O atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), começou aos 24 anos na vida pública. Ligado ao PFL e depois DEM, partidos conservadores, de direita, formados majoritariamente por homens brancos, apresentou-se como aliado dos governos tucanos, que administram São Paulo há 28 anos. Nesta quarta (21), ele, que é pré-candidato ao governo de São Paulo, participou de uma rodada de debates que a Universidade Zumbi dos Palmares está promovendo com os candidatos ao comando do estado.
Há mais de duas décadas na vida pública, alternando três mandatos de deputado e o comando de diferentes secretarias, Rodrigo, que nunca pareceu ter se incomodado em ter pessoas pretas ao seu lado em cargos de comando, tem uma trajetória bem típica da branquitude paulista. Vice-governador de João Doria, Rodrigo tornou-se efetivo no cargo após mudar para o PSDB e ver o titular renunciar para tentar concorrer a presidência da República, o que não se efetivou.
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Na apresentação e nas respostas, o governador foi escorregadio em temas mais sensíveis como segurança e diversidade nos cargos de comando. A proposta do evento era debater quais ações em prol dos negros estarão no programa de governo dos candidatos e Rodrigo não apresentou nenhuma. O candidato parecia mais preocupado em se autoafirmar várias vezes como “nem de esquerda, nem de direita”, além de dizer que não quer mudar a ideologia de ninguém, mas, sim, a realidade de São Paulo, que está nas mãos de seu grupo político há quase três décadas.
O postulante a continuar no Palácio dos Bandeirantes classifica-se como “paulista raiz”, por ter nascido no interior, passado um tempo no campo e migrado para a capital posteriormente. Ele diz ainda que é o “novo governador do Estado, mas não novato” e que não vai servir a padrinhos políticos, até porque sua relação com João Doria (PSDB-SP) azedou, depois que o ex-governador ameaçou não desistir do cargo para concorrer à presidência. Político experiente, Rodrigo fez questão de citar uma frase de Nelson Mandela para a plateia composta por pessoas negras e disparou: “depois de uma montanha, vem outra”, falando dos desafios de ser governador. “O governo deve ser espelho de uma sociedade, se tem uma sociedade diversa precisa ser diverso”, afirmou, sem responder à pergunta sobre quantos secretários negros tem em seu atual governo e nem se terá uma pessoa negra como candidata a vice na sua chapa.
Numa das questões mais importantes para as pessoas negras, a segurança pública, o candidato ao governo de São Paulo disse que o abuso de policiais “tem que ser punido no rigor da lei” e prometeu mais câmeras nos uniformes dos policiais, “para protegê-los e proteger a sociedade”. Hoje, a cada 10 pessoas mortas pela polícia paulista, 8 são negras.
Questionado por Thobias da Vai Vai, presidente de honra da escola de samba paulistana, sobre o anseio da população do Bixiga, bairro da capital, de mudança de nome da estação que está sendo construída no bairro, onde foi encontrado um sítio arqueológico do Quilombo Saracura, Rodrigo fugiu da pergunta e disse “anotei a sugestão do Thobias”. Ao final do evento, a reportagem da Alma Preta Jornalismo insistiu na pergunta e o governador disse que iria consultar o Metrô e dar uma resposta por meio da empresa. A estação faz parte da futura Linha 6 – Laranja, que vai ligar a Brasilândia, na Zona Norte, à Estação São Joaquim, na Liberdade. Inicialmente, a nova estação teria o nome de 14 Bis, porém, a partir dos achados, há uma pressão dos movimentos sociais para que se chame Saracura-Vai Vai e tenha um espaço museológico contemplando a história do povo preto no local.
O debate realizado pela Zumbi dos Palmares contou com perguntas de representantes do Movimento Negro Unificado (MNU), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), Unegro, além de representantes do candomblé. A imprensa não teve espaço para fazer perguntas. As próximas rodadas com os demais candidatos ao governo paulista ainda não possuem data para ocorrer.
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