Com a chegada do período eleitoral, as discussões de representatividade política se acentuam. Nesse sentido, a população negra encontra desafios para romper com a narrativa sistêmica, que intensifica a repetição de problemas antigos, como a corrupção, que parece não ter solução. Dessa forma, para buscar seus direitos, as pessoas negras precisam ir além da representatividade nos espaços de decisão.
Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, o cientista político Carlos Jacomes ressalta que a representação política não é resumida ao processo eleitoral e aos espaços de tomada de decisões. Ele acredita que a partir de grupos organizados da comunidade negra, “existe uma possibilidade de rediscutir o modelo de democracia que vivemos hoje, a partir do que esses grupos sofrem cotidianamente. Esses grupos, ao levantar o debate que envolve o racismo institucional, podem aos poucos contribuir para melhorar as relações na atual democracia e contribuir para a diminuição do sofrimento da população preta”.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Apesar disso, a representatividade política ainda é um ponto central para a busca de direitos para a população negra. De acordo com o Congresso em Foco, na atual legislatura do Congresso Nacional, de 513 parlamentares na Câmara, 124 são negros/as, e 13 são negros/as de um total de 81 no Senado. Além disso, em outros cargos públicos, a ausência de diversidade se perpetua.
Para Jacomes, sem a representatividade política, a possibilidade de a discussão ser aberta é muito menor, tendo em vista que, apesar de ser possível através de estudos, é muito mais difícil um branco saber pontuar os problemas que uma pessoa negra sofre com a inacessibilidade de direitos básicos no dia a dia. Dessa forma, ele aponta que é importante possibilitar o aumento da participação política preta em espaços de decisão.
Um dos pontos importantes para o engajamento da sociedade, principalmente entre as pessoas negras, nos espaços de discussão é a veiculação de informações palpáveis e consumíveis sobre política, que atuam como contranarrativas do atual sistema excludente. Por meio de discussões acessíveis e com atores diversificados, é possível ampliar a conquista de direitos pelas minorias.
Para o analista, é um bom caminho usar as instituições, a exemplo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como válvula de disseminação de conhecimento.
“É com o aval das instituições que no passado pecaram em olhar para os menorizados (do ponto de vista das políticas de inclusão social), que aumentaremos a conscientização política da população preta. Além disso, o investimento em educação voltada ao debate racial também se mostra uma boa alternativa para diminuir desigualdades”, afirma Carlos Jacomes.
A respeito dos problemas sistêmicos, o cientista político acredita que com ajuda da ciência é possível avançar em técnicas para coibir corrupção e demais problemas sistêmicos. É preciso combater um modelo de fazer política que implique em tomada de decisão a partir de troca de favores e promessas que envolvam dinheiro público. Um bom caminho seria a luta pela diminuição de representantes que se colocam no debate somente pela manutenção do poder, sem um projeto de estado bem estruturado em suas propostas.
Nesse mesmo viés, o material produzido a partir de uma pesquisa promovida por uma coalizão de organizações que atuam pela democracia revela que a representatividade política é um dos caminhos para abordar narrativas consolidadas de outras maneiras, com intenção de solucionar temas sistêmicos, como a corrupção.
Leia também: Propostas para a população negra: quem assume esse compromisso?