimento negro e feminista da Bahia.

Apesar do projeto já ter sido sancionado pela prefeitura de Salvador, a placa com o nome de Alaíde ainda não foi instalada. Nas redes sociais, o edil solicitou a imediata instalação da placa.

“Um projeto nosso foi aprovado e já sancionado, mas a placa ainda não foi colocada. Precisamos que a prefeitura de Salvador e o Ipac instalem a placa na Rua Alaíde do Feijão. A comunidade negra aguarda ansiosa essa homenagem de relevância social, cultural e política da cozinheira, considerada um símbolo da resistência antirracista e feminista na Bahia”, escreveu Suíca.

Para a neta de Alaíde, a empreendedora Tamires Santos, a mudança também se trata de uma reparação histórica. “A Rua das Laranjeiras remete a uma família escravocrata situada em Salvador, na cidade mais negra do Brasil, e eu acho que tem que haver uma reparação histórica, por isso a rua Alaíde do Feijão tem que existir”, comenta a empreendedora.

Quem foi Alaíde do Feijão?

Articuladora social, cozinheira e empresária, Alaíde Conceição é considerada um símbolo do movimento negro e de mulheres da Bahia. Foi no seu tradicional restaurante, no bairro do Pelourinho, que Alaíde conseguiu criar as três filhas.

alaide do feijaoftlucasrosario 3Alaíde do Feijão | Foto: Lucas Rosário

Filha de mãe cozinheira, Alaíde trabalhava com a mãe e vendia feijoada, mocotó e rabanada. Impulsionada pela paixão culinária, em 1993, ela abriu o seu primeiro restaurante na Ladeira da Ordem Terceira do São Francisco, centro histórico de Salvador. Foi só após 22 anos que Alaíde instalou o famoso restaurante na Rua das Laranjeiras, local que hoje faz referência ao centro culinário.

Leia também: ESPECIAL | Como suas ancestrais, empreendedoras negras driblam dificuldades e criam as próprias oportunidades

Religiosa, Alaíde tinha uma relação ancestral com a culinária. À Alma Preta Jornalismo, a neta de Alaíde, Tamires Santos, conta que o restaurante da avó ia além de servir alimento, era também um espaço de quilombo e afeto.

“O espaço do restaurante de minha avó sempre foi muito além do que comercializar comida. O restaurante da minha avó é um quilombo. Ali se discutiu e se discute até hoje pautas políticas, de questões sociais, raciais”, destaca Tamires.

Para além do feijão, o restaurante de Alaíde também surgiu como um dos principais pontos de articulação do movimento negro. Foi no estabelecimento que surgiu o movimento “Eu Quero Ela”, que incentivou o maior número de candidaturas negras da história à Prefeitura de Salvador. O restaurante também abriga o evento gastronômico e cultural “Quitanda do Saber”, realizado anualmente no mês de março em homenagem ao mês das mulheres e que arrecada recursos para projetos sociais.

O dia de terça-feira é sagrado no restaurante de Alaíde. Além de receber figuras políticas e integrantes do movimento negro, o espaço também já contou com a presença de intelectuais e artistas negros baianos como o professor e comunicador Jorge Portugal, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Lázaro Ramos, Vovô do Ilê entre outros.

A neta de Alaíde, Tamires Santos, também destaca que o restaurante era um ponto de afeto e acolhimento, especialmente das pessoas em situação de vulnerabilidade. “Ali, as pessoas chegavam e não saiam sem comer. Minha avó nunca deixou ninguém desamparado e sem um prato de comida. As pessoas consumiam mas quem não tinha o dinheiro não saia de lá com fome”, comenta Tamires.

Em março do ano passado, Alaíde, que tinha 73 anos, testou positivo para a covid-19 e ficou 12 dias internada. Ela recebeu alta médica no dia 26 de março. No entanto, em janeiro deste ano Alaíde faleceu devido a uma parada cardiorrespiratória em decorrência das sequelas da covid-19.

Segundo Tamires Santos, neta de Alaíde, a homenagem à Alaíde representa o legado da avó para a população negra baiana.

“A família agradece a esse movimento coletivo e ficamos gratos por essa ação e iniciativa em prol da troca do nome para Alaíde do Feijão. É um ato que a gente tem muita gratidão. Minha avó sempre nos ensinou que a nossa luta não é individual, é coletiva. Após o falecimento dela, mesmo em vida, a gente tem visto isso”, finaliza.

Leia também: Empreendedorismo feminino: como está o setor de negócios para as mulheres negras?

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