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Em protesto, moradores da Vila da Barca desafiam diretor da Companhia de Saneamento a beber a água que sai da torneira

Ato foi uma resposta a Antonio Crisóstomo, que afirmou que a água que chega às casas segue controle de qualidade e que ingere água da torneira.
Diretor recusou a beber a água que sai das torneiras da Vila da Barca.

Diretor recusou a beber a água que sai das torneiras da Vila da Barca.

— Fernando Assunção/Alma Preta

8 de abril de 2025

Moradores da Vila da Barca, em Belém, desafiaram o diretor da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), Antonio Crisóstomo, a beber a água que sai das torneiras da comunidade. O ato teve como objetivo denunciar a qualidade da água na Vila da Barca e expor as condições de saneamento vividas pela população.

O protesto ocorreu durante uma audiência pública, realizada na noite de segunda-feira (7) na comunidade, em resposta a uma fala de Crisóstomo, diretor de Operações da Cosanpa. Ele afirmou que a água que chega às casas segue controle de qualidade e que ingere água da torneira.

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Uma moradora descreveu ao diretor que a água que sai das torneiras era “amarela” e que as condições teriam piorado depois da chegada das obras da Nova Doca, aposta do governo do estado para a COP 30, que ocorre em novembro de 2025, em Belém. 

Antonio Crisóstomo negou a relação entre a qualidade da água e as obras e afirmou que o controle de qualidade da água da Vila da Barca segue todos os padrões, com fiscalização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém (Semma).

Um outro morador, então, questionou se Crisóstomo ingere a água que sai das torneiras e o diretor respondeu: “Com certeza”.

Em resposta, dois moradores encheram uma garrafa PET com água da torneira e desafiaram o diretor a beber, mas ele recusou.

“As nossas crianças bebem essa água diariamente”, protestou outra moradora.

Um dos moradores que participou da ação foi o cabeleireiro Nildo Alencar, de 31 anos. Nildo mora na área de palafitas, considerada uma das zonas mais precárias da Vila da Barca. Segundo ele, a área é uma das que mais sofre com a má qualidade da água e com a falta de abastecimento.

“Passei 20 dias sem água em casa e quando ela chegou, veio assim, barrenta e amarela. Não dá para tomar banho, nem lavar roupa, nem fazer comida”, disse.

O morador ainda declarou que o ato teve como objetivo apresentar ao diretor da Cosanpa as péssimas condições da água da Vila da Barca, que foram negadas pelo diretor. ”Ele falou que toma a água, então eu desafiei ele e botei na mesa para ele tomar”.

“Belém se prepara para receber a COP 30 e esquece as periferias”, diz faixa erguida pela comunidade. Foto: Fernando Assunção/Alma Preta

Audiência pública terminou sem acordo

A audiência pública ocorreu na Fundação Curro Velho, que faz parte da Vila da Barca, com participação de órgãos do estado e do município envolvidos na Obra de Estação Elevatória, além de centenas de moradores.

Antes chamado de Sistema de Esgotamento Sanitário da Doca, o projeto teve seu nome alterado após repercussão de reportagem publicada em primeira mão pela Alma Preta.

Na audiência pública, a engenheira sanitarista da Secretaria de Estado de Obras Públicas do Pará (Seop), Lia Pereira, órgão responsável pela obra, apresentou o que será o novo projeto. 

“O que está sendo construído é uma estação elevatória, onde eu consigo transportar o esgoto de um ponto mais baixo para um ponto mais alto através de um bombeamento, até chegar à estação de tratamento, que será implantada na Avenida Arthur Bernardes”.

Ela explicou que a estação elevatória servirá para transporte de esgoto, mas que o esgoto não ficará na Vila da Barca e que a obra contemplará a comunidade.

“Nenhum esgoto vai ficar na Vila da Barca, muito pelo contrário, inclusive, o esgoto que é tratado nas habitações que já foram construídas e as que vão ser construídas futuramente vai ser lançado nessa elevatória para a posterior eliminação na estação de tratamento”, disse Pereira.

Porém, os moradores continuaram rejeitando a proposta e a audiência pública terminou sem acordo. Eles reclamam que a comunidade não foi consultada antes de receber a obra, que já sofrem os impactos e que não foram apresentados estudos de impacto ambiental.

“Nós já estamos com a nossa advogada e vamos acionar a justiça com mandado de segurança para paralisar a obra. A nossa primeira demanda vai ser essa”, afirmou Inêz Medeiros, professora e liderança comunitária da Vila da Barca.

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  • Fernando Assunção

    Atua como repórter no Alma Preta Jornalismo e escreve sobre meio ambiente, cultura, violações a direitos humanos e comunidades tradicionais. Já atua em redações jornalísticas há mais de três anos e integrou a comunicação de festivais como Psica, Exú e Afromap.

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