Ainda de acordo com os dados do documento, 44% do eleitorado negro se considera de esquerda. Número significativo dos entrevistados também disse “não ter posição política”
Texto / Pedro Borges
Imagem / Elza Fiúza/ABr
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A pesquisa Afrodescendentes e Política mostra que o eleitorado negro está mais alinhado a posições de esquerda do que de direita. De acordo com o estudo publicado pelo Painel BAP, 44% do eleitorado negro se considera de esquerda e 6% de direita.
Douglas Belchior, fundador da rede de cursinhos populares Uneafro e colunista da Carta Capital, acredita que o campo político onde a comunidade negra deva construir é o da esquerda.
“Não tem sentido, do ponto de vista ideológico e político, que negras e negros se organizem no campo político da direita, por esse campo ser refratário às ideias de justiça e igualdade necessárias para a construção de um país mais justo, justamente para os mais pobres, trabalhadores, negras e negros”, afirma.
Ainda segundo o material, 30% dos entrevistados disseram não ter posição política, 10% se descreveram como de centro-esquerda, 4% de centro-direita e 4% não souberam responder. Ainda entre o público, foram citadas posições políticas como o anarquismo e pan-africanismo.
Para Douglas Belchior, há dificuldade de compreensão sobre o que é direita e esquerda no âmbito geral da sociedade. Por isso, ele não acredita que exista empatia direta e orgânica entre a comunidade negra e o campo da esquerda. A maior vulnerabilidade social faz essa distorção atingir a classe trabalhadora e a comunidade negra com mais veemência.
“Na sociedade como um todo, sobretudo entre os trabalhadores e as classes populares, esses conceitos e identificações são extremamente dispersos e são submetidos à lógica de ataque midiático que as elites hegemônicas sempre empreenderam”, afirma.
Douglas Belchior (Reprodução / Alma Preta)
A pesquisa apresentou também a distribuição etária dessas visões políticas.
A maioria daqueles que se consideram de direita (63,5%) tem entre 25 e 34 anos. As demais faixas etárias foram melhor distribuídas: 27% dos eleitores de direita têm entre 45 e 59, 7,9% entre 35 e 44 anos e 1,6% entre 18 e 24 anos. Vale destacar que nenhum eleitor com mais de 60 anos se descreveu como de direita.
Entre os entrevistados que se consideram como dentro do campo da esquerda há divisão mais balanceada, com 14% entre 18 e 24 anos, 20,8% entre 25 e 34 anos, 26,5% entre 35 e 44, 27,3% entre 45 e 59 anos e 10,6% entre os entrevistados com mais de 60 anos.
Douglas Belchior reitera que a dificuldade na sociedade como um todo para a distinção entre esquerda e direita, e recorda que a propaganda promovida pelos grandes veículos de mídia faz ideais do campo da direita estarem presentes na comunidade negra e na classe trabalhadora. Exemplo disso é a votação histórica de territórios populares em candidatos conservadores.
“Isso não é uma coisa nova. A votação de pobres em candidatos das elites tem sido uma permanência na história do Brasil, porque a dominação se dá não apenas da disputa ideológica, mas sobretudo da disputa material. Os candidatos mais competitivos são aqueles com mais recursos e mais acesso à mídia, logo, com mais recursos para pagar por ela”.
A pesquisa foi feita na cidade de São Paulo e realizada entre 17 e 27 de Novembro de 2017. Foram ouvidos 1.607 eleitores em diferentes regiões da cidade: 9% dos entrevistados moravam no Centro, 16% na Zona Norte, 21% na Leste, 24% na Oeste e 30% na Sul.
O nível de confiança do estudo é de 95%, com a margem de erro de 3%. A pesquisa foi quantitativa e entrevistou pretos e pardos, que segundo o IBGE, compõem o grupo racial negro, com mais de 16 anos de idade.