Os atletas brasileiros conquistaram 21 medalhas em Tóquio, a melhor marca do país em todas as edições dos jogos. Porém, além de vencer os adversários, os esportistas tiveram que superar o racismo e a falta de apoio financeiro.
Dos 302 atletas que representaram o Brasil, 20% não receberam nenhuma das seis modalidades do programa Bolsa-Atleta, com incentivos mensais de R$375 a R$15 mil. Para os esportistas de nível internacional, o valor do piso do auxílio é de R$ 1.850.
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Mesmo entre os que recebem o benefício, o valor é insuficiente para cobrir os treinamentos e as despesas cotidianas, por isso, precisam trabalhar em outras áreas ou conseguir alguma fonte extra de renda em atividade precarizada, por exemplo, como motoristas de aplicativos.
Para participar dos jogos, cerca de 13% dos atletas brasileiros tiveram que fazer “vaquinhas virtuais” com doações de fãs e amigos.
“A situação é bem pior do que se pode imaginar. Primeiro porque a maioria dos atletas que conseguem a bolsa do governo têm direito apenas aos valores mínimos. Outro problema enfrentado é que o dinheiro nem sempre é garantido. Tem atrasos nos pagamentos e isso atrapalha o treinamento e todo o planejamento do atleta”, afirma Paulo Romualdo, treinador e preparador de atletas de alto rendimento há 21 anos.
As 21 medalhas conquistadas em Tóquio foram em 11 modalidades diferentes, sendo sete ouros, seis pratas e oito bronzes. O segundo melhor desempenho brasileiro, tinha sido em 2016, no Rio de Janeiro, com sete ouros, seis pratas e seis bronzes.
O desempenho positivo esconde um problema estrutural do esporte. “As federações e confederações estão tomadas por pessoas com interesses políticos. A prioridade não é mais o esporte e, sim, fazer negócio”, comenta Romualdo, que atualmente é presidente do Instituto AfroAmparo Saúde.
Outro problema é em relação ao racismo institucional, que impede a ascensão de pessoas negras com experiência e qualificação aos cargos de comando e gestão.
“No atletismo brasileiro, a maioria dos atletas de alto rendimento são negros. Porém, entre os treinadores e os dirigentes a maioria é de brancos, mesmo que os negros tenham competência e preparo para o cargo”, pontua Romualdo, que treina atletas para jogos olímpicos desde 2012.
O ministério da Cidadania, responsável pela pasta dos Esportes, informou que o governo federal é o maior patrocinador do esporte olímpico e paralímpico no país, com um investimento anual superior a R$ 750 milhões.
O financiamento para cerca de 7,2 mil atletas se dá por meio da Lei das Loterias, Bolsa Atleta e Lei de Incentivo ao Esporte.
Ainda segundo o Ministério, em 2019, ainda nos primeiros 100 dias de governo, a pasta recompôs o orçamento do programa, que havia sido cortado pela gestão anterior, e dobrou o número de atletas contemplados, passando de 3.058 para 6.200. O ministério também encaminhou ao Congresso Nacional Projeto de Lei 2394/2019, que tem por objetivo modernizar e aperfeiçoar o programa.