Uma aparência impecável, presença firme e uma voz potente. Essas são uma das inúmeras características que definem a “inimitável” Sister Rosetta: a pioneira e madrinha do Rock’n Roll, ritmo que é comemorado mundialmente nesta terça-feira (13). Nascida em um lar gospel, a figura de Rosetta Atkins Tharpe foge à rebeldia impulsiva do rock contemporâneo. Foi em uma igreja de Cotton Plant, em Arkansas, que a cantora gospel deu início ao ritmo que viria revolucionar o seu jeito de fazer música.
Aos seis anos de idade, teve o seu primeiro contato com a guitarra, instrumento que seria o símbolo da sua identidade anos mais tarde. Era início dos anos 1920 quando Rosetta chegou em Chicago e ficou fascinada com o embalo do blues e jazz, ritmos que adotou e apresentou aos irmãos de uma igreja na Filadélfia.
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“Era como se Deus estivesse nela e ela estivesse conversando com ele, não como humano”, disse uma das frequentadoras da igreja a um documentário sobre Sister Rosetta.
Naquela época, Rosetta já começava a fazer história, sendo um das poucas mulheres negras a tocar guitarra nos Estados Unidos do século XX, onde a segregação racial impedia a ascensão, existência e qualquer forma de manifestação da população negra. Mas Sister Rosetta foi além e expandiu a sua arte.
Após terminar um casamento abusivo com um pastor evangélico, Rosetta foi para Nova York, onde se apresentou no Cotton Club: lugar que mudou o seu repertório e a fez cantar músicas consideradas “mundanas” aos ouvidos cristãos. Apesar das críticas, ela fez sucesso e, novamente, ultrapassou as barreiras impostas pela branquitude: em 1938 assinou com a Decca Records e se tornou a primeira cantora gospel a assinar com uma grande gravadora. Aos 25 anos de idade, Sister Rosetta foi considerada como uma das artistas mais populares da época.
Uma das suas canções de sucesso, “Strange Things Happening Everyday”, lançada no final da Segunda Guerra, refletia o sentimento de esperança e liberdade para os americanos. Porém, Sister Rosetta era uma mulher negra que vivia nos Estados Unidos da segregação, que também a fazia vítima do racismo. Há relatos de que ela foi a primeira pessoa negra que teve o próprio ônibus, assim, evitava a insubmissão que os racistas lhe impunham.
A rebeldia rock’n roll de Sister Rosetta era fervorosa. Não importava qual era a música que embalava a sua guitarra. As suas apresentações eram como uma grande congregação capaz de transformar o maior dos ateus em um devoto cristão.
Ser uma mulher negra, musicista e cantora era revolucionário para o povo preto e antiquado para a branquitude racista. Sister Rosetta também rompeu outras barreiras sociais ao se separar de dois maridos em uma época em que ser mulher divorciada não era visto com bons olhos. Rumores também apontam que ela era bissexual, chegando a ter um relacionamento com a cantora e colega de palcos Marie Knight.
Seu terceiro e último casamento foi com o empresário Rusell Morrison, com quem ficou casada por 22 anos. Inclusive, a cerimônia deles foi considerada como um dos maiores eventos do showbusiness da época. O casamento aconteceu em 1951 no extinto estádio “Griffith Stadium”, em Washington, e contou com a presença de 25 mil pessoas. A cerimônia se transformou no disco “The Wedding Ceremony of Sister Rosetta Tharpe (A cerimônia de casamento de Sister Rosetta Tharpe, em tradução livre)”.
Influência
Assim como Elvis Presley, B.B. King e Johnny Cash, Bob Dylan, um dos maiores nomes do rock e da música folk, foi um dos artistas que bebeu da “água sagrada” de Sister Rosetta.
Em uma entrevista para uma rádio, chegou a rasgar elogios para a cantora. “A irmã Rosetta Tharpe era qualquer coisa menos comum e simples. Ela era uma mulher grande, bonita e divina, para não mencionar sublime e esplêndida. Ela era uma poderosa força da natureza: uma guitarrista e cantora evangelista”.
O vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant, também gravou uma música em homenagem à artista: “Sister Rosetta Goes Before Us”.
Morte
A saúde de Sister Rosetta começou a se deteriorar em 1968, quando a mãe dela, Katie Bell, morreu. Sua mãe, que acompanhou os seus altos e baixos durante os seus 53 anos, foi a sua maior referência de uma mulher de fé. Com essa perda, Sister Rosetta ficou depressiva e descobriu um diabetes, que levou a amputação de uma perna. A cantora morreu em 1973, aos 58 anos, após sofrer um segundo derrame.
Ela foi enterrada em um túmulo sem identificação em um cemitério na Filadélfia. Foi só em 2008 que ela teve uma lápide, que foi paga com fundos arrecadados de um show beneficente.
Mesmo com todo o sucesso em vida, a contribuição de Sister Rosetta para a música só foi oficialmente reconhecida 45 anos depois da sua morte, em 2018, quando o nome dela foi incluído no Hall da Fama do Rock & Roll.
Desde 2008, o Governo da Filadélfia considera o dia 11 de janeiro como o dia da Sister Rosetta Tharpe.
Em sua última apresentação gravada, um show na Dinamarca em 1970, Sister Rosetta deixou registrada a sua devoção à religião, que sempre foi sinônimo de sua personalidade. Como uma canção de despedida, na música gospel “Take My Hand Precious Lord”, Rosetta diz: “Escute o meu choro, escute o meu chamado. Segure a minha mão para que eu não caia. Segure minha mão, precioso Deus, me leve para casa” (Hear my cry, hear my call/Hold my hand/Lest I fall/Take my hand precious Lord, lead me home).
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