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‘São cultos completamente diferentes, mas que se ligam hoje’, diz líder religioso sobre Dia de São Jorge e de Ogum

Pesquisador e líder religioso explica que entidades possuem origens distintas, da tradição da igreja católica e das religiões de matriz africana
Fieis participam da missa na Igreja de São Jorge durante as celebrações do dia de São Jorge, no bairro Quintino, no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 2025.

Fieis participam da missa na Igreja de São Jorge durante as celebrações do dia de São Jorge, no bairro Quintino, no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 2025.

— Pablo Porciuncula/AFP

23 de abril de 2025

As tradições culturais e a fé popular se encontram no dia 23 de abril, data em que é celebrado o Dia de São Jorge, pela Igreja Católica, e de Ogum, nas religiões de matriz africana, devido ao sincretismo religioso.

O Dia de São Jorge é feriado em diferentes cidades brasileiras, entre elas o Rio de Janeiro e municípios que carregam o nome do santo, como São Jorge de Ilhéus, na Bahia; São Jorge d’Oeste, São Jorge do Ivaí e São Jorge do Patrocínio, no Paraná; e São Jorge, no Rio Grande do Sul.

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No senso comum São Jorge e Ogum, orixá cultuado nas religiões de matriz africana, seriam a mesma entidade. Apesar das semelhanças marcadas pela devoção e pela religiosidade popular, o santo e o orixá possuem origens distintas e características próprias.

Na tradição católica, São Jorge é um santo originário da Capadócia, conhecido como o “santo guerreiro”, símbolo de coragem e fé. Já Ogum, na mitologia iorubá, é uma divindade africana associada à guerra, ao ferro e à tecnologia. Considerado o vencedor de demandas, Ogum é responsável pela criação das ferramentas e armas, sendo um dos orixás do panteão Iorubá.

Em entrevista à Alma Preta, o pesquisador e líder religioso Gabriel Henrique de Jesus explica as diferenças e a relação entre eles.

“A grande diferença pra gente é essa, um é africano e o outro vem da Capadócia, mas eles vão se ligar pelo sistema. Jorge peregrinava, caminhava e lutava, assim como Ogum, que também era um peregrino, que lutou,  venceu batalhas e guerras. Então tem essa simbiose dos dois, mas ainda assim são divindades diferentes, de religiões diferentes, que têm cultos completamente diferentes, mas que nesse dia eles vão se ligar”, afirma.

As celebrações também compartilham semelhanças marcadas pelo sincretismo religioso. É comum ver velas vermelhas ou azuis acesas diante das imagens de São Jorge, missas celebradas em sua homenagem e nas religiões de matriz africana a tradicional feijoada acompanhada por rodas de samba, que consagram o culto ao orixá Ogum.

FIeis celebram o dia de São Jorge, na igreja católica que carrega o nome do santo, no bairro Quintino, no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 2025. Foto: Pablo Porciuncula/AFP

Estratégia de preservação dos cultos de matriz africana 

O pesquisador também destaca o sincretismo religioso como uma estratégia histórica adotada para proteger e preservar os cultos de matriz africana no Brasil. Embora hoje essas religiões não dependam mais desse recurso para existir, o ritual permanece vivo, sustentado pela força da fé e da tradição. 

Durante o período da escravidão, africanos trazidos ao Brasil associavam seus orixás a figuras católicas, como forma de manter sua devoção e cultura viva.

“A importância se dá pela fé popular, celebrar Jorge e Ogum hoje juntos nos dá um acesso que possivelmente sozinhos nós não teríamos, nós não conseguiríamos celebrar Ogum em praça pública se não fosse essa estratégia sincrética dos negros e negras antigos. É a fé popular das pessoas”, destaca.

Gabriel também destaca a importância da data para as celebrações das religiões de matriz africana e para a afirmação da liberdade religiosa do povo brasileiro, que se identifica com a simbologia de força e resistência para enfrentar a vida.

“Elas dão força para as pessoas, as pessoas vão se nutrir de fé, de fé para lutar, de fé para batalhar, de fé para crescer, de fé para melhorar e elas se sentem apoiadas pelo santo católico, pela divindade ou pelos dois juntos”, complementa.

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