Texto: Jair dos Santos para o Bocada Forte / Foto: Fabricio Mengel Edição de Imagem: Pedro Borges
Com instrumental feito pelo produtor Nave, artista do Rio de Janeiro divulga seu rap enraizado
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Direto do terreiro em que exerce sua fé, Thiago Elniño manda “Diáspora”, seu mais novo videoclipe. O Bocada Forte trocou uma ideia com o MC. ElNinõ falou sobre seu envolvimento com a umbanda,religião de matriz africana. Assista ao clipe e confira a entrevista.
Bocada Forte: Seu clipe, além de mostrar ancestralidade e religiosidade, pode ser encarado como uma resposta a intolerância religiosa que domina o país e, principalmente, o Congresso Nacional?
Thiago Elniño: Total, o primeiro processo que penso é sempre os caras que estão perto de mim, do cotidiano mesmo, amigos, parentes,colegas de trabalho, as comunidades que circulo como educador e tal, faço música para essa galera dentro daqui que o Bnegão fala de “fazer sua micro parte para uma micro coisa mude”. Dentro dessas relações, eu percebo e sinto um reflexo muito forte dessa construção que faz principalmente o preto não se reconhecer na liberdade do outro de se aproximar de suas raízes, mais que uma resposta eu quero sugerir a pergunta de “oque que esse cara está cantando”. Se a própria música servir de resposta ótimo, se não servir, eu confio no trabalho de vários outros artistas e educadores que vão ter ali um aberturazinha um pouco maior depois desse primeiro contato.
Bocada Forte: Qual foi o exato momento em que teve ideia de fazer essa letra? A ideia do clipe já estava em sua mente no momento da composição?
Thiago Elniño: Mano, há bastante tempo eu já venho trabalhando com o Nave, nesse meio tempo eu fiquei doente e quase morri com um problema que veio do nada e não ia embora, aí já sentia que devia ir a um terreiro, mas o medo, novamente essa construção covarde que faz a gente sentir medo do que é nosso, fazia eu não ir. Fui e chegando lá, um guia chamado Seu Chico me falou que tudo que eu tinha passado na verdade era para fazer eu ir parar ali e encontrar a minha identidade e a raiz das coisas que eu cantava. Depois disso, eu fui descobrindo um monte de coisas, tudo que ele me disse fez muito sentido e a letra veio daí, ai um pouco por revolta de toda essa construção que tinha me impedido, e impede tantos outros irmãos de estarem ali antes, escrevi no beat que o Nave já tinha me mandado e naturalmente foi vindo junto a ideia de gravar o clipe nesse mesmo terreiro que frequento.
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Bocada Forte: Seu próximo disco segue a mesma temática? Qual a razão do nome?
Thiago Elniño: O próximo trabalho é um EP, vai se chamar “Filhos De Um Deus Que Dança” e segue a mesma temática sim, segue com produção do Nave e vai misturar raps e pontos cantados.
Bocada Forte: Acredita que – apesar de tanto modismo – a luta contra o racismo está voltando a fazer parte das rimas do nosso rap?
Thiago ElNiño: Mano, acredito que nunca deixaram de fazer, mas a visibilidade dos MCs que trabalham esses temas ou não cresceu ou caiu muito, com raras exceções. Acredito que esse só é um momento onde uma parcela ainda pequena de pessoas tem retomado a busca por esses temas e reencontrando esses artistas e novos que surgiram. Vejo também uma influência dessa molecada do Tombamento nisso, apesar de estarem chegando muito pela estética, muitos deles vão e já estão se aprofundando nos temas ligados a nossa luta e tenho fé torna-la ainda mais forte.