Em 7 de julho de 1978, durante o regime militar, Milton Barbosa participava da fundação do Movimento Negro Unificado (MNU). Depois de 44 anos, Miltão, como é conhecido, participou do 19° Congresso do mesmo movimento, agora com uma dimensão nacional, com delegações em todos os estados do país.
Ao fim do encontro, o MNU definiu como prioridades para o ano de 2022 a derrota de Bolsonaro e a vitória de Lula na disputa presidencial. Em entrevista para a Alma Preta Jornalismo, o fundador do movimento alertou para o perigo vivido no país, com a presidência da República sob a direção de Jair Bolsonaro (PSL).
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“Nós estamos com a extrema direita no poder, e a extrema direita é barra pesada, porque o Hitler, fascista e nazista, montou toda uma estratégia de morte. É a mesma coisa com o Bolsonaro, que é a extrema direita, que libera armas e aumenta o genocídio da população negra e pobre”, disse.
Para superar esse cenário, ele acredita que a juventude negra terá papel de destaque durante a campanha eleitoral. “A juventude negra será fundamental no embate com a extrema direita. Vamos planejar instâncias importantes na área da educação, na área da comunicação e reestruturar setores importantes para a juventude negra”, explicou Milton Barbosa.
Ao fim do 19° Congresso do MNU, Iêda Leal, atual Coordenadora Nacional, foi reeleita. O grupo de dela conseguiu 133 votos, contra 119 de Marta Almeida, e 31 de Leny Claudino. A coordenadora anunciou que unirá as demais forças do MNU para a Coordenação Nacional, composta por 15 assentos. A expectativa é de que a direção tenha sete cadeiras do grupo de Iêda, apoiado pela tendência interna chamada Segura e Lança; seis cadeiras de Marta Almeida, defendida pelo grupo Aquilombar, Raça e Revolução e o estado de Pernambuco; e duas para Anlu, outra tendência interna do MNU representada por Leny Claudino.
Os participantes do encontro foram os delegados escolhidos nos estados para defender as demandas locais no congresso nacional. Foram eleitos 850 delegados em todo o país, mas por falta de recursos, apenas 325 foram selecionados para ir ao encontro. O número respeitou a proporcionalidade de delegados indicados de cada estado.
A capilaridade e as proporções do Congresso do MNU animaram Milton Barbosa. Ele acredita que o encontro foi importante para fortalecer as conexões entre as diferentes seções do movimento na luta contra o racismo e as desigualdades.
“Esse Congresso definiu ações de rearticulação da luta negra no Brasil, formando uma nova juventude, com uma capacidade organizativa espetacular. Então foi um momento importante de avanço da luta negra, tanto a nível da reestruturação do MNU, quanto para os apontamentos de ação a nível nacional, para as relações com os países da Américas, os EUA, da Europa e África”, pontuou.
No dia 12 de Maio, data de início do Congresso e dia anterior à abolição da escravatura, Milton Barbosa completou 74 anos. Na abertura do encontro, ele foi homenageado com a projeção de uma fotografia. Ele foi o primeiro convidado a se sentar na mesa inicial e inaugurou as falas da atividade. No dia 14, sábado, também recebeu uma declaração de amor pública da companheira, Regina Lúcia dos Santos.
“É gostoso receber esse carinho. Eu fico feliz em ver uma juventude se empenhando para participar do processo, dialogar com os ‘nego véio’ e as ‘nega véia’ presentes. Foi muito interessante e gostoso”, afirmou.